Trump dá '3 ou 4 dias' ao Hamas para responder sobre cessar-fogo em Gaza ou enfrentar 'um final muito triste'
Leia a íntegra do plano de Trump para cessar-fogo em Gaza, saiba a repercussão da comunidade internacional e veja a visão do Correio Sabiá sobre o assunto. Navegue por um menu interativo neste conteúdo.

O fato principal
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou nesta terça-feira (30.set.2025) que o Hamas tem "3 ou 4 dias" para aceitar sua proposta de cessar-fogo na Faixa de Gaza ou enfrentar as consequências.
"O Hamas vai aceitar ou não, e se não aceitar, será um fim muito triste", disse Trump.
Trump deu a declaração em entrevista a jornalistas na saída da Casa Branca, sede do Poder Executivo dos Estados Unidos. Na mesma ocasião, ressaltou que Israel e países árabes concordaram com sua proposta.
"Estamos apenas esperando o Hamas", disse.
Contexto: a proposta de Trump para Gaza, explicada
Trump anunciou sua proposta de cessar-fogo em Gaza ao lado do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, nesta segunda-feira (29.set). Mais abaixo, neste mesmo conteúdo, o plano completo.
Eis alguns pontos principais:
- Interrupção imediata dos bombardeios a partir do início da vigência do cessar-fogo.
- Libertação imediata dos reféns israelenses –vivos (20) e mortos (28).
- Após libertação dos reféns israelenses, Israel também libertaria os reféns palestinos.
- Entrega de todos os armamentos em posse do Hamas. Gaza se transforma numa zona desmilitarizada.
- Criação de um comitê chamado Conselho da Paz para administrar Gaza. O grupo ficaria sob presidência do próprio Trump. O ex-primeiro-ministro do Reino Unido, Tony Blair, seria uma espécie de "diretor-executivo".
- Retirada gradual das Forças de Defesa de Israel do território palestino.
- Reconstrução de Gaza.
Trump declarou que apoiará iniciativas de Israel em bombardear Gaza caso o Hamas não aceite a proposta.





Imagens: Flickr/Official White House
Repercussão
O secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), António Guterres, convocou todas as partes a se comprometerem com o plano de paz apresentado por Trump.
"Agora é crucial que todas as partes se comprometam com um acordo e sua implementação... ele reitera mais uma vez seu apelo por um cessar-fogo imediato e permanente”, disse Farhan Haq, porta-voz de Guterres, em um comunicado.
O Hamas afirmou que revisará o esboço do plano de paz para Gaza.
Em Israel, a maior parte da mídia e dos políticos recebeu o anúncio com satisfação. No entanto, nesta terça-feira (30), o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu deu sinais de que não concorda integralmente com a proposta que Trump anunciou (ao seu lado) na véspera (29). Detalhes mais abaixo.
Líderes do Oriente Médio e de outras partes do mundo manifestaram apoio à proposta.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Catar, Majed al-Ansari, disse que recebeu garantias claras de segurança dos Estados Unidos e um compromisso de Israel de não atacá-lo novamente. (Israel atacou diretamente Doha, capital do Catar, no dia 9 de setembro de 2025. A Casa Branca divulgou um comunicado oficial com garantias de segurança ao Catar no dia 29 de setembro de 2025.)
O governo da Espanha, que tem sido um dos críticos europeus mais veementes da ofensiva israelense em Gaza, acolheu o plano e instou ambos os lados a se comprometerem com o fim da violência.
"A Espanha pede todos os esforços de negociação para pôr fim à guerra e reitera sua exigência de um cessar-fogo permanente, a libertação de todos os reféns e a entrada maciça de ajuda humanitária para pôr fim ao sofrimento que já dura há muito tempo", comunicou o Ministério das Relações Exteriores da Espanha em nota oficial na manhã de terça-feira (30).
A Rússia disse que apoia o plano de Trump.
"A Rússia sempre apoia e acolhe com satisfação quaisquer esforços do presidente Trump para pôr fim a esta tragédia em curso", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, numa coletiva de imprensa diária.
