1996: Bolsonaro divulgou evento da maçonaria no plenário da Câmara 

1996: Bolsonaro divulgou evento da maçonaria no plenário da Câmara 
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Em 1996, quando deputado, Bolsonaro divulgou evento da maçonaria no plenário da Câmara 

Evento organizado pela maçonaria era um seminário intitulado ‘Amazônia, uma questão nacional’
Declarações de Bolsonaro em favor de evento da maçonaria extraídas de nota taquigráfica da Câmara, em 1996, em sessão no plenário / Foto: Reprodução
Declarações de Bolsonaro em favor de evento da maçonaria extraídas de nota taquigráfica da Câmara, em 1996, em sessão no plenário / Foto: Reprodução

Quando exercia mandato como deputado federal em 1996, Jair Bolsonaro –atualmente presidente da República e candidato à reeleição no 2º turno– divulgou aos deputados federais no plenário da Câmara um evento da maçonaria.

“Senhor Presidente, senhoras e senhores deputados, levo ao conhecimento desta Casa que a Loja Maçônica Miguel Archanjo Tolosa e a Associação Asbrade realizarão, em Brasília, o Seminário ‘Amazônia, uma questão nacional’”, disse Bolsonaro, após pedir a palavra à então Presidência da Câmara numa sessão.

A declaração consta nas páginas 23 e 24 das notas taquigráficas da Câmara dos Deputados, na sessão deliberativa do dia 12 de setembro de 1996, uma quinta-feira. A transcrição completa da declaração e o arquivo em PDF da Câmara constam mais abaixo nesta reportagem.

O eventual elo de Bolsonaro com a maçonaria ganhou repercussão nas redes sociais nesta terça-feira (4.out.2022), dentro de um contexto de disputa eleitoral no 2º turno, porque viralizou um vídeo antigo de Bolsonaro discursando na maçonaria.

O vídeo, aparentemente, foi gravado antes de 2018, quando Bolsonaro ainda era deputado federal e não tinha se candidatado à Presidência. 

Agora, o Correio Sabiá mostra essa outra ligação do presidente, bem anterior, datada de 1996. 

Por que isso importa? O Correio Sabiá publica esta reportagem, porque a considera jornalisticamente relevante dentro do atual contexto. No entanto, é necessário que o leitor esteja atento para não cair em velhas generalizações: a maçonaria não é um grupo homogêneo, único, uniforme. Por mais que sejam todos maçons, cada loja é uma loja. Sendo assim, é necessário ligar a loja maçônica aos seus participantes para não ligar figura alguma, como o presidente, a todo o grupo. 

Por que o vídeo na maçonaria é um embaraço para Bolsonaro

Os votos dos religiosos são o pano de fundo para o embaraço causado pelo aparecimento de Bolsonaro na maçonaria. O presidente tem nos evangélicos uma fonte de sustentação de seu governo e de apoio à reeleição. 

Neste caso, o que ocorre é que a maçonaria é considerada filosofia oculta pelos evangélicos. Nos últimos anos, houve evolução nessa visão, mas o assunto continua criando polêmicas.

Do lado católico, o Vaticano afirmou num documento de 1983 que os princípios da maçonaria “são considerados inconciliáveis com a doutrina da Igreja”.

Os religiosos são parte expressiva do eleitorado, tanto que os 2 candidatos à Presidência que estão no 2º turno disputam esse segmento desde o início da campanha.

A primeira-dama Michelle Bolsonaro, que é evangélica e tem entrada junto a esse segmento, tem atuado para conseguir votos pelo presidente nas igrejas.

Bolsonaro durante encontro com pastores evangélicos no Palácio do Planalto, em reunião com presença do pastor Silas Malafaia, Presidente do Conselho Interdenominacional de Ministros Evangélicos do Brasil (CIMEB), no dia 5 de junho de 2020 / Foto: Isac Nóbrega/PR
Bolsonaro durante encontro com pastores evangélicos no Palácio do Planalto, em reunião com presença do pastor Silas Malafaia, Presidente do Conselho Interdenominacional de Ministros Evangélicos do Brasil (CIMEB), no dia 5 de junho de 2020 / Foto: Isac Nóbrega/PR

Leia a íntegra da declaração de Bolsonaro sobre evento da maçonaria

De acordo com suas políticas editoriais, que podem ser vistas na seção Quem Somos deste site, o Correio Sabiá libera a íntegra do PDF extraído da Câmara, com tais notas taquigráficas, para que todos possam ter acesso e checar as informações aqui contidas por conta própria.

Para isso, basta abrir o documento PDF, dar um CTRL + F no teclado e procurar pelas palavras-chave. Ou simplesmente ir até o fim da página 23 e início da página 24 do documento, onde é possível checar as declarações do então deputado federal Jair Bolsonaro.

Naquela altura, Bolsonaro era congressista pelo PPB, o Partido Progressista Brasileiro, sigla criada um ano antes, em setembro de 1995 a partir da fusão do PPR (Partido Progressista Reformador) com o PP (Partido Progressista) e o PRP (Partido Republicano Progressista). 

Liderado pelo então prefeito de São Paulo, Paulo Maluf, o PPB teve como primeiro presidente nacional o senador Esperidião Amin, que foi presidente do PPR e atualmente é senador pelo PP de Santa Catarina. Em 4 de abril de 2003, o PPB voltou a se chamar apenas de PP (Partido Progressista), sigla que integra o “Centrão”, grupo de partidos sem coloração ideológica bem definida.

Eis abaixo a transcrição do convite feito por Bolsonaro para evento da Maçonaria em Brasília:

O SR. JAIR BOLSONARO – Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem. 

O SR. PRESIDENTE (Wilson Campos) – Tem V. ExB a palavra. 

O SR. JAIR BOLSONARO (Bloco/PPB – RJ. Pela ordem. Pronuncia o seguinte discurso.) – Sr. Presidente, Sr’s e Srs. Deputados, levo ao conhecimento desta Casa que a Loja Maçônica Miguel Archanjo Tolosa e a Associação Asbrade realizarão, em Brasília, o Seminário “Amazônia, uma questão nacional”.

Esses temas serão apresentados sob o enfoque da soberania nacional, ameaçada e questionada pelas nações estrangeiras colocando em risco a própria unidade nacional.

Serão abordados assuntos como: a Amazônia no contexto internacional; o garimpo; o potencial hídrico e energético; o Projeto Calha Norte; o ecoturismo; a questão indígena; política mineral da Amazônia e ações governamentais naquela região.

Todos os cidadãos preocupados com o futuro do Brasil devem cada vez mais se inteirar dessas questões, pois o tempo corre contra nós, já que a cobiça internacional pelas riquezas existentes na Amazônia, como sua biodiversidade, os minerais estratégicos e espaços vários em mãos daqueles que ignoram tais valores, representa uma constante ameaça.

O evento se dará no período de 16 a 20 de setembro, no Espaço Cultural Telebrás, em Brasma.

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