Megaoperação no Rio deixa mais de 120 mortos, em dia mais letal da polícia no estado

Após matança, ação levanta dúvidas se há benefícios concretos para melhorar a segurança da população no longo prazo

Megaoperação no Rio deixa mais de 120 mortos, em dia mais letal da polícia no estado
Rio de Janeiro, 29.out.2025: Dezenas de corpos são trazidos por moradores para a Praça São Lucas, na Penha, zona norte da cidade / Imagem: Tomaz Silva/Agência Brasil
Índice

O fato principal

Uma operação policial em larga escala realizada nesta terça-feira (28.out.2025) nos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro, deixou 121 pessoas mortas – sendo 117 suspeitos e 4 policiais–, vários feridos e 113 presos (incluindo de outros estados), de acordo com divulgação do secretário da Polícia Civil, delegado Felipe Curi, nesta quarta-feira (29.out).

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*Este conteúdo está em atualização ao longo desta quarta-feira (29).

Dados conflitantes

  • Em balanço inicial divulgado na terça-feira (28), o governo estadual do Rio falou em 64 mortos, sendo 4 policiais.
  • Na manhã de quarta-feira (29), o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), falou em 58 mortos, sendo 4 policiais. Ele não explicou o motivo da redução.
  • Ainda nesta quarta-feira (29), moradores relataram ter encontrado 74 corpos na mata, que foram levados a uma praça na Penha.
  • No entanto, o secretário da Polícia Civil falou em "63 corpos achados na mata".
  • Por isso –e usando a quantidade de mortos mencionada pelo governador–, o número oficial de mortos subiu para 121 (58 + 63).

Ainda há necessidade de uma perícia para entender se há relação entre esses corpos encontrados na mata e a operação.

De acordo com Felipe Curi, 113 pessoas foram presas, sendo 33 de outros estados, como Amazonas, Ceará, Pará e Pernambuco.

Mais informações

Em represália contra a ação policial, criminosos usaram drones com explosivos. Há imagens e vídeos disponíveis nas redes sociais que mostram o uso de bombas a partir dos objetos voadores. Houve ainda barricadas com carros queimados, cenas de tiroteio e hospitais com enorme número de feridos.

O governo do estado descreveu a ação, chamada de Operação Contenção, como a maior já realizada contra alvos do Comando Vermelho. Autoridades afirmam que cerca de 2,5 mil agentes participaram da ofensiva.

No entanto, o "sucesso" alardeado pelas autoridades estaduais foi severamente contestado pelas mais variadas fontes, tanto nacionais quanto estrangeiras, por diferentes motivos.

Até policiais morreram na ação, que gerou caos na cidade e afetou a vida de milhões de pessoas. Elas deixaram seus trabalhos mais cedo (ou nem sequer compareceram, com medo de trafegar na rua). Portanto, prejuízo econômico.

Ao menos duas universidades federais no Rio de Janeiro –a UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e a Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro)– suspenderam as aulas nesta quarta-feira (29.out). Um dano à educação.

Organizações internacionais e veículos de imprensa globais descreveram o episódio como o mais letal da história do estado do Rio e pediram investigações independentes.

Por fim, não está claro qual será o benefício concreto da ação a longo prazo para melhorar a segurança pública no estado. Afinal, criminosos no tráfico tendem a se substituir e criar novas lideranças.

Brazil: at least 64 reported killed in Rio’s worst day of violence amid police favela raids
Governor says city ‘at war’ after gunfights between troops and Red Command drug traffickers who reportedly used weaponised drones

Galeria de imagens

Repercussão política

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), saudou a operação como uma resposta "necessária" ao que chamou de “narcoterrorismo” e afirmou que não haverá recuo no enfrentamento ao crime organizado.

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A menos de 1 ano para a eleição de 2026 –e sem poder se reeleger, já que exerce seu 2º mandato, Castro tende a pavimentar uma vaga para o Senado, embora enfrente resistência dentro do próprio partido, que é o mesmo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Operações como esta tendem a render capital político.

Organismos internacionais, como a ONU (Organização das Nações Unidas) e grupos de direitos humanos, manifestaram horror e pediram investigações independentes sobre cada morte, lembrando as normas de direitos humanos que regulam o uso da força letal.

Castro reforçou antagonismo com o governo federal, liderado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Disse que pediu ajuda federal para realizar a operação, que teria sido negada. O ministro Ricardo Lewandowski (Justiça e Segurança Pública) desmentiu a informação. Depois dessa declaração, Castro ligou para a ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) e passou a dosar o tom.

Próximos passos

  • Mais investigações independentes sobre a condução da operação.
  • Identificação de todas as vítimas.
  • Debate sobre implementação de uma GLO (Garantia da Lei e da Ordem), que seria o uso de Forças Nacionais, como o Exército, para conter a criminalidade.
  • Avanço de pautas sobre segurança pública no Congresso Nacional, como a PEC (proposta de emenda à Constituição) da Segurança Pública, proposta pelo governo federal e que já tem relator.
    • Inclusive, a tendência é que o relator antecipe seu relatório, diante da urgência do assunto.

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Autor

Maurício de Azevedo Ferro
Maurício de Azevedo Ferro

Jornalista e empreendedor. Criador/CEO do Correio Sabiá. Emerging Media Leader (2020) pelo ICFJ. Cobriu a Presidência da República.

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