Pesquisa mostra queda de duas das principais espécies de corais em Abrolhos
Estudo mapeou 150 anos de registros da fauna marinha brasileira para apontar metas de conservação

Duas das mais importantes espécies de corais para construção de recifes em Abrolhos (arquipélago e santuário marinho localizado ao sul do estado da Bahia, no Nordeste brasileiro) tiveram considerável redução nos últimos 40 anos. Consequentemente, houve mudanças na estrutura funcional das comunidades de corais.
“Essas alterações refletem a erosão dos recifes nos últimos 40 anos, impactando a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos que eles oferecem”, explicou a bióloga Dra. Carine Fogliarini ao Correio Sabiá.
Fogliarini é uma das autoras da pesquisa “Revisitando 150 anos de estudos de corais para avaliar mudanças nos registros de espécies, distribuição e estrutura funcional dos corais na Província Brasileira”, publicada em agosto de 2024 na conceituada revista científica “Ocean & Coastal Management”.
A pesquisa é fruto de um dos capítulos do doutorado de Fogliarini, realizado de 2018 a 2022, na Universidade de Santa Maria. Numa busca inédita, ela investigou 150 anos de registros da fauna marinha brasileira. Para isso, foi a museus e bibliotecas para compilar tudo o que havia sido reportado por naturalistas que passaram na costa brasileira.
Esta foi a 1ª vez que uma pesquisa conseguiu reunir informações históricas e comparar com informações modernas de corais.
Ao mesmo tempo que constatou-se a redução das duas principais espécies de corais, observou-se também o aumento dos registros de espécies, decorrente do avanço científico.
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Por que isso importa?
Porque ajuda a entender como os recifes de corais e mais amplamente os ecossistemas marinhos mudaram ao longo do tempo.
Assim, ajuda a melhorar as metas de conservação e restauração, porque permite ver com mais clareza o que foi perdido, o que foi mudado ao longo do tempo e o que pode ser recuperado dessas espécies que tiveram declínio.
Maior complexo recifal do Atlântico Sudoeste, o Banco de Abrolhos, por exemplo, teve “declínio histórico de espécies-chave como o coral-de-fogo (Millepora alcicornis) e o coral-cérebro (Mussismilia braziliensis) que resultou em mudanças na estrutura funcional das comunidades de corais”, disse Fogliarini.
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Próximos passos
Os próximos passos, explica ela, são basicamente 2:
- Continuar o monitoramento existente; e
- Expandir o trabalho para outras regiões, além de Abrolhos.
O objetivo:
- Entender e ajustar as estratégias de conservação de corais.
Com a palavra, a pesquisadora:
“Tentaremos levar esse estudo para outras regiões, para outras áreas. Fizemos uma parte do trabalho focado em Abrolhos, que é para ver as mudanças funcionais nos recifes, através dessas perdas que a gente viu dessas espécies.”
“Para outras regiões, a gente pode aplicar esse mesmo estudo; ver se tiveram mudanças na abundância de corais, usando dados históricos. Então, precisamos dessas informações para cada local. No caso de Abrolhos, a gente tinha essa informação bem clara, através dos relatos naturalistas.”
“Para outros períodos de tempo, conseguimos ir além e fazer essa estimativa. Isso é importante, porque a gente consegue integrar essas informações com ações práticas de restauração de coral.”
“É preciso, na verdade, continuar monitorando os corais de perto para entender as mudanças que eles sofreram ao longo do tempo e as mudanças que estão vindo a acontecer hoje, em função, por exemplo, de mudanças climáticas, que podem estar afetando as comunidades de corais.”
Medida de restauração
Como “medida de restauração”, a pesquisadora afirma que é importante “priorizar as espécies que tiveram declínio na abundância ao longo do tempo e que impactam o funcionamento do Recife, como a Mussismilia braziliensis e a Millepora alcicornis, que são duas “espécies-chave” para o bioma.
“São espécies construtoras que são responsáveis pela formação do recife. Então é necessário priorizar a restauração, principalmente, dessas espécies”, diz.
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