Trump discursa ao Congresso; saiba o essencial
Suprema Corte dos EUA mantém decisão de instância inferior que obrigava governo a repassar recursos da USAID

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, discursou ao Congresso do país na noite do dia 4 de março de 2025. Deu uma ampla lista de declarações falsas ou sem comprovação, criticou adversários políticos e promoveu elogios a si mesmo. Em seu discurso:
Índice da Reportagem
+- Citou 12 vezes o ex-presidente democrata Joe Biden, culpando-o pela alta dos preços.
- Mencionou nominalmente o Brasil como potencial alvo de tarifas.
- Criticou nações historicamente aliadas dos Estados Unidos.
- Voltou a dizer que vai anexar a Groelândia "de uma forma ou de outra". O território autônomo pertence ao Reino da Dinamarca, membro-fundador da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), aliança militar liderada pelos Estados Unidos e integrada por quase todos os países da Europa. As declarações expansionistas de Trump motivaram uma reportagem aprofundada do Correio Sabiá. Em outro conteúdo, mostramos como é o sistema político da Groelândia.
- Declarou que, em 4 ou 8 anos, ninguém conseguiu fazer mais do que ele em 43 dias de governo.
- Contexto: Com uma série de decretos que estão sendo contestados na Justiça (e até derrubados, como mostrado adiante neste conteúdo), Trump desmanchou estruturas históricas do governo norte-americano e promoveu mudanças de diretrizes do país que eram mantidas tanto por democratas quanto por republicanos (e até por ele mesmo em mandato anterior).
President Trump Addresses Joint Session of Congress, March 4, 2025 https://t.co/KQFEFqTegj
— President Donald J. Trump (@POTUS) March 5, 2025
Trump dá determinação ao secretário de Saúde
No mesmo discurso, que durou cerca de 100 minutos, Trump disse que determinou que o secretário de Saúde Robert Kennedy Jr. (o único Kennedy republicano) investigue o aumento de diagnósticos de autismo nos EUA.
A nomeação de Kennedy para o cargo de secretário de Saúde foi apertada. Quase foi rejeitado. Afinal, o então senador tornou-se crítico da eficácia de vacinas –e não apenas da vacina contra a Covid-19, mas também de todas aquelas cujo tratamento salva milhares de vidas há dezenas de anos, como polio, sarampo e outras.
Indicações mais qualificadas costumam ter votos da oposição. Isso porque entende-se que o presidente do país tem a prerrogativa de escolher seus secretários, mas exige-se que, independentemente da posição política, essas pessoas tenham uma qualificação mínima. Kennedy não teve nenhum voto democrata.
A determinação de Trump para seu secretário de Saúde tem mais um contexto relevante: Kennedy propagou uma teoria falsa e conspiratória –amplamente rejeitada pela comunidade científica– de que as vacinas causariam autismo. Repetindo: isso é falso.
Dólar cai 2,7% em apenas 1 dia
Na terça-feira (4), Trump seguiu com anúncios de tarifas. Dobrou a taxa de produtos chineses para 20%. No entanto, no dia seguinte (5), a Casa Branca informou que as importações de automóveis do Canadá e do México ficarão isentas das tarifas por 1 mês.
Na visão do mercado, os movimentos de Trump estão perdendo a credibilidade, porque passam a ser entendidos como instrumento de barganha. Como resultado, o dólar caiu 2,71% em relação ao real (R$), fechando a R$ 5,76.
Suprema Corte dos EUA determina descongelamento de recursos do USAID
A Suprema Corte dos Estados Unidos determinou na quarta-feira (5.mar.2025) que o governo norte-americano desbloqueie recursos da USAID, a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional). Cerca de US$ 2 bilhões foram bloqueados pelo presidente Donald Trump em seus primeiros dias de governo.
Dessa forma, a Suprema Corte manteve, por 5 votos a 4, a decisão de um tribunal inferior que obrigava que a administração Trump pagasse US$ 2 bilhões em contratos já firmados pela USAID. É uma derrota do governo, que tentava bloquear os repasses.
Para dimensionar a situação: a USAID é uma das principais agências humanitárias do mundo e tem sido parte relevante da política externa dos Estados Unidos. É o que se chama de "soft power", um "poder leve", pelo qual os EUA implementam sua influência no mundo (portanto, seus valores) a partir do financiamento de iniciativas em diversos países.
Com o congelamento promovido por Trump, milhares de projetos financiados pela USAID em dezenas de países foram paralisados ou cancelados. Houve ainda milhares de pessoas demitidas da noite para o dia, por causa da incerteza no repasse dos recursos.
O Correio Sabiá não tinha nenhum projeto em andamento com recursos da USAID, mas já teve.
Em 2024, fomos uma das 6 organizações selecionadas num programa da Internews para dar treinamento a jornalistas e pesquisadores na Amazônia, ensinando-os a construir audiências e endereçar uma solução ao deserto de notícias da região, que deixa milhões de brasileiros sem acesso a informações sobre delitos ambientais.
Os recursos da Internews que permitiram a realização do programa eram da USAID. Na época, o Correio Sabiá informou à sua audiência sobre todas as organizações parceiras, por transparência jornalística. As logos foram estampadas em todos os comunicados.
Atualmente, todas as pessoas da Internews com quem trabalhamos diretamente neste programa foram demitidas e buscam realocação no mercado de trabalho.
Publicamos numa tabela alguns dos resultados do nosso programa de treinamento, que foi chamado de "Um voo na Amazônia".
Pelo sucesso do programa financiado pela USAID, fomos convidados a ir a Brasília para palestrar sobre engajamento de audiência e construção de comunidades num evento em fevereiro de 2025.
E agora?
Ainda não está clara como será a liberação dos recursos e se haverá novas contratações. A rigor, a USAID segue na mira do DOGE (Department of Governamental Efficiency), chefiado pelo bilionário Elon Musk. Portanto, não são esperadas grandes mudanças na forma como o governo enxerga a agência.
No entanto, espera-se que o desbloqueio chegue pelo menos aos projetos financiados pela USAID que estão em andamento. São contratos já firmados e que dependem desses recursos para serem cumpridos, até mesmo para evitar insegurança jurídica.
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