Apagão em Portugal e na Espanha: o que sabemos até agora
Cerca de 50 milhões de pessoas ficaram sem luz na Península Ibérica. Confira quais as principais hipóteses do apagão.

Cerca de 50 milhões de pessoas ficaram sem energia elétrica nesta segunda-feira (28.abr.2025) por causa de um apagão de grandes proporções que atingiu praticamente toda a Península Ibérica –Portugal e Espanha.
- 🇪🇸 Espanha. O apagão afetou quase todo o território nacional, que ficou sem energia elétrica durante várias horas. A Espanha tem uma população de cerca de 48 milhões de habitantes, e relatos apontam que a maioria das regiões ficou sem luz, inclusive grandes cidades como Madri e Barcelona.
- 🇵🇹 Portugal: Também sofreu um apagão generalizado, que atingiu todo o território continental. Portugal tem cerca de 10 milhões de habitantes, e a REN (operadora nacional, cuja sigla significa Redes Energéticas Nacionais) confirmou que o corte foi em larga escala, afetando o país inteiro.
O blecaute começou por volta das 11h30 em Portugal e 12h30 na Espanha (7h30 em Brasília) e também provocou falhas pontuais em partes da França, Andorra, Bélgica, Alemanha, Países Baixos e Bélgica, por exemplo, segundo relatos de operadoras e autoridades locais.
O jornal britânico The Guardian reportou que ao menos 5 pessoas morreram na Espanha por desdobramentos do apagão: 3 pessoas de uma família ficaram asfixiadas por monóxido de carbono após usar um gerador; 1 mulher morreu após sua máquina de oxigênio falhar; e 1 pessoa morreu após um incêndio causado por uma vela.
Quais os impactos imediatos do apagão?
Morador do Porto, cidade ao norte de Portugal, o empreendedor Patrick Rahy contou ao Correio Sabiá como foi sua experiência no blecaute:
"Saí de uma escritura [de imóvel] e já estavam todos os sinais apagados. Foi a uns 5km de casa. Nesse trajeto, todos os sinais já estavam sem funcionar. O trânsito, aquela loucura. Geral sem saber muito o que fazer. Isso era umas 11h da manhã.
Eu estava com pouca gasolina e passei num posto. Chegando lá, fechados. Fui no outro [posto] que era perto, e tinha muita fila. O cara estava fechando o posto e falou: 'Só tem uma bomba funcionando, está um caos, a gente vai fechar'. Aí perguntei o que estava rolando, e ele: 'Não sei, não estão funcionando as bombas'.
Esperei lá, porque apesar do caos, tinha uma bomba funcionando mas bem devagar (porque a galera ainda tinha que ir lá dentro do posto pagar). Só que bem na minha vez acabou a luz ali também."
Depois disso, Patrick contou que tentou ligar para a namorada para saber se em casa tinha luz, mas não conseguiu:
"Não completava a chamada normal nem com internet. Nisso, tentei colocar na rádio para ouvir algo e nenhuma funcionava. (...) Nessa hora, fui na direção de casa e não consegui parar o carro na garagem porque não tinha como abrir o portão."
Em tópicos, alguns dos transtornos causados pelo apagão, de forma geral:
- Paralisação do transporte público. Metrôs, trens e bondes ficaram inoperantes em grandes cidades da Europa, como Lisboa, Porto, Madri, Barcelona e outras. Passageiros foram evacuados de composições. Estações ficaram às escuras.
- Trânsito. Semáforos apagados causaram congestionamentos e acidentes, especialmente nas capitais. Autoridades pediram que as pessoas evitassem sair de carro.
- Aeroportos e voos. Diversos aeroportos, como Barajas (Madri) e Humberto Delgado (Lisboa), suspenderam pousos e decolagens, gerando filas e atrasos. Passageiros foram orientados a não se deslocarem para aeroportos.
- Serviços essenciais. Hospitais recorreram a geradores de emergência, mas algumas unidades reduziram atividades para poupar recursos. Bancos, supermercados e lojas só aceitavam dinheiro, já que sistemas eletrônicos ficaram fora do ar.
- Telecomunicações. Sinal de celulares, internet e até portas eletrônicas de apartamentos foram afetados, deixando turistas e moradores do lado de fora de suas residências.
- Trabalho. Sem internet e sem comunicação, o dia de trabalho de milhões de pessoas foi perdido.
- Desabastecimento. Geladeiras desligadas e fogões de indução sem funcionar. Houve uma corrida aos mercados em busca de comida. As imagens que obtivemos mostram os supermercados com prateleiras completamente vazias.
Quais as causas do apagão?
As causas do apagão ainda não foram oficialmente confirmadas, mas as principais suspeitas recaem sobre uma avaria crítica numa linha de alta tensão entre a França e a Espanha. Houve ainda a suspeita de que um raro fenômeno atmosférico poderia ter afetado a rede elétrica espanhola, desencadeando um efeito dominó em toda a Península Ibérica e parte da Europa. Estas e outras hipóteses estão abaixo (lembrando que nenhuma delas tinha sido confirmada até a última deste conteúdo, às 20h45 do dia 28 de abril de 2025):
- O apagão pode ter sido causado por uma avaria crítica numa linha de transmissão de muito alta tensão que liga a França à Espanha. Esta falha teria provocado um desequilíbrio na rede elétrica interconectada, desencadeando o colapso do sistema e afetando toda a Península Ibérica, além de partes de outros países europeus.
- Vibração atmosférica induzida: Segundo a REN (Redes Energéticas Nacionais), operadora portuguesa, variações extremas de temperatura no interior da Espanha causaram oscilações anômalas nas linhas de transmissão de muito alta tensão (400 kV), fenômeno chamado de "vibração atmosférica induzida". Isso teria gerado falhas de sincronização e perturbações sucessivas na rede europeia interligada, levando ao colapso do sistema.
- Incêndio em linha de transmissão: Um incêndio no sudoeste da França, na montanha Alaric, danificou uma linha de muito alta tensão entre Perpignan e Narbonne, hipótese também considerada como possível gatilho do blecaute.
- Ciberataque: Inicialmente, autoridades portuguesas e espanholas não descartaram a possibilidade de um ataque hacker. No entanto, o Centro Nacional de Cibersegurança de Portugal e o Conselho Europeu afirmaram que não há indícios de ciberataque até o momento. Esta possibilidade já está descartada.
Contexto e soluções
O apagão expõe a vulnerabilidade das redes elétricas interligadas da Europa a fenômenos naturais extremos e/ou falhas em pontos críticos de transmissão.
Para reduzir os riscos dessa operação, eis abaixo 3 potenciais soluções:
- Modernização e resiliência das redes elétricas, com sensores e sistemas de resposta rápida para isolar falhas.
- Planos de contingência integrados entre países vizinhos, para evitar efeitos dominó em cascata.
- Maior monitoramento climático, com previsão de riscos para antecipar e mitigar impactos de fenômenos atmosféricos raros.
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