O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, publicou nesta terça-feira (30) no X (antigo Twitter) que saúda o plano de Trump para Gaza:
"Saudamos o anúncio do Presidente Donald J. Trump de um plano abrangente para pôr fim ao conflito em Gaza. Ele oferece um caminho viável para a paz, a segurança e o desenvolvimento sustentáveis e de longo prazo para os povos palestino e israelense, bem como para toda a região da Ásia Ocidental. Esperamos que todos os envolvidos se unam em apoio à iniciativa do Presidente Trump e apoiem este esforço para pôr fim ao conflito e garantir a paz."
O primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, disse que acolhe com satisfação a "iniciativa dos EUA para trazer a paz" ao Oriente Médio:
"Apoio firmemente os esforços para pôr fim aos conflitos, libertar todos os reféns e aumentar urgentemente a ajuda humanitária a Gaza. Todas as partes devem agora unir-se para tornar esta iniciativa realidade, porque precisamos reavivar a esperança de uma solução de dois Estados, um Israel seguro e protegido, ao lado do há muito prometido Estado Palestino, um Estado que este país agora reconhece."
Outro lado
Por outro lado, a ministra do Trabalho e vice-primeira-ministra da Espanha, Yolanda Díaz, foi uma das poucas figuras notáveis a criticar o plano de Trump.
“O plano de Trump e Netanyahu para a Palestina não é um plano de paz; é uma imposição. É um ultimato, disfarçado de acordo, que vem sem garantias e sem prazo para um Estado palestino. (...) Este plano foi elaborado sem a Palestina. Ignora suas instituições e seu povo, e propõe transformar Gaza em um protetorado supervisionado pelos EUA e com Israel ditando o ritmo”, disse em um vídeo publicado no Bluesky.
O governo brasileiro ainda não tinha se manifestado até a publicação deste conteúdo.
Também não mapeamos manifestações de países como China e África do Sul, que seriam relevantes pela dimensão geopolítica e pelo processo movimento por genocídio contra Israel, respectivamente.
Contexto do genocídio em Gaza
O Ministério da Saúde palestino em Gaza informou nesta terça-feira (30.set) num post no Telegram que a campanha militar de Israel já causou 66.097 mortes palestinas e deixou 168.536 feridos desde o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023. Nas 24 horas anteriores ao post, foram registradas 42 mortes e 190 feridos.
Israel teve cerca de 1,2 mil mortes, praticamente todas elas num único ataque do Hamas no dia 7 de outubro de 2023.





Imagens: Flickr/Official White House
Netanyahu muda discurso
O anúncio de Trump foi vago sobre criar um Estado da Palestina, e Netanyahu declarou que não concordou com essa criação.
"De jeito nenhum, e não está escrito no acordo. Uma coisa ficou clara: nos oporemos com veemência a um Estado palestino", afirmou num vídeo publicado no Telegram nesta terça-feira (30).
O plano de paz também envolve a retirada das Forças de Defesa de Israel. Mas Netanyahu disse que o seu exército "permanecerá na maior parte" de Gaza:
"Nós vamos recuperar todos os nossos reféns, vivos e bem, enquanto o Exército permanecerá na maior parte da Faixa de Gaza."
A proposta apresentada pelos EUA foi mal-recebida por parte do governo de Israel. O ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, declarou que o plano de Trump é "um fracasso diplomático estrondoso".
Nossa visão
Como mostram as manifestações de autoridades de diferentes países, o plano de Trump foi amplamente aceito até por partes normalmente antagônicas na comunidade internacional. Países da União Europeia, Rússia, lideranças árabes e Índia mostraram apoio à iniciativa.
O problema é o que está dito claramente pela ministra do Trabalho da Espanha. Trump se coloca no comando da Faixa de Gaza e ressuscita politicamente o ex-premiê britânico Tony Blair, de quem até recentemente se tinha pouca notícia.
"Até pouco tempo", porque Tony Blair virou notícia até no Brasil nas últimas semanas por ter se aliado à Oracle, empresa de tecnologia, como mostrou o Núcleo Jornalismo numa série de reportagens investigativas sobre a influência das big techs.
Tony Blair é um dos principais arquitetos da invasão do Iraque, mostrou diversas vezes ter uma visão simplista do Islã e é acusado de entrelaçar seus interesses comerciais com sua defesa política.
