#883: Bolsonaro pede que apoiadores saiam de rodovias

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#883: 45h depois de perder a eleição, Bolsonaro faz discurso de 2 minutos; saiba como foi

Manifestações ilegais impedem direito de ir e vir, prejudicam abastecimento e pedem ‘intervenção federal’
Sabiá: O presidente Jair Bolsonaro, em discurso após perder eleição / Foto: Isac Nóbrega/PR
Sabiá: O presidente Jair Bolsonaro, em discurso após perder eleição / Foto: Isac Nóbrega/PR
Assobio: antecipamos no site a curadoria de notícias a ser enviada na manhã desta quinta-feira (3.nov.2022).

O resumo do resumo:

  • 45h depois de perder a eleição, Bolsonaro faz discurso de 2 minutos; saiba como foi;
  • Análise: As ‘entrelinhas’ do pronunciamento de Bolsonaro;
  • Após pronunciamento, Bolsonaro encontra ministros do STF;
  • Com apoio explícito de autoridades bolsonaristas e discurso curto do presidente, caminhoneiros seguem bloqueio vias

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45h depois de perder a eleição, Bolsonaro faz discurso de 2 minutos

Depois de 45h da derrota na eleição, o presidente Jair Bolsonaro (PL) se manifestou pela 1ª vez nesta terça-feira (1.nov.2022) e fez um pronunciamento 2 minutos no Palácio da Alvorada, sua residência oficial. Neste discurso, Bolsonaro:

  1. justificou os protestos ilegais de grupos de caminhoneiros pelo país, que pedem golpe militar;
  2. levantou, indiretamente, suspeitas sobre o processo eleitoral, já que disse que os protestos eram fruto de um sentimento de “injustiça” com a forma como se deu a eleição;
  3. não reconheceu diretamente a vitória do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Por fim, depois do discurso de Bolsonaro, o ministro Ciro Nogueira (Casa Civil), que é senador licenciado pelo PP do Piauí, disse que a transição do governo Bolsonaro para o governo Lula deve começar nesta quinta-feira (3.nov). Falou que aguardava formalizações para dar início ao processo.

O presidente Jair Bolsonaro, em discurso após perder eleição / Foto: Isac Nóbrega/PR
Sabiá: Bolsonaro relativizou protestos que bloqueiam vias e pedem “golpe” / Foto: Isac Nóbrega/PR

Análise: As ‘entrelinhas’ do pronunciamento de Bolsonaro

Assobio: Publicamos em nossos grupos de WhatsApp o texto abaixo, que é uma análise, e não uma reportagem. Portanto, não há aqui neste breve espaço qualquer objetivo de imparcialidade (afinal, não existe "análise" sem se desprender do que uma pessoa enxerga, não é mesmo?). De qualquer forma, estamos explicando o óbvio para deixar tudo bem claro, por questões de transparência.

Dois dias (!) após ser derrotado na eleição, Bolsonaro se manifestou pela 1ª vez nesta terça-feira (1.nov) e fez um breve pronunciamento no Palácio da Alvorada, sua residência oficial. Abaixo, você entende o que “não foi dito” (ao menos explicitamente) pelo presidente.

  • O presidente nem saiu de casa para trabalhar neste dia útil, terça-feira (1.nov.2022). Na segunda (31), cumpriu jornada de 6h, como de costume.
  • O presidente ficou calado por 45 horas desde a sua derrota na eleição.
  • A espera pelo discurso, desde seu anúncio, durou mais de 1 hora e meia.
  • O discurso durou cerca de 2 minutos.
  • Nesse discurso, Bolsonaro deu justificativas para os protestos ilegais, de caráter golpista, que ocorrem em vários estados do Brasil, bloqueiam vias, fazem a população esperar por atendimentos médicos, prejudicam o abastecimento das cidades, encarecem preços, além de provocar cancelamentos de voos domésticos e internacionais, como ocorreu em Guarulhos (SP), maior aeroporto do Brasil.

“Os atuais movimentos populares são fruto de indignação e injustiça de como se deu o processo eleitoral”, começou Bolsonaro.

Sempre ambíguo, Bolsonaro não disse explícita e claramente se aceita ou não aceita o resultado eleitoral; se é contra ou a favor dos protestos.

Com declarações vagas, também não explicou a qual “injustiça” se referia, afinal o processo eleitoral brasileiro já foi reconhecido há muito tempo por chefes de Estado da esquerda à direita no mundo inteiro.

