Resultado da COP29 é decepcionante, analisa o secretário-executivo do Observatório do Clima

Para Marcio Astrini, Brasil terá grande desafio ao sediar a próxima COP em Belém

Resultado da COP29 é decepcionante, analisa o secretário-executivo do Observatório do Clima
Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, analisou o resultado da COP29 / Imagem: Daisy Serena/Observatório do Clima
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Realizada em Baku, no Azerbaijão (🇦🇿), a COP29 terminou com um novo acordo de financiamento climático bem distante daquele pretendido pelos países em desenvolvimento: US$ 300 bilhões ao ano. A meta girava em torno de US$ 1,3 trilhão. Por isso, ambientalistas como o secretário-executivo da ONG Observatório do Clima declararam que a conferência deste ano, 2024, foi decepcionante.

Em áudio recebido pelo Correio Sabiá pelo WhatsApp, Astrini disse que a COP29 já começou com uma expectativa muito ruim, e seu resultado final acabou confirmando a sensação inicial.

Para ampliar a compreensão do noticiário, transcrevemos abaixo, na íntegra, a análise de Marcio Astrini:

"Foi uma conferência do clima que começou com uma expectativa muito ruim e terminou confirmando a expectativa. O resultado da conferência não melhora em nada os problemas que já temos de negociação climática; de achar soluções para o problema da crise do clima que já enfrentamos no planeta inteiro.

Tivemos circunstâncias como a saída da Argentina da conferência. A conferência já começou sob o resultado da eleição americana, que sempre causa muita tensão. É um país petroleiro [Azerbaijão] hospedando uma COP de clima, sabendo que o petróleo é o maior problema das mudanças climáticas.

Um dos objetivos é exatamente que façamos a transição para fora de combustíveis [fósseis], como é o caso do petróleo. Então, existia ali uma tensão muito grande no ar e isso se confirmou.

A presidência da conferência, que foi a presidência do Azerbaijão, foi muito atrapalhada; incompetente, na verdade, em conseguir fazer com que os países se entendessem, conversassem, tentassem estabelecer pontos em comum e acordos.

Ela [presidência da COP] acabou dificultando, inclusive, com que esses acordos acontecessem. No final, o tema principal, que era o tema de financiamento, o dinheiro que deveria aparecer, acordos sobre como financiar a crise do clima, ele simplesmente não aconteceu.

O que nós tivemos, no fim, foram os países que mais devem, os países ricos, os países que mais têm que pagar, mais assumir compromisso, fugindo desse compromisso.

Simplesmente assinaram uma carta onde nós não temos certeza de onde virá o dinheiro.

O dinheiro máximo proposto para que os países envolvidos coloquem na agenda do clima é um dinheiro absolutamente insuficiente, até menor do que eles já haviam prometido lá atrás, enquanto que a crise do clima é uma crise maior do que a que já existia.

Isso é ruim não apenas porque sem mobilização financeira você tem menos ações, mas também porque quebra bastante a confiança entre os países, uma vez que tem aqueles que mais deveriam fazer, se negam a fazer e fizeram parte de uma grande manipulação final de um texto que não deixou ninguém feliz na conferência, a não ser aqueles que se livraram de assumir suas responsabilidades e não querem ver a agenda do clima andar.

Agora nós temos a próxima etapa, que é no Brasil –e o Brasil assume com esse cenário, um cenário muito difícil de negociação. Vai ter a missão de ter uma dedicação máxima, de colocar à prova toda a habilidade diplomática e toda a vontade que o governo vem demonstrando na agenda do clima para conseguir preencher os vazios da negociação que saem do Azerbaijão e poder avançar na agenda, principalmente nas próximas negociações e as próximas pautas, como o aumento da ambição climática, que é algo muito esperado, algo que precisamos, e a COP30 tem essa expectativa alta.

O Brasil tem condições de fazer essa entrega, mas vai ter que trabalhar muito, vai precisar de muito apoio e a gente espera que é isso que aconteça."


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