O plano de Trump não define claramente a criação de um Estado da Palestina, essencial para restabelecer a paz na região. A Autoridade Palestina nem sequer participou ativamente das conversas para o plano anunciado, que foi costurado internamente por EUA e Israel, o que causa desconfiança.
As próprias declarações de Netanyahu sobre não apoiar a criação de um Estado da Palestina e sobre manter boa parte de seu exército na Faixa de Gaza também provoca receios sobre os reais objetivos do acordo.
Anteriormente, Trump declarou que pretendia tornar Gaza numa "grande Cancún", cheia de resorts. Um dos principais negócios (e fontes de dinheiro) do presidente norte-americano é o mercado imobiliário.
O plano completo de Trump
Leia o plano completo de Trump para cessar-fogo em Gaza, conforme divulgação da Casa Branca:
- Gaza será uma zona livre de terrorismo, desradicalizada, que não representará uma ameaça aos seus vizinhos.
- Gaza será reconstruída em benefício do povo de Gaza, que já sofreu mais do que o suficiente.
- Se ambos os lados concordarem com esta proposta, a guerra terminará imediatamente. As forças israelenses se retirarão para a linha acordada para se prepararem para a libertação dos reféns. Durante esse período, todas as operações militares, incluindo bombardeios aéreos e de artilharia, serão suspensas, e as linhas de batalha permanecerão congeladas até que sejam reunidas as condições para a retirada completa e gradual.
- Dentro de 72 horas após a aceitação pública deste acordo por Israel, todos os reféns, vivos e mortos, serão devolvidos.
- Assim que todos os reféns forem libertados, Israel libertará 250 prisioneiros condenados à prisão perpétua, além de 1.700 moradores de Gaza que foram detidos após 7 de outubro de 2023, incluindo todas as mulheres e crianças detidas nesse contexto. Para cada refém israelense cujos restos mortais forem libertados, Israel libertará os restos mortais de 15 moradores de Gaza falecidos.
- Assim que todos os reféns forem devolvidos, os membros do Hamas que se comprometerem com a coexistência pacífica e com o desarmamento receberão anistia. Membros do Hamas que desejarem deixar Gaza receberão passagem segura para os países receptores.
- Após a aceitação deste acordo, toda a ajuda humanitária será enviada imediatamente para a Faixa de Gaza. No mínimo, as quantidades de ajuda serão consistentes com o que foi incluído no acordo de 19 de janeiro de 2025 referente à ajuda humanitária, incluindo a reabilitação da infraestrutura (água, eletricidade, esgoto), a reabilitação de hospitais e padarias e a entrada dos equipamentos necessários para remover escombros e abrir estradas.
- A entrada da distribuição e da ajuda humanitária na Faixa de Gaza ocorrerá sem interferência das duas partes, por meio das Nações Unidas e suas agências, da Cruz Vermelha, além de outras instituições internacionais não associadas de forma alguma a nenhuma das partes. A abertura da passagem de Rafah em ambas as direções estará sujeita ao mesmo mecanismo implementado no acordo de 19 de janeiro de 2025.
- Gaza será governada sob a governança transitória temporária de um comitê palestino tecnocrático e apolítico, responsável pela administração cotidiana dos serviços públicos e das municipalidades para a população de Gaza. Esse comitê será composto por palestinos qualificados e especialistas internacionais, com supervisão e supervisão por um novo órgão internacional de transição, o "Conselho da Paz", que será liderado e presidido pelo Presidente Donald J. Trump, com outros membros e chefes de Estado a serem anunciados, incluindo o ex-primeiro-ministro Tony Blair. Esse órgão estabelecerá a estrutura e administrará o financiamento para a reconstrução de Gaza até que a Autoridade Palestina conclua seu programa de reformas, conforme delineado em várias propostas, incluindo o plano de paz do Presidente Trump em 2020 e a proposta saudita-francesa, e possa retomar o controle de Gaza de forma segura e eficaz. Esse órgão recorrerá aos melhores padrões internacionais para criar uma governança moderna e eficiente que sirva à população de Gaza e seja propícia à atração de investimentos.
