Artigo: 'Israel segue ao 5º processo eleitoral em apenas 3 anos e meio'
Artigo: ‘Israel a caminho do 5º processo eleitoral em apenas 3 anos e meio’, escreve Henry Galsky
Em conjunto, primeiro-ministro e ministro das Relações Exteriores anunciaram dissolução do Parlamento
*Por Henry Galsky, de Israel
O primeiro-ministro de Israel, Naftali Bennett, e o ministro das Relações Exteriores, Yair Lapid, anunciaram a noite desta segunda-feira (20), em conjunto, que pretendem dissolver o Knesset, o Parlamento do país, e convocar novas eleições. Esta é uma decisão tomada a contragosto em função das grandes pressões que o atual governo vem sofrendo, em especial por parte da oposição liderada pelo ex-primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
- Financie o nosso jornalismo independente. Precisamos de você para continuar produzindo um material de qualidade.
A coalizão assumiu o governo com 62 parlamentares. Mas em abril deste ano perdeu a maioria. Há 120 cadeiras no Knesset. É preciso maioria mínima para formar uma coalizão estável. Neste momento, a oposição tem 55 assentos, mas não obtém maioria em função dos seis parlamentares da Lista Árabe Unificada, que não apoiam e não darão apoio a um governo liderado por Netanyahu.
Em seus discursos, Bennett e Lapid exaltaram as conquistas obtidas pelo breve governo (que tomou posse em junho do ano passado), como a aprovação do orçamento após três anos de impasse. Mais do que isso, esta coalizão era uma tentativa de tirar Netanyahu não apenas do cargo de primeiro-ministro, mas também do centro do debate político israelense.
Para isso, Bennett e Lapid, eles mesmos lideranças opostas, costuraram a coalizão mais diversa da história do país formada por 8 partidos de todo o espectro ideológico; de esquerda, direita, centro, e o Ra’am, legenda árabe representante do Movimento Islâmico em Israel.
Em tom emocionado, ambos elogiaram-se mutuamente. Em tempos de profunda polarização, os discursos de Bennett e Lapid são também a demonstração de que é possível entender, aceitar as diferenças e trabalhar a partir delas:
“Eu e Yair (Lapid) temos discordâncias, mas reconhecemos que temos muito em comum. O que nós fizemos – não o que eu fiz – foi porque trabalhamos juntos. Foi muito bom trabalhar em conjunto”, disse Bennet.
“Eu quero lhe agradecer pela sua amizade. Eu te amo”, respondeu Lapid.
Lapid é um político do centro da política israelense, líder do partido Yesh Atid (Há Futuro). Bennett é um tradicional político de direita, líder do partido Yemina (Direita).
O pragmatismo de Bennett ao lutar pela costura da coalizão e ao assumir o cargo de primeiro-ministro pode mesmo lhe custar grandes perdas nas urnas. A imprensa já especula até se ele deixará a política. Lapid, ao contrário, se mantém como força relevante. Nas primeiras pesquisas de intenção de voto já aparece como a segunda força, justamente atrás do Likud, partido liderado por Netanyahu.
A partir da dissolução do Knesset, Lapid passará a ocupar o cargo de primeiro-ministro até a formação de um novo governo. Bennet será primeiro-ministro alternativo e também responsável por uma pasta especial dedicada ao Irã –e a todas as movimentações regionais do principal inimigo de Israel, cujas estratégias são abordadas por aqui com frequência.
As novas eleições devem ocorrer em 25 de outubro. Será o quinto processo eleitoral em três anos e meio, mostrando a instabilidade política e as profundas divisões da sociedade israelense. Enquanto as lideranças dos partidos se debatem entre conceitos e ideologias, Israel encara problemas mais cotidianos, como reivindicações por melhorias de salários e condições de trabalho por parte de professores e motoristas de ônibus e grandes questionamentos em torno dos altos custos de vida do país.
Assobio: o conteúdo deste artigo não reflete, necessariamente, a opinião do Correio Sabiá, que apenas abriu este espaço para o debate de ideias. Portanto, todo o material textual e visual, bem como as informações e juízos de valor aqui contidos, são de inteira responsabilidade do(s) autor(es). Para propor um artigo ao Sabiá, entre em contato: redacao@correiosabia.com.br.
Leia os outros textos de Henry Galsky no Correio Sabiá:
- 18.jun.2022 – ‘Risco de ataque do Irã leva Israel a fazer alerta incomum a cidadãos’
- 10.jun.2022 – ‘Liderada por Netanyahu, oposição derrota Bennett em Israel’
- 01.jun.2022 – ‘O cenário pós-eleitoral no Líbano’
- 24.mai.2022 – ‘Líbano: o que leva o país a ter inflação superior a 200%’
- 13.mai.2022 – ‘O ‘presente’ de Vladimir Putin à Europa’
- 11.mai.2022 – ‘Conflito entre israelenses e palestinos e os objetivos estratégicos do Hamas’
- 25.abr.2022 – ‘O significado do Monte do Templo/Nobre Santuário em Jerusalém’
- 15.abr.2022 – ‘Rússia se apressa para obter ganhos estratégicos antes de retomar negociações’
- 14.abr.2022 – ‘Em 3 semanas, 4 ataques deixam 13 mortos em Israel’
- 08.abr.2022 – ‘Reviravolta política em Israel deixa governo por um fio’
- 05.abr.2022 – ‘Coalizão de segurança internacional pode evitar novas invasões russas à Ucrânia’
- 01.abr.2022 – ‘A aliança entre Israel e os países árabes sunitas contra o Irã’
- 21.mar.2022 – ‘As controvérsias do discurso de Zelenskiy em Israel’
- 15.mar.2022 – ‘Energia leva EUA a buscar aproximação com outros países no Oriente Médio’
- 09.mar.2022 – ‘As razões que podem ter levado o primeiro-ministro de Israel a Moscou’
- 04.mar.2022 – ‘Turquia mantém estreitos abertos, mas coordena posição com a Rússia‘
- 28.fev.2022 – ‘O que explica a neutralidade de Israel no conflito Rússia-Ucrânia‘
- 26.fev.2022 – ‘Posição de Israel sobre guerra na Ucrânia‘
- 24.fev.2022 – ‘Um olhar inicial sobre a invasão à Ucrânia‘
- 24.fev.2022 – ‘Não se pode estabelecer maniqueísmos na crise entre Ucrânia e Rússia‘
- 14.fev.2022 – ‘A paciente estratégia de Putin’
- 05.fev.2022 – ‘Em Israel, combate ao covid também envolve questões políticas’
- 27.jan.2022 – ‘Putin considera hora reconhecimento internacional’
Apoie nossos voos
Fazemos um trabalho jornalístico diário e incansável desde 2018, porque é isso que amamos e não existe nada melhor do que fazer o que se ama. Somos movidos a combater a desinformação e divulgar conhecimento científico.
Fortalecemos a democracia e aumentamos a conscientização sobre a preservação ambiental. Acreditamos que uma sociedade bem-informada toma decisões melhores, baseadas em fatos, dados e evidências. Empoderamos a audiência pela informação de qualidade.
Por ser de alta qualidade, nossa operação tem um custo. Não recebemos grana de empresas, por isso precisamos de você para continuar fazendo o que mais gostamos: cumprir nossa missão de empoderar a sociedade civil e te bem-informado. Nosso jornalismo é independente porque ele depende de você.
Apoie o Correio Sabiá. Cancele quando quiser.