1/3 do plástico produzido no Brasil vai parar nos oceanos, diz pesquisa
1/3 do plástico produzido no Brasil vai parar nos oceanos, diz pesquisa
Em média, cada brasileiro seria responsável, anualmente, por 16kg de plástico que chegam aos mares
Cerca de 1/3 do plástico produzido no Brasil vai parar no oceano. É isso o que indica uma pesquisa realizada pelo projeto Blue Keepers, do Pacto Global da ONU (Organização das Nações Unidas) no Brasil, com apoio do Instituto Oceanográfico da USP (Universidade de São Paulo). O estudo foi apresentado nesta quarta-feira (29.jun.2022) durante a programação paralela à Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, que ocorre em Lisboa, Portugal.
Dessa maneira, em média, cada brasileiro seria responsável, anualmente, por 16kg de plástico que chegam aos mares.
“O estudo traz estimativas sobre a realidade brasileira em relação ao caminho que os resíduos percorrem até chegar ao mar, sinalizando estratégias que podem ser analisadas com os municípios com maior urgência e eficácia”, declarou o professor da USP, Alexander Turra, responsável pela Cátedra Unesco para a Sustentabilidade do Oceano e membro da RECN (Rede de Especialistas em Conservação da Natureza).
Além da prevenção e do combate ao lixo que vai parar no mar, a COO (Chief Opperating Officer) do Pacto Global da ONU no Brasil, Camila Valverde, afirmou que a descarbonização do transporte marítimo e o mapeamento e uso de recursos marinhos também são pautas que interessam ao setor privado e precisam avançar no Brasil.
“O setor privado tem uma missão de contribuir para o atingimento de todos os ODS [Objetivos de Desenvolvimento Sustentável], que estão todos interligados. Contribuindo com o ODS 14, de Vida Marinha, também contribuem com saneamento (ODS 6), produção e consumo sustentável (ODS 12) e estabelecimento de parcerias (ODS 17)”, disse.
Engenheira de pesca, conselheira da Liga das Mulheres pelo Oceano e colaboradora do Observatório do Clima, Ana Paula Prates afirmou que a mineração em alto mar pode provocar impacto ambiental de graves proporções.
“Ainda nem temos a noção exata do que pode ser perdido em termos de biodiversidade, porque a maioria dos ambientes em que se pretende minerar são ainda desconhecidos. É preciso muito cuidado”, declarou.
Prates afirmou ainda que “precisamos e podemos usar o oceano para minimizar os impactos das mudanças climáticas, mas não tentar solucionar um problema criando outro, de proporções ainda desconhecidas”.
De acordo com ela, também é necessário fazer planejamento para a expansão do transporte de cabotagem para saber “onde a atividade pode ser feita e de que forma será mais segura”:
“Apesar da diminuição da emissão de carbono em relação a caminhões, a atividade gera impactos importantes, como a necessidade de ampliação de portos e mais navios no mar, aumentando a possibilidade de acidentes. Para a sustentabilidade de todas essas atividades econômicas é necessário um planejamento espacial marinho muito bem feito, usando como base a biodiversidade.”
Conferência dos Oceanos da ONU 2022
Todos esses resultados estão sendo apresentados na Conferência dos Oceanos da ONU (Organização das Nações Unidas), evento iniciado nesta segunda-feira (27.jun) e que será realizado até sexta-feira (1º.jul) em Lisboa.
A conferência debate o desenvolvimento de uma agenda sustentável para os oceanos e, mesmo à distância, o Correio Sabiá fará a cobertura como parte de seu compromisso de divulgar reportagens de Meio Ambiente e Ciência.
O evento é importante, porque, conforme alerta a Segunda Avaliação Global do Oceano, publicada pela ONU em 2021, as pressões provocadas pelas atividades humanas estão:
- causando elevação do nível do mar
- acidificação da água
- perda da capacidade dos mares em absorver carbono
- destruição de habitáts
- pesca não-sustentável
- invasão de espécies exóticas
- formas variadas de poluição
- desenvolvimento costeiro desordenado
Organizado em parceria pelos governos de Portugal e Quênia, o evento da ONU pretende ampliar os compromissos entre os países para aumentar a cooperação e o investimento em soluções inovadoras baseadas na ciência, destinadas a iniciar um novo capítulo na ação global pelo bem do oceano.
