Amazônia teve o agosto com mais queimadas dos últimos 12 anos

Amazônia teve o agosto com mais queimadas dos últimos 12 anos
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Amazônia teve mês de agosto com mais queimadas nos últimos 12 anos

Desde 2010 não se verificava tantos focos de queimadas na região, segundo dados do governo federal
Amazônia: dados do desmatamento também têm mostrado sucessivos recordes na região. Imagem mostra a Terra Indígena Mãe Maria, no Pará / Foto: Aiteti Gavião/WWF Brasil
Amazônia: dados do desmatamento também têm mostrado sucessivos recordes na região. Imagem mostra a Terra Indígena Mãe Maria, no Pará / Foto: Aiteti Gavião/WWF Brasil

A Amazônia teve o mês de agosto com mais focos de queimadas dos últimos 12 anos, de acordo com dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Ou seja, desde 2010 não se verificava tantos focos de queimadas na região.

Ao todo, agosto teve 33.116 focos de queimadas na Amazônia, quantidade que supera até o número de 2019, quando houve o chamado “Dia do Fogo”, com 28.060 focos. 

Verificou-se ainda uma “explosão” da quantidade de focos de queimadas em agosto, já que o total acumulado de focos no período de janeiro até o último mês foi de aproximadamente 46 mil focos.

Em nota, a ONG WWF Brasil disse que “em todos os 4 anos que correspondem à atual gestão federal o número de focos de queimadas na Amazônia teve valores próximos ou superiores a 40 mil entre janeiro e agosto.”

A nota informou que, nos 10 anos anteriores (2009-2018), a média de focos no mesmo período (janeiro a agosto) foi de cerca de 28 mil focos.

O Correio Sabiá recebeu a nota do WWF Brasil enviada à imprensa e disponibiliza a íntegra abaixo, conforme orientam suas Políticas Editoriais disponíveis e públicas na seção Quem Somos deste site

  • Eis a íntegra da nota do WWF Brasil a respeito do desmatamento na Amazônia
Do editor: Sempre que possível disponibilizamos íntegras de documentos oficiais por questões de transparência e para que você possa se aprofundar em assuntos do seu interesse, se assim desejar.

Quando e como ocorrem as queimadas na Amazônia

Gerente de Ciências do WWF-Brasil, Mariana Napolitano afirmou que “o descontrole das queimadas observado nos últimos 4 anos está estreitamente associado a um aumento do desmatamento e da degradação florestal nesse período”.

“A Amazônia é uma floresta tropical úmida e, ao contrário do que ocorre em outros biomas, o fogo não faz parte de seu ciclo natural. Os incêndios não surgem de forma espontânea no bioma e sua ocorrência está sempre associada a ações humanas –em especial ao desmatamento e à degradação florestal”, afirmou no comunicado recebido pelo Correio Sabiá.

Do editor: o WWF Brasil explicou mais didaticamente em que situação ocorrem as queimadas na Amazônia e o Correio Sabiá, dentro da sua função de explicar o noticiário para que você realmente entenda as notícias, transcreve abaixo a explicação.

As queimadas, em geral, correspondem à última fase do desmatamento: depois de cortar as árvores, os desmatadores colocam fogo na floresta derrubada para “limpar o terreno”. Mas a degradação florestal também contribui fortemente para o aumento o fogo.

As áreas degradadas, embora não tenham sido totalmente devastadas pelo corte raso:

  1. têm menor números de árvores grandes,
  2. são mais suscetíveis aos efeitos das secas,
  3. acumulam mais biomassa seca e inflamável, e
  4. assim, ficam mais vulneráveis ao fogo.

Assim como as queimadas, o desmatamento também aumentou consideravelmente nos últimos 4 anos. Embora os dados de agosto ainda não estejam disponíveis, o período do início de janeiro ao fim de julho mostrou que a devastação bate recordes sucessivos desde 2019. De acordo com o sistema de alerta Deter (Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real), do Inpe:

  1. de 2016 (início da série histórica) a 2018, a média anual de alertas de desmatamento na Amazônia Legal corresponde a 2,6 mil km², no período entre janeiro e julho.
  2. de 2019 a 2022, no mesmo período, a média anual foi de 5 mil km².
  3. em 2022, foram 5,4 mil km² devastados.