As falas ambíguas foram comemoradas pelos arruaceiros com pautas golpistas que bloqueiam ilegalmente as estradas e vias do país. Eles interpretaram o discurso como uma chancela do presidente às “manifestações”.

Vale lembrar: no passado, quando a categoria dos caminhoneiros (como um todo) articulava paralisações em protesto ao aumento dos preços dos combustíveis, o próprio Bolsonaro entrou em campo para demovê-los da ideia, pois isso arranharia a imagem de seu governo combalido pela inflação àquela altura. Agora, com manifestações de caráter golpista, o presidente legitima os atos 1) ao silenciar por quase 48h e 2) ao apresentar justificativas para as manifestações e não pedir expressamente que elas acabem.

Por fim, numa fala ainda mais curta que a do presidente, o ministro Ciro Nogueira disse que aguarda formalizações do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para conduzir a transição de governo.

Essa sinalização soma-se a um cochicho de Bolsonaro para o próprio Ciro Nogueira –“vão sentir saudades da gente”– antes de iniciar o pronunciamento. Dá a entender que o resultado eleitoral foi respeitado, embora falte dignidade de admiti-lo com todas as letras.

Eis um trecho de 1min30s do discurso que publicamos em nossa conta no Instagram (@correiosabia):

Após pronunciamento, Bolsonaro encontra ministros do STF

Depois de se pronunciar, Bolsonaro encontrou alguns ministros do STF (Supremo Tribunal Federal). Eis a lista:

  • Alexandre de Moraes
  • Edson Fachin
  • Gilmar Mendes
  • Kassio Nunes Marques
  • Luiz Fux
  • Rosa Weber

Em nota, o STF informou que o encontro foi “cordial” e tratou da “importância da paz e da harmonia” para o bem do país. Eis a íntegra:

“O Presidente da República, Jair Bolsonaro, esteve na tarde desta terça-feira (1º) no Supremo Tribunal Federal a convite da Presidência, onde conversou com os Ministros da Corte que estavam presentes em Brasília: a presidente Rosa Weber, o decano Gilmar Mendes, Luiz Fux, Edson Fachin, Alexandre de Moraes, Nunes Marques e André Mendonça. Compareceu também o Ministro da Economia, Paulo Guedes. 

Os ministros do STF reiteraram o teor da nota oficial divulgada, que consignou a importância do reconhecimento pelo Presidente da República do resultado final das eleições, com a determinação do início do processo de transição, bem como enfatizou a garantia do direito de ir e vir, em razão dos bloqueios nas rodovias brasileiras. 

Tratou-se de uma visita institucional, em ambiente cordial e respeitoso, em que foi destacada por todos a importância da paz e da harmonia para o bem do Brasil.”

A maioria dos ministros deixou o encontro sem falar com a imprensa. Já o ministro Edson Fachin teria dito aos jornalistas que Bolsonaro usou o verbo “acabar” no passado. Falou “acabou”, referindo-se à eleição.

Portanto, segundo o magistrado, seria o momento de olhar para frente e esquecer o discurso golpista de alguns caminhoneiros que bloqueiam vias do país, como detalharemos abaixo.

Com apoio explícito de autoridades bolsonaristas e discurso curto do presidente, caminhoneiros seguem bloqueio vias

Enquanto isso, grupos radicais de caminhoneiros bolsonaristas continuam tentando bloquear estradas e vias em mais da metade dos estados do país. A pauta deles é golpe militar. Ou seja, os protestos são ilegais, mesmo que “pacíficos”.

Assobio: exatamente isso que você leu. Não é porque o protesto é pacífico que ele é legal. E, não, você NÃO tem direito de sair por aí se manifestando e pedindo intervenção militar. Isso não é liberdade de expressão; é crime mesmo. Sigamos abaixo com a curadoria de notícias. 

A PRF (Polícia Rodoviária Federal), cuja atuação tem sido muito criticada pela oposição ao governo e por pesquisadores, cientistas políticos e acadêmicos em geral, e as Polícias Militares dos estados atuam na desmobilização dos arruaceiros.

As manifestações desses caminhoneiros não têm apoio de nenhuma liderança ou autoridade relevante.

Nem mesmo os principais líderes dos caminhoneiros são favoráveis, como o deputado federal Nereu Crispim (PSD-RS) informou ao Congresso em Foco. Ele é ex-motorista e dono de caminhão.

Esses caminhoneiros têm apenas o apoio explícito de meia dúzia de gatos pingados aliados do presidente da República, como o deputado federal eleito Nikolas Ferreira (PL-MG), o mais votado do Brasil nesta eleição, e a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), aquela mesma que correu armada atrás de um homem em São Paulo no sábado (29.out), véspera da eleição.

