Corais que passaram por evento de branqueamento há 3 anos ainda não se recuperaram

Corais que passaram por evento de branqueamento há 3 anos ainda não se recuperaram
Imagem meramente ilustrativa (não é o Nemo) / 📸 David Clode/Unsplash

Após 3 anos de um significativo evento de branqueamento de corais no Atlântico Sudoeste, cientistas observaram que não houve "nenhum aumento na cobertura desses corais". Ou seja, não houve recuperação. A revista Marine Biology publicou um artigo (veja o paper aqui) sobre o tema na última quinta-feira (18.abr.2024).

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Conduzido pela Rede de Pesquisas Coral Vivo, o artigo científico ("Sem recuperação de corais 3 anos após um grande evento de branqueamento em recifes no refúgio do Atlântico Sudoeste") mostra um cenário preocupante, já que as mudanças climáticas fazem o branqueamento em massa de corais crescer em duração e intensidade.

O que é o branqueamento de corais?

O branqueamento de corais é sinal de doença ou até decomposição. Ocorre quando o coral passa por condições adversas, como o aquecimento da água. Sabe-se que um dos efeitos das mudanças climáticas é o aquecimento da temperatura da água, já que os oceanos absorvem gases de efeito estufa.

Além de causar ampla mortalidade das espécies, o tempo cada vez mais curto entre os eventos de branqueamento dos corais perturba a capacidade de recuperação dos recifes. A pesquisa em questão mostra isso.

(O branqueamento de corais ainda pode ocorrer por outros fatores como, por exemplo, a sobrepesca. Isso porque os excrementos de peixes servem de nutrientes e alimentos para os corais. Sem isso, podem ser levados à falência.)

E por que o branqueamento dos corais importa?

Os corais abrigam cerca de 25% da vida marinha e sustentam a vida oceânica e a pesca, além de gerarem trilhões de dólares em receitas anualmente. A saúde dos corais é essencial para a saúde dos oceanos, que por sua vez é fundamental para a manutenção da temperatura do planeta, tornando-o habitável.

Entenda as descobertas da pesquisa sobre branqueamento de corais

Os recifes únicos do Atlântico Sudoeste são frequentemente considerados refúgios climáticos, porque sofreram menos mortalidade pelo branqueamento, em comparação com os recifes do Indo-Pacífico e das Caraíbas. O problema: sua capacidade de recuperação ainda requer investigação.

Em 2019, uma onda de calor sem precedentes desencadeou o episódio de branqueamento mais grave registado nos recifes do Sudoeste do Atlântico. Por isso, o estudo teve como objetivo:

  • documentar a incidência e mortalidade do branqueamento durante a onda de calor; e
  • avaliar a recuperação dos corais ao longo de 3 anos.

Os cientistas mediram a incidência de branqueamento e monitoraram a cobertura de corais ao fazer levantamentos em 3 recifes do sul da Bahia (costa central do Brasil), antes, durante e após o estresse térmico.

As descobertas mostram que as assembleias de corais foram expostas a uma anomalia térmica de 5 meses, sendo que aproximadamente 70% da cobertura de coral foi branqueada.

  • Glossário: "assembleia" 🟰 reunião de espécies que competem por recursos parecidos num mesmo habitát.

❗️ A mortalidade de algumas espécies de corais (Millepora alcicornis, Mussismilia braziliensis e Mussismilia harttii) excedeu 50%.

Após 3 anos, os corais não apresentaram aumento na cobertura nem ao nível da assembleia nem das espécies. Essa capacidade de recuperação limitada pode indicar o colapso do refúgio e também uma compensação pela resistência.

As características típicas da região, como a elevada turbidez e a predominância de corais maciços, conferem a estes recifes resistência ao branqueamento, mas provavelmente também limitam a sua recuperação.