7 entrelinhas no pronunciamento do Lula no 7 de setembro

Sem citar nomes, presidente reafirmou que não aceita 'interferência de nenhum governo estrangeiro' e declarou que políticos que atuam contra o Brasil são 'traidores da pátria'

7 entrelinhas no pronunciamento do Lula no 7 de setembro
Imagem: Ricardo Stuckert/PR
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez um pronunciamento em rede nacional de rádio e TV por ocasião das comemorações de 7 de setembro, Dia da Independência, feriado nacional. O discurso (*íntegra abaixo) foi exibido na véspera (6.set.2025), às 20h30 (horário de Brasília).

Assista ao pronunciamento no YouTube

7 entrelinhas do discurso do Lula

Soberania nacional e multilateralismo

O grande mote do pronunciamento foi a defesa da soberania nacional. Em diversas ocasiões, Lula repetiu que o Brasil não aceitará interferências estrangeiras.

"Somos capazes de governar e de cuidar da nossa terra e da nossa gente, sem interferência de nenhum governo estrangeiro."

O presidente também falou no multilateralismo e no livre comércio com os demais países. O Brasil é um defensor histórico da reforma de organismos internacionais, como o Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas).

"Defendemos o livre comércio, a paz, o multilateralismo e a harmonia entre as nações, mas nunca abriremos mão da nossa soberania."

As declarações ocorrem num momento em que o país é pressionado pelos Estados Unidos com sanções de 50% aos seus produtos exportados. O Brasil usou a OMC (Organização Mundial do Comércio) para recorrer da medida norte-americana.

As sanções têm motivação política, conforme explicitado na carta pública assinada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que pede o fim do processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por suposta tentativa de golpe de Estado.

No pronunciamento, Lula reafirmou que o Poder Executivo não tem ingerência sobre o Judiciário, que é independente e toma suas próprias decisões, como é natural da democracia brasileira.

Nem Trump nem os Estados Unidos foram citados explicitamente no discurso.

'Traidores da pátria'

Sem citar nomes, Lula reafirmou que políticos que atuam para estimular os ataques externos ao Brasil são "traidores da pátria" e declarou que "a História não os perdoará".

"É inadmissível o papel de alguns políticos brasileiros que estimulam os ataques ao Brasil. Foram eleitos para trabalhar pelo povo brasileiro, mas defendem apenas seus interesses pessoais. São traidores da pátria. A História não os perdoará."

A declaração ocorre num momento em que o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) atua nos Estados Unidos, junto a autoridades norte-americanas, para promover sanções contra o Brasil, como as sobretaxas de 50% contra os produtos brasileiros de exportação. Da mesma forma, estimula a sanção de autoridades. O objetivo –declarado publicamente pelo próprio congressista– é retirar os processos que pesam contra o pai.

Conquistas do governo e COP30

Lula listou iniciativas de seu governo para reduzir a desigualdade social como forma de conquistar soberania. Mencionou o programa Pé-de-Meia, criado na atual gestão; o Bolsa Família; e a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil ao mês, proposta que está em tramitação no Congresso Nacional e representa uma promessa de campanha eleitoral em 2022. Ainda citou a saída do Brasil do Mapa da Fome da ONU (Organização das Nações Unidas) e a menor taxa de desemprego da História.

O presidente ainda falou sobre a redução do desmatamento na Amazônia, a defesa do governo ao meio ambiente e a realização da COP30 em Belém, no Pará, um dos 9 estados que compõem a Amazônia Legal brasileira. Todas essas medidas, conforme o discurso, ajudam a construir uma nação soberana.

Segurança pública: megaoperação contra o crime

Lula falou da "coragem de fazer a maior operação contra o crime organizado da História, sem se importar com o tamanho da conta bancária dos criminosos." A megaoperação mencionada pelo presidente ocorreu em diferentes estados e atingiu dezenas de alvos ligados ao PCC, maior facção criminosa do país.