Bolsonaro pede desobstrução das rodovias

O presidente Jair Bolsonaro só foi fazer nesta quarta-feira (2.nov.2022) o que nós aqui no Correio Sabiá estamos desde segunda (31.out) falando que devia ser feito: disse o óbvio e sinalizou claramente para seus apoiadores mais radicais desobstruírem as rodovias.

Já fazia 3 dias que esses manifestantes bloqueavam vias de diversos estados do país, prejudicavam o direito de ir e vir das pessoas e o abastecimento das cidades. Motivo: não aceitam o resultado eleitoral e pedem intervenção militar. 

Publicamos na nossa conta no Instagram (@correiosabia) o vídeo do pedido de Bolsonaro pela desobstrução das vias do país. O presidente, no entanto, continuou dizendo que os atos são legítimos. Na verdade, não são, porque pedem intervenção militar e não aceitam o resultado eleitoral.

A ilegalidade do ato já tinha sido apontada até mesmo por aliados do presidente da República, como o governador reeleito do Distrito Federal Ibaneis Rocha (MDB). Na última segunda-feira (1.nov), Ibaneis escreveu que o bloqueio não era permitido.

Motorista fura bloqueio e atropela manifestantes em rodovia

Um motorista atropelou nesta quarta-feira (2.nov) manifestantes bolsonaristas que bloqueavam ilegalmente uma via por não aceitarem o resultado da eleição. Publicamos 2 vídeos desse episódio. Um deles na nossa conta no Twitter. O outro, na nossa conta no Instagram, considerando que este vídeo do Instagram tem ainda imagens de uma das pessoas próximas ao atropelamento. Veja abaixo:

Manifestantes bolsonaristas vão até quartéis no feriado de Finados

As cenas dos protestos e o teor ultranacionalista, semelhante ao nazismo, tomaram as redes sociais nesta quarta-feira, feriado de Finados no Brasil. As imagens mostram milhares de bolsonaristas na frente de quartéis, com bandeiras do Brasil e vestindo camisas da seleção brasileira.

Em alguns vídeos, é possível ver milhares de pessoas com braços erguidos, numa saudação considerada de juramento à bandeira pelos bolsonaristas, mas idêntica à saudação nazista. Seja o que for, a semelhança entre os 2 movimentos, nazismo e bolsonarismo, foi noticiada em outros jornais de diferentes países.

Nos vídeos que circulam nas redes sociais há ainda:

  • militantes bolsonaristas marchando;
  • militante sendo expulso de quartel;
  • militante sem saber explicar por que está protestando;
  • militantes comemorando fake news de que o ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), teria sido preso (não foi, obviamente).

Análise: Bolsonaro devia se preocupar com bloqueios, e não arrumar explicações para eles

Assobio: da mesma maneira, o trecho abaixo é uma análise, e não uma reportagem. Portanto carrega juízo de valor. E, mais uma vez, estamos deixando isso claro e transparente para você.

O presidente da República devia ser o maior interessado em desfazer a paralisação. Logo ele, que fala tanto em “liberdade”, não deveria silenciar diante da obstrução das vias, afinal elas dificultam o ir e vir dos cidadãos de bem. Tem gente que não consegue chegar em seu destino final há horas; gente passando mal; idosos, crianças, pais e mães de família.

Além disso, o Correio Sabiá lembra que lá atrás, quando os caminhoneiros ameaçavam fazer paralisações contra a alta dos combustíveis, o próprio presidente Jair Bolsonaro entrou em ação para demovê-los dessa ideia, porque essa pausa tinha potencial de encarecer ainda mais os produtos, o que atingiria a imagem do seu combalido governo, que lutava contra a inflação.

Na ponta da linha, essas paralisações atingem o próprio povo brasileiro.

E devemos levar em consideração, ainda, que o motivo dos bloqueios atualmente é outro. Não é a alta dos preços. Desta vez, os caminhoneiros não aceitam o resultado eleitoral e querem levar adiante a ideia de um golpe de Estado.

Andamos recebendo nesta segunda-feira (31.out) uma pergunta: “Os bloqueios são ilegais?” Respondemos com certa ironia: “Não, é super legal bloquear as vias do país para não aceitar um resultado eleitoral e pedir um golpe de Estado”.

Tenha bom senso: o que você acha?

