Drones monitoram cardumes de sardinha em Fernando de Noronha
Pesquisa pode beneficiar atividade pesqueira sustentável e ecoturismo no arquipélago
Um grupo de 11 pesquisadores de universidades do Brasil e dos Estados Unidos passou a adotar uma metodologia inédita até então para monitorar cardumes de sardinhas e avançar na conservação da biodiversidade no arquipélago de Fernando de Noronha, um dos principais destinos turísticos brasileiros.
Os cientistas usaram imagens aéreas feitas por drones para compreender as atividades de pesca da sardinha no Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha, área liberada para a atividade pesqueira desde 2019, após desentendimentos entre o governo federal e entidades ambientais.
O material foi divulgado em 1ª mão para o Correio Sabiá e um grupo de outras organizações jornalísticas que participaram do encontro virtual “Oceano para Jornalistas”, organizado pelo evento Marina Week 2022.
A partir das imagens captadas durante o período liberado para a pesca, foi possível identificar:
- os tamanhos dos cardumes
- as dinâmicas dos barcos pesqueiros e dos pescadores da costa
- observar as atividades de turismo local
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Um dos autores do estudo em Fernando de Noronha, Hudson Pinheiro, que é pesquisador do Centro de Biologia Marinha da USP (Universidade de São Paulo) e da Academia de Ciências da Califórnia, nos Estados Unidos, afirmou num comunicado enviado à imprensa que “além da importância comercial para os pescadores, a sardinha é a base alimentar para tubarões, golfinhos, diversos peixes maiores e aves marinhas”.
“A sardinha também é usada como isca para a pesca de grandes peixes e a sobrepesca desse recurso pode provocar um desequilíbrio das espécies, trazendo prejuízos inclusive para o ecoturismo, já que a fantástica biodiversidade do arquipélago é um dos principais atrativos para os mergulhadores e turistas”, afirmou Hudson.
Ao Correio Sabiá, o oceanógrafo pela USP Rafael Menezes, mestre em biotecnologia marinha, resumiu a importância da pesquisa em Fernando de Noronha da seguinte forma:
“Primeiro porque [as sardinhas] estão diretamente relacionadas com os acidentes com tubarões em Fernando de Noronha; porque são uma fonte de renda muito importante para os moradores do arquipélago; e porque o Brasil não é mais auto suficiente em produção de sardinha tem um tempo já –por causa da sobrepesca, principalmente no Sudeste–, então, importamos.”
Eis abaixo, em tópicos, alguns dos potenciais benefícios do monitoramento:
- contribuição para o manejo sustentável de estoques pesqueiros numa importante área de conservação marinha do Brasil;
- garantia de renda para pescadores locais
- oferta equilibrada de sardinha, que é fundamental para a manutenção de diversas espécies de peixes e aves
- facilitar o monitoramento do ecoturismo no arquipélago
Hudson Pinheiro acrescentou que “a gestão da pesca, geralmente, é realizada em terra ou por meio de inspeções a bordo de embarcações”.
Sendo assim, segundo o pesquisador, “o acompanhamento das atividades pesqueiras usando drones é uma opção versátil e econômica, que pode potencialmente melhorar os estudos pesqueiros, especialmente em áreas marinhas protegidas”.
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Já o pesquisador da UFBA (Universidade Federal da Bahia), José Amorim Reis-Filho disse que “o estudo documentou as áreas mais intensamente visadas por pescadores e aspectos operacionais do esforço de pesca, tanto a bordo quanto nas atividades costeiras.”
A metodologia será compartilhada com técnicos do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), órgão gestor do Parque Nacional de Fernando de Noronha.
Os cientistas também ressaltaram que, ao monitorar os cardumes com mais precisão, é possível saber o momento adequado para restringir a pesca ou, se for o caso, liberar mais a atividade.
“O estudo permite um manejo mais adaptativo, com um regramento que já é adotado em alguns países de primeiro mundo”, explica Pinheiro.
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Sobrepesca pode resultar no fim da exploração comercial da espécie
Os especialistas ainda afirmaram que o desenvolvimento sustentável da pesca exige que os ambientes marinhos sejam manejados adequadamente, especialmente em unidades de conservação.
“Nas áreas continentais, é possível um manejo mais colaborativo, mas na ilha a sobrepesca pode resultar no fim da exploração comercial da espécie”, disse Pinheiro.
Como a sardinha vive em grandes cardumes e possui um ciclo de vida curto, existem vários casos de colapso de populações de sardinha em todo o mundo, de acordo com os pesquisadores.
Além de descrever as características e o tamanho dos cardumes por meio de drones, a pesquisa contemplou expedições de mergulho para identificar características do hábitat de fundo do mar do arquipélago em áreas com profundidade superior a 140 metros, mapeando áreas de recifes e as características de diversas espécies que ocorrem na região.
Diretora executiva da Fundação Grupo Boticário, que financiou a pesquisa, Malu Nunes disse que “os estudos em Fernando de Noronha vão servir como base para um acompanhamento de toda a biodiversidade da região”.
“É um trabalho de grande relevância para subsidiar o uso de recursos sustentáveis em uma das áreas mais relevantes para a conservação da vida marinha no Brasil”, afirmou Nunes.
Entre as sugestões a serem enviadas ao ICMBio está a criação de áreas de proteção em habitats mais profundos que possam servir de locais de criação de pescados com vistas ao desenvolvimento sustentável da atividade pesqueira em Fernando de Noronha.
“Defendemos também que a pesca não seja expandida para dentro do parque nacional. Entendemos que a recente permissão da pesca da sardinha em uma área específica do parque não pode abrir o precedente de liberação para a captura de outras espécies”, disse Pinheiro.
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