A investigação revelou um esquema bilionário em que o PCC teria adquirido cerca de R$ 30 bilhões em bens patrimoniais pelo Brasil, entre postos de gasolina e até ações de fintechs (empresas que conectam finanças e tecnologia). Alguns dos alvos estavam na Faria Lima, coração do mercado financeiro, em São Paulo.

O caso é especialmente relevante porque houve uma narrativa falsa que circulou em campanha eleitoral e que buscava conectar o atual presidente ao PCC. A mesma narrativa voltou a circular em maio de 2025, quando o governo brasileiro negou pedido do governo dos Estados Unidos para enquadrar o PCC e outras facções criminosas como "organizações terroristas".

O motivo da recusa é que esta é uma discussão do Congresso Nacional, e não do Poder Executivo. Isso porque a legislação brasileira só permite enquadrar como "organização terrorista" aquele grupo que agir com motivações ideológicas –e entende-se que PCC e outros grupos semelhantes norteiam seus atos como "crime pelo crime".

O Correio Sabiá detectou que a mesma narrativa foi requentada e voltou a circular em grupos com tendência bolsonarista no mesmo dia em que a megaoperação foi realizada, em 28 de agosto de 2025.

Tanto a realização da megaoperação quanto a menção em pronunciamento representam um avanço do governo federal numa área politicamente frágil e sensível para a esquerda, já que ficou vinculada a setores da direita na História recente: a segurança pública.

'PIX é do Brasil'

Outro alvo constante de narrativas falsas é o PIX, desenvolvido pelo Banco Central do Brasil. Algumas das principais desinformações sobre o sistema de pagamentos falam em taxação ou privatização.

"Defendemos o PIX de qualquer tentativa de privatização. O PIX é do Brasil. É público, é gratuito e vai continuar assim."

Regulação das plataformas digitais

Falou da importância das plataformas digitais para múltiplas finalidades, mas ressaltou que as redes devem obedecer à lei brasileira. Por isso, não podem dar espaço para cometimento de crimes dos mais diversos tipos.

"Reconhecemos a importância das redes digitais. Elas oferecem informação, conhecimento, trabalho e diversão para milhões de brasileiros, mas não estão acima da lei. As redes digitais não podem continuar sendo usadas para espalhar fake news e discurso de ódio. Não podem dar espaço à prática de crimes como golpes financeiros, exploração sexual de crianças e adolescentes e incentivo ao racismo e à violência contra as mulheres."

Esta declaração é relevante porque ocorre num contexto de disputa pela regulação ou não das big techs. Também acontece após o STF (Supremo Tribunal Federal) decidir até que ponto vai a responsabilização das redes pelo que os usuários publicam. O entendimento geral foi o seguinte:

“Enquanto o Congresso Nacional não editar nova lei sobre o tema, a plataforma será responsabilizada civilmente pelos danos decorrentes de conteúdos gerados por terceiros em casos de crimes em geral ou atos ilícitos se, após receber um pedido de retirada, deixar de remover o conteúdo. A regra também vale para os casos de contas denunciadas como falsas”, segundo nota do próprio STF.

'União', bandeira nacional e cores do Brasil como símbolos que pertencem 'a todos'

A bandeira nacional e as cores do Brasil foram usadas nos últimos anos em diversas manifestações de viés bolsonarista. Lula encerrou o discurso falando em "união" e dizendo que os símbolos nacionais são de todos:

"Este é o momento da união de todos em defesa do que pertence a todos: a nossa Pátria brasileira e as cores da bandeira do nosso país."

Leia a íntegra do discurso

Querido povo brasileiro, amanhã, 7 de setembro, é dia de celebrarmos a Independência do Brasil. É uma boa hora para a gente falar de soberania.

O 7 de setembro representa o momento em que deixamos de ser colônia e passamos a conquistar nossa independência, nossa liberdade e nossa soberania.

Na época da colonização, nosso ouro, nossas madeiras, nossas pedras preciosas, nada disso pertencia ao povo brasileiro. Toda nossa riqueza ia embora do Brasil para ajudar a enriquecer outros países.

Mais de 200 anos se passaram e nós nos tornamos soberanos. Não somos e não seremos novamente colônia de ninguém. Somos capazes de governar e de cuidar da nossa terra e da nossa gente, sem interferência de nenhum governo estrangeiro.

