Artigo: 'O significado do Monte do Templo em Jerusalém'
Artigo: ‘O significado do Monte do Templo/Nobre Santuário em Jerusalém’, escreve Henry Galsky
Confrontos atrapalham Israel na região, enquanto o governo busca se aproximar de países árabes
*Por Henry Galsky, de Israel
Em meados de abril, escrevi por aqui sobre a possibilidade de nova escalada de violência no conflito entre israelenses e palestinos. Os confrontos em Jerusalém têm o poder de ampliar as tensões, levando novamente israelenses e palestinos a entrar numa guerra de proporções limitadas, como já ocorreu em 4 ocasiões ao longo deste século (2008/2009, 2012, 2014 e 2021).
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Caso de fato uma nova guerra aberta venha a acontecer entre Israel e Hamas, já será possível afirmar que esses ciclos repetitivos de violência periódica representam um movimento permanente. E movimentos permanentes não existem pela vontade do acaso simplesmente, mas porque são compreendidos como estratégicos por seus agentes. Este é o tema do próximo texto, por sinal. Abaixo, uma pequena explicação sobre a importância do Monte do Templo/Nobre Santuário, o local dos confrontos atuais.
Jerusalém é a cidade mais sagrada do judaísmo. Nela ocorreram alguns dos fatos mais relevantes da história judaica e a cidade foi construída para abrigar o Templo –cuja única ruína restante é justamente o Muro Ocidental (ou Muro das Lamentações), o lugar mais sagrado do judaísmo. Mas em Jerusalém também se encontram o Domo da Rocha e a Mesquita de Al-Aqsa, complexo que representa o 3º lugar mais sagrado do islamismo, ficando atrás de Meca e Medina. Os muçulmanos acreditam que foi a partir deste ponto que o profeta Maomé ascendeu ao Paraíso.
Esse complexo é chamado de Monte do Templo, pelos judeus, e de Nobre Santuário, pelos muçulmanos.
Trazendo esse arcabouço religioso aos nossos dias, Jerusalém ocupa lugar especial, portanto, na formação dos mitos nacionais de israelenses e palestinos. Entre 1948 e 1967, a cidade esteve sob domínio da Jordânia. Após a vitória israelense na chamada Guerra dos Seis Dias, em 1967, passou a ser governada por Israel.
Desde então, corre no imaginário do mundo muçulmano uma teoria de conspiração popular de que os judeus pretenderiam, entre outros, destruir a Mesquita de Al-Aqsa de forma a reconstruir, em seu lugar, o Grande Templo judaico –destruído e reconstruído duas vezes. A última destruição ocorreu no ano de 70 da Era Comum promovida pelo Império Romano.
Tudo isso para dizer que Jerusalém é um ponto de permanente tensão (o que em inglês recebe o nome de “flashpoint”), e o mundo muçulmano vê com muita desconfiança qualquer movimento por parte de Israel na cidade, em especial no setor oriental, a parte histórica e antiga de Jerusalém que justamente reúne os pontos sagrados das três principais religiões monoteístas do mundo –judaísmo, cristianismo e islamismo.
Os confrontos no Monte do Templo//Nobre Santuário também causam problemas a Israel sob o ponto de vista político na região, na medida em que o governo atual –cada dia mais frágil, como tenho escrito por aqui– tem buscado aproximação com os países árabes com os quais normalizou relações recentemente nos chamados Acordos de Abraão e também com Egito e Jordânia, estados vizinhos com os quais mantinha acordos de paz, mas interações relativamente frias durante os anos de governo Netanyahu (2009 a 2021).
Leia os outros textos de Henry Galsky no Correio Sabiá:
- 15.abr.2022 – ‘Rússia se apressa para obter ganhos estratégicos antes de retomar negociações’
- 14.abr.2022 – ‘Em 3 semanas, 4 ataques deixam 13 mortos em Israel’
- 08.abr.2022 – ‘Reviravolta política em Israel deixa governo por um fio’
- 05.abr.2022 – ‘Coalizão de segurança internacional pode evitar novas invasões russas à Ucrânia’
- 01.abr.2022 – ‘A aliança entre Israel e os países árabes sunitas contra o Irã’
- 21.mar.2022 – ‘As controvérsias do discurso de Zelenskiy em Israel’
- 15.mar.2022 – ‘Energia leva EUA a buscar aproximação com outros países no Oriente Médio’
- 09.mar.2022 – ‘As razões que podem ter levado o primeiro-ministro de Israel a Moscou’
- 04.mar.2022 – ‘Turquia mantém estreitos abertos, mas coordena posição com a Rússia‘
- 28.fev.2022 – ‘O que explica a neutralidade de Israel no conflito Rússia-Ucrânia‘
- 26.fev.2022 – ‘Posição de Israel sobre guerra na Ucrânia‘
- 24.fev.2022 – ‘Um olhar inicial sobre a invasão à Ucrânia‘
- 24.fev.2022 – ‘Não se pode estabelecer maniqueísmos na crise entre Ucrânia e Rússia‘
- 14.fev.2022 – ‘A paciente estratégia de Putin’
- 05.fev.2022 – ‘Em Israel, combate ao covid também envolve questões políticas’
- 27.jan.2022 – ‘Putin considera hora reconhecimento internacional’
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