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Outros dados sobre os oceanos divulgados na Conferência
Outro levantamento apresentado na conferência e divulgado nesta terça-feira (28) pelo Correio Sabiá mostrou mais dados sobre o que pensa o brasileiro sobre os oceanos.
- 48% dizem priorizar com frequência compras com menor impacto na natureza e no oceano, como produtos com menos embalagens e sem poluentes; 22% dizem que a prática ocorre somente às vezes, e 11%, raramente.
- 18% dizem que nunca se preocupam em fazer compras de menor impacto à natura e ao oceano;
- 19% dos entrevistados dizem que nunca evitam o uso de copos plásticos de única utilização; 13% dizem que evitam raramente.
Em relação a este último dado, considerando que 32% (19% + 13%) dos brasileiros não evitam o uso de copos de plástico, há aproximadamente 68 milhões de brasileiros fazendo uso frequente desse tipo de objeto. Se houver uso de 3 unidades de 200ml por semana, são 10,6 bilhões de unidades por ano. Como cada copo pesa em média 1,8g, são 19,1 mil toneladas de copos brasileiros ao ano.
“Cerca de 80% da poluição encontrada no mar vêm do continente. Se fizermos projeções a partir dos dados encontrados, chegamos a resultados preocupantes. “Só de copo plástico. Quanto disso é reciclado? Quanto chega ao oceano? Muito desse lixo produzimos quando estamos fora de casa. Levar junto um copo reutilizável já é um avanço”, declarou no comunicado a diretora-executiva da Fundação Grupo Boticário, Malu Nunes.
Veja mais dados do levantamento:
- 40% da população ainda não associam como suas atitudes podem impactar o oceano;
- 24% consideram que suas ações geram impactos apenas indiretos;
- 35% dos brasileiros afirmam que sempre evitam o uso de canudinhos e copos plásticos, enquanto 19% nunca evitam usar plásticos descartáveis.
- 72% dos entrevistados identificam a poluição, seja por lixo ou esgoto, como o maior problema para a saúde dos oceanos; pesca irregular (16%) e vazamentos de navios (12%) vêm depois;
- 41% acreditam que a atuação brasileira para preservação do oceano é negativa; 31% consideram a atuação neutra; 28% avaliam de forma positiva;
- 57% das pessoas acreditam que a melhor forma de atuar em favor da conservação do oceano é pela comunicação, se engajando como apoiador e/ou agente de divulgação;
- 25% dos respondentes dizem estar dispostos a “colocar a mão na massa” pela mudança;
- numa escala de 0 a 10, a intenção dos respondentes em mudar hábitos pelo bem do oceano atinge a média de 8,3.
“É muito importante a constatação da disposição da população brasileira em mudar seus hábitos a favor do oceano, especialmente ao considerarmos a extensão da nossa costa e de levarmos em conta que somos um país continental, com muita gente vivendo longe do mar”, disse o coordenador de Ciências da Unesco Brasil, Fábio Eon.
Por que os oceanos são tão importantes para a manutenção da vida no planeta?
Os oceanos abrigam a maior biodiversidade do planeta e também é fundamental para a regulação do clima, pois absorve mais de 30% das emissões de dióxido de carbono (CO2) e 90% do excesso de calor gerado pelo aumento das emissões de gases de efeito estufa
“O oceano contribui diretamente com cerca de US$ 1,5 trilhão para a economia mundial, sendo que apenas o setor de alimentos gera em torno de 237 milhões de empregos no mundo”, declarou Ronaldo Christofoletti, professor do Instituto do Mar da Unifesp, copresidente do Grupo Assessor de Comunicação para a Década do Oceano da Unesco e membro da RECN (Rede de Especialistas em Conservação da Natureza).
Christofoletti também declarou que a percepção de que “o oceano começa na nossa casa, mesmo que estejamos a muitos quilômetros de distância do mar” precisa ser “estimulada” já que boa parte das pessoas têm pouco contato com o ambiente marinho.
“Os mares geram alimentos, energia, minerais, fármacos e milhões de empregos ao redor do mundo em diferentes atividades econômicas. São imprescindíveis para o transporte e o comércio internacional, além de importantes para o nosso lazer e bem-estar”, declarou.
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