O Deter é um sistema de alerta, que detecta sinais de desmatamento com base em imagens de satélites. Serve para dar suporte aos órgãos de fiscalização ambiental, como o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), por exemplo. O sistema registra a retirada completa da floresta nativa e as áreas com degradação progressiva

Assim, o Deter reporta mensalmente o ritmo da degradação florestal e do desmatamento. No entanto, as imagens podem eventualmente ficar prejudicadas pela cobertura de nuvens, impossibilitando a identificação de todos os desmatamentos. Ou seja, a conta do desmatamento pode ser maior.

Amazônia teve maior desmatamento da história no 1º semestre de 2022

mostramos anteriormente no Correio Sabiá que a Amazônia teve neste ano (2022) o seu maior desmatamento histórico desde 2016. Isso porque foram desmatados 3.988 km² no 1º semestre deste ano. A série histórica, que começou justamente em 2016.

Confira abaixo outros dados do desmatamento no 1º semestre deste ano:

  • O desmatamento na Amazônia neste primeiro semestre de 2022 é praticamente 3 vezes maior que o registrado em 2017 (1.332 km²).
  • Este é o 4º ano consecutivo com recordes de desmatamento no período.
  • O aumento do desmatamento no 1º semestre de 2022 em comparação aos primeiros 6 meses de 2021 foi de 10,6%.
  • No 1º semestre de 2022, o município de Formosa do Rio Preto (BA) foi o campeão de alertas de desmatamento com 261 km².
  • O mês de junho também teve a pior marca da série histórica.
  • Foram devastados 1.120 km² no mês na Amazônia, 5% a mais que em junho de 2021 (1.061 km²).
  • Os estados mais desmatados em junho de 2022 foram o Amazonas (401 km²) e o Pará (381 km²).
Grupo Especializado de Fiscalização (GEF) do Ibama desativa garimpos ilegais nos parques nacionais do Jamanxim e do Rio Novo, no Pará.     Foto: Felipe Werneck/Ibama
Grupo Especializado de Fiscalização do Ibama desativa garimpos ilegais nos parques nacionais do Jamanxim e do Rio Novo, no Pará / Foto: Felipe Werneck/Ibama

Gerente de Ciências do WWF-Brasil, Mariana Napolitano afirmou naquela ocasião que o desmatamento da Amazônia no 1º semestre de 2022 foi alarmante e que coloca o bioma cada vez mais perto do ponto a partir do qual a floresta não conseguirá mais se sustentar, nem prover os serviços ambientais dos quais o país depende.

“Perdemos 3.988 km² na Amazônia Legal em apenas 6 meses, confirmando a tendência de intensificação do desmate dos últimos 3 anos. Quando perdemos floresta, colocamos em risco nosso futuro. A Amazônia é chave para a regulação das chuvas das quais dependem nossa agricultura, nosso abastecimento de água potável e a disponibilidade de hidroeletricidade. O roubo de terras públicas e o garimpo ilegal, que não geram riqueza ou qualidade de vida, está destruindo nosso futuro”, afirmou num outro comunicado do WWF Brasil recebido pelo Correio Sabiá àquela altura.

Desmatamento no Cerrado brasileiro mais que dobra em junho de 2022

Apesar de a Amazônia chamar atenção por seu tamanho, outros biomas têm sofrido com o mesmo problema do desmatamento. Também mostramos no Correio Sabiá que o Cerrado, por exemplo, dobrou o desmatamento no mês de junho.

Ou seja, considerando-se apenas o mês de junho deste ano, foram desmatados 1.026 km² –mais que o dobro do registrado em 2021 (485 km²) e 2020 (427 km²). O aumento é de 111,5% em comparação a junho do ano passado.

Em junho de 2022, mais uma vez, os estados mais devastados estão no que se chama de “Matopia”: Maranhão (400 km²) e Tocantins (193 km²).

No acumulado deste ano, entre o início de janeiro e o fim de junho (1º semestre), foram devastados 3.638 km² no Cerrado. O aumento é de 44,5% em comparação aos 6 primeiros meses de 2021, quando foram destruídos 2.518 km².

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