- Um plano de desenvolvimento econômico de Trump para reconstruir e energizar Gaza será criado por meio da convocação de um painel de especialistas que ajudaram a dar origem a algumas das mais prósperas cidades modernas e milagrosas do Oriente Médio. Muitas propostas de investimento bem pensadas e ideias de desenvolvimento empolgantes foram elaboradas por grupos internacionais bem-intencionados e serão consideradas para sintetizar as estruturas de segurança e governança para atrair e facilitar esses investimentos que criarão empregos, oportunidades e esperança para o futuro de Gaza.
- Uma zona econômica especial será estabelecida com tarifas preferenciais e taxas de acesso a serem negociadas com os países participantes.
- Ninguém será forçado a deixar Gaza, e aqueles que desejarem sair serão livres para fazê-lo e para retornar. Incentivaremos as pessoas a ficar e ofereceremos a elas a oportunidade de construir uma Gaza melhor.
- O Hamas e outras facções concordam em não ter qualquer papel na governança de Gaza, direta, indireta ou de qualquer forma. Toda a infraestrutura militar, terrorista e ofensiva, incluindo túneis e instalações de produção de armas, será destruída e não reconstruída. Haverá um processo de desmilitarização de Gaza sob a supervisão de monitores independentes, que incluirá a desativação permanente de armas por meio de um processo acordado de descomissionamento, apoiado por um programa de recompra e reintegração financiado internacionalmente, todos verificados pelos monitores independentes. A Nova Gaza estará totalmente comprometida com a construção de uma economia próspera e com a coexistência pacífica com seus vizinhos.
- Parceiros regionais fornecerão garantias para assegurar que o Hamas e as facções cumpram suas obrigações e que a Nova Gaza não represente nenhuma ameaça aos seus vizinhos ou ao seu povo.
- Os Estados Unidos trabalharão com parceiros árabes e internacionais para desenvolver uma Força Internacional de Estabilização (ISF) temporária, a ser imediatamente implantada em Gaza. A ISF treinará e prestará apoio às forças policiais palestinas em Gaza, que já foram avaliadas, e consultará a Jordânia e o Egito, que possuem vasta experiência nessa área. Essa força será a solução de segurança interna a longo prazo. A ISF trabalhará com Israel e o Egito para ajudar a proteger as áreas de fronteira, juntamente com as forças policiais palestinas recém-treinadas. É fundamental impedir a entrada de munições em Gaza e facilitar o fluxo rápido e seguro de mercadorias para reconstruir e revitalizar Gaza. Um mecanismo de resolução de conflitos será acordado entre as partes.
- Israel não ocupará nem anexará Gaza. À medida que as Forças de Defesa de Israel (FDI) estabelecem o controle e a estabilidade, as Forças de Defesa de Israel (FDI) se retirarão com base em padrões, marcos e prazos vinculados à desmilitarização, que serão acordados entre as FDI, a ISF os garantidores e os Estados Unidos, com o objetivo de uma Gaza segura que não represente mais uma ameaça a Israel, ao Egito ou aos seus cidadãos. Na prática, as FDI entregarão progressivamente o território de Gaza que ocupam às ISF, de acordo com um acordo firmado com a autoridade de transição, até que sejam completamente retiradas de Gaza, exceto por uma presença no perímetro de segurança que permanecerá até que Gaza esteja devidamente protegida de qualquer ameaça terrorista ressurgente.
- Caso o Hamas adie ou rejeite esta proposta, as medidas acima, incluindo a operação de ajuda humanitária ampliada, prosseguirão nas áreas livres de terrorismo entregues pelas FDI às ISF.
- Um processo de diálogo inter-religioso será estabelecido com base nos valores de tolerância e coexistência pacífica para tentar mudar as mentalidades e narrativas de palestinos e israelenses, enfatizando os benefícios que podem ser derivados da paz.
- À medida que o redesenvolvimento de Gaza avança e o programa de reforma da AP [Autoridade Palestina] é fielmente executado, as condições podem finalmente estar reunidas para um caminho confiável para a autodeterminação e a criação de um Estado palestino, que reconhecemos como a aspiração do povo palestino.
- Os Estados Unidos estabelecerão um diálogo entre Israel e os palestinos para chegar a um acordo sobre um horizonte político para uma coexistência pacífica e próspera.
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Autor

Jornalista e empreendedor. Criador/CEO do Correio Sabiá. Emerging Media Leader (2020) pelo ICFJ. Cobriu a Presidência da República.