Restaurar pasto degradado custa 72% a menos do que desmatar novas áreas
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu nesta quinta-feira (17.nov.2022) que há áreas degradadas que devem ser recuperadas, ao invés de ampliar o desmatamento. Há 1 ano, publicamos no Correio Sabiá uma pesquisa (leia abaixo) no mesmo sentido, que mostra a viabilidade financeira de avançar nessa direção.
"O Estado não pode só proibir, precisamos dizer como fazer as coisas da forma certa. Não é necessário derrubar uma árvore para plantar coisas novas. Temos milhares de hectares degradados que podem ser recuperados", disse.
*Assobio: esta reportagem foi originalmente publicada no dia 15 de novembro de 2021, mas foi atualizada, primeiro, sob contexto das declarações do então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no dia 17 de novembro de 2022. Depois, pela mudança de CMS do Correio Sabiá. Neste caso, o conteúdo não foi alterado, mas houve uma melhoria do design da página.
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O aumento da demanda por carne bovina e a expansão da pecuária não precisam causar mais desmatamento. É isso o que mostra o estudo “As políticas para uma pecuária mais sustentável na Amazônia”, publicado pelo projeto Amazônia 2030, uma iniciativa de pesquisadores brasileiros para desenvolver um plano sustentável para a região. Enquanto desmatar a floresta para ter novas áreas de produção custa R$ 950 milhões ao ano, restaurar o pasto degradado custaria em torno de R$ 270 milhões. Neste caso, a alternativa mais sustentável é também 72% mais econômica.
As estimativas acima levam consideração projeções feitas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Segundo a pasta, existem duas taxas de crescimento da produção de carne bovina no país entre 2020 e 2030: uma delas é de 1,4% no “cenário base”; a outra, 2,4% no “limite superior”.
Existem duas maneiras de satisfazer esse aumento contínuo da demanda dos consumidores. Uma é por “ganho de produtividade”, que é produzir com mais eficiência a cada hectare. A outra é desmatar, que significa ter mais áreas de produção. Neste caso, cada hectare continua tão produtivo quanto é atualmente, mas aumenta-se o território de produção.
Pelo primeiro método (ganho de produtividade), estima-se que seja necessário reformar de 170 mil a 290 mil hectares de pasto por ano até 2030, considerando as taxas de crescimento da demanda de 1,4% e 2,4%. Seria o mesmo que reformar entre 0,37% e 0,64% da área de pasto existente em 2019.
O Ministério da Agricultura considerou ganho de produtividade médio da pecuária de 80 kg para 300 kg por hectare com a adoção de um nível médio de tecnologia. Sem o ganho de produtividade, seria necessário desmatar de 634 mil a 1 milhão de hectares por ano até 2030 para atender ao crescimento da demanda por carne bovina.
“Cerca de 90% da área desmatada na Amazônia é ocupada por pastagens. Para desenvolver a região sem desmatar, é urgente repensar a atividade”, explica o autor da pesquisa e engenheiro florestal, Paulo Barreto.
Para mudar a situação atual, que direciona para desmatar novas áreas, o estudo aponta 2 caminhos:
- combate ao desmatamento e à especulação fundiária;
- facilitar o uso mais produtivo da terra promovendo capacitação e incentivos.
Agropecuária e risco climático
Ainda segundo o documento publicado pelo projeto Amazônia 2030, a agropecuária é, ao mesmo tempo, uma das causas e uma das vítimas do aquecimento global.
A pesquisa diz que, entre 2007 e 2016, a agricultura, a silvicultura (estudo de métodos naturais e artificiais para repovoamento florestal) e outros usos da terra contribuíram com 25% das emissões globais dos GEEs (gases de efeito estufa), que causam o aquecimento global. No Brasil, em 2019, a contribuição proporcional dos usos do solo para as emissões totais (72%) foi quase 3 vezes maior do que a média mundial.
Veja a origem dos gases poluentes emitidos em 2019 pelo setor de usos do solo no Brasil, de acordo com o Seeg (Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa):
- desmatamento e outras mudanças de uso do solo: 61%
- emissões diretas da agropecuária: 28%
- outras causas: 11%
Por outro lado, o estudo identificou que a agropecuária também vem sofrendo efeitos do aquecimento global no Brasil e no mundo. Entre 1961 e 2015, o aquecimento global reduziu entre 26% e 34% o ganho de produtividade agropecuária em regiões mais quentes, como África, América Latina e Caribe. Na média global, a redução de produtividade foi de 21%.
Produção pecuária na Amazônia
A ocupação da Amazônia pela pecuária teve início no fim da década de 1960. Já na década de 1970 até o fim da década de 1980, o governo federal estimulou a ocupação da Amazônia por meio de projetos de expansão que incluíam a abertura de estradas, o deslocamento de famílias para colonização e reforma agrária, crédito rural subsidiado e incentivo fiscal para empresas que investiam na região.
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Escolhas, identificou que, entre 2008 e 2017, a pecuária bovina contou com subsídio médio de R$ 12,3 bilhões por ano, incluindo a isenção de impostos estaduais e federais, bem como incentivos, anistias e perdão de dívidas.
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