STF determina desbloqueio das vias por policiais

O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), determinou na segunda-feira (31.nov) o imediato desbloqueio das vias obstruídas. Quem deve fazer esse desbloqueio, disse o Moraes, é a PRF (Polícia Rodoviária Federal) e as Polícias Militares de cada estado.

Na mesma decisão, o ministro também estipulou uma multa de R$ 100 mil por hora contra o diretor-geral da PRF, Silvinei Vasques, e até o afastamento do cargo ou prisão em caso de descumprimento da ordem.

O plenário do STF (formado pelos 11 ministros da Corte) começou a analisar virtualmente o caso na madrugada desta terça-feira (1º.nov.2022) e, no momento de publicação desta reportagem, já tinha formado maioria a favor do mesmo entendimento de Moraes.

Flávio Bolsonaro admite derrota, enquanto pai mantém silêncio

Durante o dia, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) foi um dos poucos que admitiram a derrota do presidente da República nas urnas. Uma boa parte dos aliados eleitos mantiveram o silêncio.

O próprio Bolsonaro, que não se manifestou, deixou o Palácio da Alvorada, sua residência oficial, por volta das 9h30 e retornou em torno das 16h. Cerca de 6h de expediente de trabalho nesta segunda-feira (31).

A expectativa até o momento, no entanto, é de que o presidente não conteste o resultado eleitoral, embora deva fazer críticas ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e não deva parabenizar diretamente o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.

Transição de governo será feita independentemente de Bolsonaro

Já a transição de governo deve ser feita independentemente do reconhecimento de Bolsonaro. Segundo a presidente nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), essa transição começa em até 48h, com garantia da lei. O diálogo, aliás, já começou a ser feito com o ministro Ciro Nogueira (Casa Civil), que é senador licenciado pelo PP do Piauí.

Já o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB) conversou por telefone com o vice-presidente e senador eleito Hamilton Mourão (Republicanos-RS).

A lei define que o presidente eleito pode criar 50 cargos em comissão. São chamados Cargos Especiais de Transição Governamental. Essas pessoas têm acesso às informações das contas públicas, aos programas e projetos do governo federal, de forma a preparar o governo que virá no ano que vem.

Lula é parabenizado por líderes mundiais

No mundo, Lula foi parabenizado por chefes de Estado de vários países. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que já tinha publicado uma mensagem de parabéns pela eleição pouco depois da confirmação no domingo (30), ligou para Lula nesta segunda-feira (31).

O petista ainda encontrou com o presidente da Argentina, Alberto Fernández, num hotel em São Paulo. No entanto, Lula também recebeu os cumprimentos por sua eleição do adversário de Fernández na Argentina, Mauricio Macri, que era mais próximo de Bolsonaro.

Por que isso importa? Porque isso mostra como Lula é forte no país vizinho, já que líderes de diferentes campos, eleitos ou não, fazem questão de cumprimentá-lo formalmente logo após o pleito.

O petista também fez uma ligação com o presidente da França, Emmanuel Macron. O próprio francês publicou um trecho na sua conta no Twitter.

É relevante notar ainda que a comunidade internacional agiu rápido. O jornal O Globo mostrou que os chefes de Estado do mundo todo foram ágeis ao cumprimentar, rapidamente, Lula pela eleição.

Essa resposta rápida, segundo o jornal, teria sido coordenada junto aos embaixadores com a finalidade de esvaziar quaisquer narrativas de fraude na eleição brasileira.

Lula é convidado a participar da COP27, no Egito

Também é importante observar que Lula foi convidado para ir à COP-27, a Conferência das Partes, mais importante evento global para discutir as mudanças climáticas. Ele deve ir acompanhado da senadora Simone Tebet (MDB-MS), que o apoiou no 2º turno.

O próprio Lula disse ter conversado com “dezenas de chefes de Estado” e, segundo ele, “todos querem ampliar as parcerias e trabalho conjunto com o Brasil no comércio, na questão do clima e nos grandes temas globais”.

Dólar despenca no 1º dia após Lula ser eleito

Um dia depois de Lula ser eleito, o Ibovespa fechou em alta de 1,31% (aos 116.037 pontos). Em outubro, o índice acumulou alta de 5,45%. Já o dólar despencou nesta segunda (31): – 2,54%. Fechou o mês numa queda de 4,2%.

Nesta quarta-feira (2.nov), o Fed (Federal Reserve) elevou taxa de juros, mais uma vez, em 0,75 ponto percentual. Assim, a taxa agora passa para uma faixa de 3,75% a 4%.

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