Mantemos relações amigáveis com todos os países, mas não aceitamos ordens de quem quer que seja. O Brasil tem um único dono: o povo brasileiro.

Por isso, defendemos nossas riquezas, nosso meio ambiente, nossas instituições. Defendemos nossa democracia e resistiremos a qualquer um que tente golpeá-la.

É inadmissível o papel de alguns políticos brasileiros que estimulam os ataques ao Brasil. Foram eleitos para trabalhar pelo povo brasileiro, mas defendem apenas seus interesses pessoais. São traidores da pátria. A História não os perdoará.

Minhas amigas e meus amigos, a soberania pode parecer uma coisa muito distante, mas ela está no dia a dia da gente. Está na defesa da democracia e no combate à desigualdade, a todas as formas de privilégios de poucos em detrimento do direito de muitos. Está na proteção das conquistas dos trabalhadores, no apoio aos jovens para que eles tenham um futuro melhor, na criação de oportunidades para os empreendedores e nos programas que ajudam os mais necessitados.

Se temos direito a essas políticas públicas, é porque o Brasil é um país soberano e tomou a decisão de cuidar do povo brasileiro.

Minhas amigas e meus amigos, um país soberano é um país fora do Mapa da Fome, que zera o Imposto de Renda de quem ganha até R$ 5 mil enquanto taxa os super-ricos que hoje não pagam quase nada. Que cresce acima da média mundial e registra menor índice de desemprego de todos os tempos. Um país com a coragem de fazer a maior operação contra o crime organizado da História, sem se importar com o tamanho da conta bancária dos criminosos.

Este país soberano e independente se chama Brasil.

Minhas amigas e meus amigos, desde o início do nosso governo, concentramos esforços na abertura de novas parcerias comerciais. Em apenas dois anos e oito meses, abrimos mais de 400 novos mercados para as nossas exportações. Defendemos o livre comércio, a paz, o multilateralismo e a harmonia entre as nações, mas nunca abriremos mão da nossa soberania.

Defender nossa soberania é defender o Brasil.

Cuidamos como ninguém do nosso meio ambiente. Reduzimos pela metade o desmatamento na Amazônia, que, em novembro, vai sediar a COP30, maior conferência mundial sobre o clima.

Defendemos o PIX de qualquer tentativa de privatização. O PIX é do Brasil. É público, é gratuito e vai continuar assim.

Reconhecemos a importância das redes digitais. Elas oferecem informação, conhecimento, trabalho e diversão para milhões de brasileiros, mas não estão acima da lei. As redes digitais não podem continuar sendo usadas para espalhar fake news e discurso de ódio. Não podem dar espaço à prática de crimes como golpes financeiros, exploração sexual de crianças e adolescentes e incentivo ao racismo e à violência contra as mulheres.

Zelamos pelo cumprimento da nossa Constituição, que estabelece a independência entre os Três Poderes. Isso significa que o presidente do Brasil não pode interferir nas decisões da justiça brasileira, ao contrário do que querem impor ao nosso país.

Minhas amigas e meus amigos, este é o momento em que a História nos pergunta de que lado estamos. O Governo do Brasil está do lado do povo brasileiro. Povo que acorda cedo, todos os dias, para trabalhar pela prosperidade da sua família.

Este é o momento da união de todos em defesa do que pertence a todos: a nossa Pátria brasileira e as cores da bandeira do nosso país.

A História nos coloca diante de um grande desafio e pergunta se somos capazes de enfrentá-lo. E nós dizemos: sim. Temos fé, experiência e coragem para seguir cuidando do nosso futuro e da esperança da nossa gente.

Que Deus abençoe o Brasil.

Um abraço, e feliz Dia da Independência.

Author

Maurício de Azevedo Ferro
Maurício de Azevedo Ferro

Jornalista e empreendedor. Criador/CEO do Correio Sabiá. Emerging Media Leader (2020) pelo ICFJ. Cobriu a Presidência da República.

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