Governador de Goiás oferece água e energia para big techs instalarem data centers

Caiado diz que estado já aprovou legislação que contempla IA; ambientalistas veem exploração de recursos naturais

Governador de Goiás oferece água e energia para big techs instalarem data centers
Imagem: Evandro Macedo/LIDE

O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), convidou nesta sexta-feira (22.ago.2025) big techs (grandes empresas de tecnologia, como a Meta, o Google, a OpenAI e outras) a instalarem data centers no Brasil.

“Vocês podem vir para o Brasil, [trazer] suas big techs, seus data centers, e nós temos energia, temos água, temos tecnologia e temos competência para avançar na inteligência artificial, que, graças a Deus, Goiás também já aprovou a sua [*contexto abaixo], e os empresários que desejarem podem ir lá para Goiás, que tem condições de não ficar tutelado sobre uma pretensão arcaica, tentando cada vez mais limitar o avanço da inteligência artificial em nosso país”, declarou.

Caiado deu a declaração durante o 24º Fórum Empresarial Lide, realizado no hotel Fairmont, em Copacabana, Zona Sul do Rio de Janeiro. O evento reuniu diversas autoridades, entre governadores, presidentes de partidos, senadores, deputados federais e secretários de diferentes esferas de poder (federal, estadual e municipal), além de empresários de algumas das maiores empresas do Brasil.

Ambientalistas contestam instalação de data centers

Ambientalistas fazem ressalvas à instalação de data centers. Apontam que a operação dessas estruturas exige grande consumo de água para o resfriamento dos equipamentos e de energia elétrica em alta escala.

Além disso, a simples presença de data centers não garante independência tecnológica nem avanço sólido em inteligência artificial no país.

Para críticos, trata-se de mais uma dinâmica de exploração em que países desenvolvidos utilizam os recursos naturais do Sul Global sem que haja transferência real de tecnologia ou fortalecimento da soberania digital local.

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Contexto. Quando Caiado disse que “Goiás também já aprovou a sua”, fazia referência à Lei Complementar nº 205, de 19 de maio de 2025, uma legislação estadual que estabeleceu diretrizes específicas para o uso e a regulamentação da inteligência artificial e outras inovações tecnológicas no estado. A medida foi usada como argumento político para reforçar a imagem de Goiás como pioneiro nesse tipo de regulamentação no Brasil. O governador buscou passar a mensagem de que o estado já criou um ambiente regulatório e de infraestrutura favorável para atrair empresas e investimentos na área.

Em diversas ocasiões anteriores, Caiado manifestou desejo de concorrer à Presidência da República em 2026. Nesta ocasião, não mencionou eleições. Fez apenas uma defesa do seu estado, de forma geral, e mais especificamente das suas políticas ambientais.

“Nós podemos hoje dizer a vocês que nós já superamos muito e muitos desafios. Dizer a vocês que passei 24 anos no Congresso Nacional, e era algo impressionante. Ou seja, defender a agricultura, ter pecuária e realmente falar em produtividade era palavrão. Naquele momento, nós éramos taxados de contra o meio ambiente. Era algo extremamente preconceituoso. Tem ainda um percentual, mas nós já melhoramos em muito essa capacidade de mostrar para o mundo e para os brasileiros, que muitas vezes são resistentes a essas ideias, que não existe nenhum sentido”, disse.

‘Soja tem mais tecnologia que o iPhone’, diz Caiado

Caiado declarou que “não há um setor no país hoje que inclua mais ciência e tecnologia do que o agropecuarista brasileiro”.

“Hoje, um grão de soja tem mais tecnologia do que um iPhone”, afirmou.

Caiado questionou as pessoas presentes sobre quando poderiam imaginar que a soja um dia seria plantada em Goiás e na região do Matopiba (que contempla Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia).

“Essa região onde ali era um verdadeiro agreste. (…) Veja bem o que a ciência promove. Agora, quando você vai discutir com pessoas, pessoas que são obstruídas mentais, é difícil você convencê-las da ciência”, disse.

Em seguida, Caiado questiona “o que é sustentabilidade” e defendeu que, além de meio ambiente, é também renda e condição de alimentação.

“Sustentabilidade não é a situação de intocável, mas sim de você poder trabalhar com todas aquelas riquezas que Deus nos deu, para que nós possamos levar qualidade de vida para as pessoas”, disse.

Caiado faz defesa da sua política ambiental

O governador de Goiás declarou que “ninguém abre mão da preservação do meio ambiente” e que “não vamos comprometer nossos biomas”.

“Nossos biomas serão preservados e são preservados. Essa é a realidade. Nós temos todos os biomas preservados no mundo. Nenhum outro país do mundo nos apresenta os seus biomas preservados como nós temos aqui neste momento”, afirmou.

Caiado disse que seu estado “recupera hoje 5 mil hectares nas cabeceiras do Rio Araguaia, o maior programa de recuperação de cabeceiras de rio e de APPs [Áreas de Preservação Permanente]”.

“Ao mesmo tempo, nós estávamos importando carro elétrico, ônibus elétrico. Para quê? Goiás desenvolveu o biometano. Os ônibus hoje vão se locomover com produção de biometano nas nossas usinas de álcool. (…) Isso é descarbonizante. Isto tudo faz com que você avance e mostre resultado da descarbonização da atmosfera”, falou.

Ao continuar seu discurso, Caiado declarou que “Goiás tem 5 grandes indústrias de bioinsumo” e “até hoje o governo federal não deu conta de legislar e aprovar um projeto de bioinsumo”.

Ele também disse que, em seu 1º ano à frente do governo do estado, 2019, autorizou “a abertura de uma grande mina, e somos hoje o único país no mundo, depois do sul da China, a produzir terras raras pesadas”.

No final do discurso, disse que os presentes no evento “fiquem tranquilos” porque “os biomas serão preservados”:

“Nós tivemos a competência de redigir o melhor código florestal que existe no mundo. Eles [estrangeiros] não têm nada. E os que nos criticam hoje são os que não inovam em nada. (…) Nós, brasileiros, somos os únicos que temos hoje a capacidade de ter energia renovável no mundo. Você vê a Alemanha com energia nuclear, Canadá, Estados Unidos explorando petróleo no Alasca…”

O Código Florestal, ao qual Caiado se refere, foi aprovado pelo Congresso Nacional em 2012, após intenso embate entre a bancada ruralista e parlamentares ligados ao meio ambiente. Ele estabeleceu regras mais flexíveis para a manutenção de Áreas de Preservação Permanente (APPs) e de Reserva Legal, sendo duramente criticado por especialistas que o consideraram um retrocesso na proteção ambiental.

Para defensores, a lei buscou conciliar produção agrícola com preservação. Porém, desde então, a fiscalização e a implementação efetiva do Código têm sido apontadas como pontos críticos, com denúncias de anistias a desmatamentos anteriores e fragilização do cumprimento das normas.

Author

Maurício de Azevedo Ferro
Maurício de Azevedo Ferro

Jornalista e empreendedor. Criador/CEO do Correio Sabiá. Emerging Media Leader (2020) pelo ICFJ. Cobriu a Presidência da República.

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