Oceanos: só 1 a cada 3 brasileiros entende o impacto de suas ações

Oceanos: só 1 a cada 3 brasileiros entende o impacto de suas ações

Só 1 a cada 3 brasileiros entende o impacto direto de suas ações aos oceanos, diz pesquisa

Levantamento ainda mostra desconhecimento sobre a importância do oceano para a vida no planeta
40% dos brasileiros acreditam que suas atitudes não impactam oceanos / ? Martijn Baudoin/Unsplash
40% dos brasileiros acreditam que suas atitudes não impactam oceanos / ? Martijn Baudoin/Unsplash

Apenas 1 a cada 3 brasileiros (34%) entendem que suas ações influenciam diretamente nos oceanos. Outros 24% consideram que impactam de forma indireta e 40% acreditam que suas atitudes não impactam em nada.

Os dados fazem parte da pesquisa inédita “Oceano sem Mistérios: A relação dos brasileiros com o mar”, realizada pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza em parceria com a Unesco e a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Para realizar a pesquisa, foram entrevistadas 2 mil pessoas, homens e mulheres, de 18 a 64 anos, de todas as classes sociais, nas 5 regiões do país. As entrevistas foram realizadas pela Zoom Inteligência em Pesquisas, do dia 5 de março ao dia 12 de abril de 2022. Entre os entrevistados, 62% residem em capitais e 41%, em cidades litorâneas. A margem de erro é de 2,2% para um nível de confiança de 95%.

Veja abaixo alguns pontos do levantamento:

  • 40% da população ainda não associam como suas atitudes podem impactar o oceano;
  • 24% consideram que suas ações geram impactos apenas indiretos;
  • 35% dos brasileiros afirmam que sempre evitam o uso de canudinhos e copos plásticos, enquanto 19% nunca evitam usar plásticos descartáveis.

Conferência dos Oceanos da ONU 2022

Os resultados do estudo estão sendo apresentados na Conferência dos Oceanos da ONU (Organização das Nações Unidas), evento iniciado nesta segunda-feira (27.jun.2022) e que será realizado até sexta-feira (1º.jul) em Lisboa (Portugal).

A conferência debate o desenvolvimento de uma agenda sustentável para os oceanos. Mesmo à distância, o Correio Sabiá fará a cobertura como parte de seu compromisso de divulgar reportagens de Meio Ambiente e Ciência.

O evento é importante, porque, conforme alerta a Segunda Avaliação Global do Oceano, publicada pela ONU em 2021, as pressões provocadas pelas atividades humanas estão:

  • causando elevação do nível do mar
  • acidificação da água
  • perda da capacidade dos mares em absorver carbono
  • destruição de habitáts
  • pesca não-sustentável
  • invasão de espécies exóticas
  • formas variadas de poluição
  • desenvolvimento costeiro desordenado

Organizado em parceria pelos governos de Portugal e Quênia, o evento da ONU pretende ampliar os compromissos entre os países para aumentar a cooperação e o investimento em soluções inovadoras baseadas na ciência, destinadas a iniciar um novo capítulo na ação global pelo bem do oceano.

72% dos entrevistados identificam a poluição, seja por lixo ou esgoto, como o maior problema para a saúde dos oceanos / Foto: Beth Jnr/Unsplash
72% dos entrevistados identificam a poluição, lixo ou esgoto, como o maior problema para a saúde dos oceanos / Foto: Beth Jnr/Unsplash

Outros dados sobre os oceanos, conforme a pesquisa

O levantamento mostrou ainda diversos outros dados e informações sobre o que pensa o brasileiro a respeito dos oceanos. Veja abaixo:

  • 48% dizem priorizar com frequência compras com menor impacto na natureza e no oceano, como produtos com menos embalagens e sem poluentes; 22% dizem que a prática ocorre somente às vezes, e 11%, raramente.
  • 18% dizem que nunca se preocupam em fazer compras de menor impacto à natura e ao oceano;
  • 19% dos entrevistados dizem que nunca evitam o uso de copos plásticos de única utilização; 13% dizem que evitam raramente.

Em relação a este último dado, considerando que 32% (19% + 13%) dos brasileiros não evitam o uso de copos de plástico, há aproximadamente 68 milhões de brasileiros fazendo uso frequente desse tipo de objeto. Se houver uso de 3 unidades de 200ml por semana, são 10,6 bilhões de unidades por ano. Como cada copo pesa em média 1,8g, são 19,1 mil toneladas de copos brasileiros ao ano.

“Cerca de 80% da poluição encontrada no mar vêm do continente. Se fizermos projeções a partir dos dados encontrados, chegamos a resultados preocupantes. “Só de copo plástico. Quanto disso é reciclado? Quanto chega ao oceano? Muito desse lixo produzimos quando estamos fora de casa. Levar junto um copo reutilizável já é um avanço”, declarou no comunicado a diretora-executiva da Fundação Grupo Boticário, Malu Nunes.

Veja mais dados do levantamento:

  • 72% dos entrevistados identificam a poluição, seja por lixo ou esgoto, como o maior problema para a saúde dos oceanos; pesca irregular (16%) e vazamentos de navios (12%) vêm depois;
  • 41% acreditam que a atuação brasileira para preservação do oceano é negativa; 31% consideram a atuação neutra; 28% avaliam de forma positiva;
  • 57% das pessoas acreditam que a melhor forma de atuar em favor da conservação do oceano é pela comunicação, se engajando como apoiador e/ou agente de divulgação;
  • 25% dos respondentes dizem estar dispostos a “colocar a mão na massa” pela mudança;
  • numa escala de 0 a 10, a intenção dos respondentes em mudar hábitos pelo bem do oceano atinge a média de 8,3.

“É muito importante a constatação da disposição da população brasileira em mudar seus hábitos a favor do oceano, especialmente ao considerarmos a extensão da nossa costa e de levarmos em conta que somos um país continental, com muita gente vivendo longe do mar”, disse o coordenador de Ciências da Unesco Brasil, Fábio Eon.

Correio Sabiá lista notícias mais importantes destes dias para você acompanhar / ? macrovector/Freepik
Oceanos abrigam a maior biodiversidade do planeta e são essenciais para regular o clima / ? macrovector/Freepik

Por que os oceanos são tão importantes para a manutenção da vida no planeta?

Os oceanos abrigam a maior biodiversidade do planeta e também é fundamental para a regulação do clima, pois absorve mais de 30% das emissões de dióxido de carbono (CO2) e 90% do excesso de calor gerado pelo aumento das emissões de gases de efeito estufa

“O oceano contribui diretamente com cerca de US$ 1,5 trilhão para a economia mundial, sendo que apenas o setor de alimentos gera em torno de 237 milhões de empregos no mundo”, declarou Ronaldo Christofoletti, professor do Instituto do Mar da Unifesp, copresidente do Grupo Assessor de Comunicação para a Década do Oceano da Unesco e membro da RECN (Rede de Especialistas em Conservação da Natureza).

Christofoletti também declarou que a percepção de que “o oceano começa na nossa casa, mesmo que estejamos a muitos quilômetros de distância do mar” precisa ser “estimulada” já que boa parte das pessoas têm pouco contato com o ambiente marinho.

“Os mares geram alimentos, energia, minerais, fármacos e milhões de empregos ao redor do mundo em diferentes atividades econômicas. São imprescindíveis para o transporte e o comércio internacional, além de importantes para o nosso lazer e bem-estar”, declarou.

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