🖊️ Artigo: 'Créditos de carbono: os entraves e as soluções'
? Artigo: ‘Mercado de créditos de carbono: principais entraves geopolíticos e como a tecnologia brasileira pode ajudar’
Autor deste texto de opinião (pessoal), Gustavo Ene coordena o Comitê Executivo da Greener, plataforma de tokenização de ativos verdes
Por Gustavo Ene*
*Assobio: o texto abaixo é um artigo de opinião pessoal do autor. As opiniões, portanto, são dele (e não necessariamente refletem a visão do Correio Sabiá). Abrimos espaço para o debate público e para a exposição de ideias.
A visita do presidente Lula à China em abril resultou em diversos acordos relevantes, e um dos principais foi a cooperação para o clima: os países se comprometeram com uma economia sustentável, de baixo carbono, fortalecendo o tema da Economia Verde.
Essa pode ser a aliança global mais importante para deslanchar o mercado de créditos de carbono, embora ainda existam alguns entraves geopolíticos, como grande parte da oferta de ativos verdes de preservação e manutenção de florestas se concentrarem no hemisfério sul e a maior parte dos emissores de GEEs (Gases de Efeitos Estufa) estarem localizados no hemisfério norte do globo. Porém, avançando com entendimentos entre os papéis de cada player e com o uso da tecnologia, será possível continuar com a evolução deste cada vez mais fundamental setor, gerando renda e oportunidades para quem mais preserva: no caso, nós brasileiros.
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O fato é que quando falamos de Unidades Estocadas de Carbono, Ativo Verdes de preservação de Biomassa, podemos dizer que o Brasil esta sentado em cima de um “pré-sal verde”. Nossos biomas são densos, vastos e ricos em vida. Empresas brasileiras atuantes neste mercado estão cada vez mais interessadas em vender créditos de carbono para o gigante asiático, que responde por 1/4 das emissões mundiais de GEEs. A China colocou o combate às mudanças climáticas como um dos assuntos prioritários, mas não conseguirá migrar para uma economia de baixo carbono sem aumentar drasticamente a aquisição desses títulos.
- Leia também: Entenda o que é mercado de carbono
Os créditos funcionam como uma moeda de troca. Empresas ou países que reduzem as emissões negociam esse ganho como um ativo. Os compradores não deixam de emitir carbono, mas compensam financeiramente essa emissão para aquelas iniciativas ESG [environmental, social and governance] comprometidas em gerar créditos através de programas de preservação, diminuição de emissões ou de projetos de sequestro e carbono da atmosfera, por exemplo.
No entanto, ainda existem muitos desafios e incertezas. A principal é a falta de um padrão global para transações de crédito de carbono. Significa que os créditos gerados em um país podem não ser aceitos em outro. Além disso, há preocupações sobre a veracidade das informações dadas pelos países que geram os créditos e a dificuldade de se monitorar e verificar as emissões de gases de efeito estufa.
Outro entrave geopolítico é a distribuição geográfica dos créditos de carbono. Países com grandes áreas florestais, como o Brasil, têm um enorme potencial para gerar créditos de carbono por meio da preservação e restauração de florestas. Sem falar na sua gigantesca capacidade de geração de energias limpas e sua condição favorável de possuir muitas áreas férteis para reflorestamento.
Esses desafios podem ser resolvidos por meio de soluções tecnológicas, como o blockchain, uma tecnologia que permite a criação de um registro digital compartilhado, público, seguro e transparente para todas as transações, principalmente se o processo tiver foco na governança desde sua originação até o cumprimento do seu propósito de compensação ou neutralização de GEEs, levando os ativos à aposentadoria.
Atualmente, essa tecnologia tem sido utilizada também no mercado de crédito de carbono para mapear as transações financeiras e compartilhá-las de forma transparente com as partes interessadas, a fim de evitar negligências nas negociações e más práticas como o greenwashing [lavagem verde, em tradução livre, que quer dizer uma espécie de divulgação falsa sobre sustentabilidade] com a vantagem de reduzir ou eliminar a necessidade de intermediários e reduzindo custos de transação.
Com a evolução do blockchain, é possível fazer o que chamamos de “tokenizar” os créditos de carbono. Ou seja, são emitidos tokens digitais que rastreiam etapa por etapa da movimentação dos ativos. Tokenização é a digitalização do mundo analógico, que passa a ter uma autenticação digital. O Brasil já possui algumas opções de token neste sentido, que são comercializadas para empresas que buscam neutralizar suas emissões. Isso pode ajudar a aumentar a confiança no mercado de crédito de carbono e incentivar a participação de mais empresas e países.
Como alternativa, temos crédito de carbono gerados em projetos de conservação de florestas amazônicas e, por meio da compra de tokens especializados, os projetos mantêm a área preservada, sua flora e fauna, a filtragem da água, do solo. Além de ajudar no controle de temperatura, umidade e rios voadores (chuvas), a tecnologia pode ser usada ainda para monitorar as emissões de GEEs, permitindo que os países geradores de créditos de carbono possam ser mais facilmente fiscalizados.
No entanto, é importante ressaltar que o blockchain sozinho não é a solução para os problemas do mercado de crédito de carbono. Existem muitas questões legais, regulatórias e políticas que ainda precisam ser resolvidas para que o mercado de crédito de carbono possa se desenvolver plenamente. E a adoção da tecnologia em larga escala requer investimentos significativos em infraestrutura e pessoal qualificado, além de uma legislação coerente com os tempos atuais. Com um gigante como a China envolvido nesse compromisso, as expectativas são promissoras.
Apesar dos desafios que ainda precisam ser enfrentados, o mercado de crédito de carbono representa uma grande oportunidade para as empresas que buscam adotar práticas mais sustentáveis e contribuir para o combate às mudanças climáticas. Cada vez tem sido exigido das empresas comprometimento com a agenda ESG, que engloba sustentabilidade ambiental, social e de governança corporativa. E o Brasil está na vanguarda desse inadiável processo. Ganham as empresas, que investem em projetos com segurança e transparência, ganham a sociedade e o meio ambiente, com mais recursos econômicos para garantia de sua preservação.
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