Artigo: 'Em Israel, quase R$ 4 bilhões serão gastos nas eleições'

Artigo: 'Em Israel, quase R$ 4 bilhões serão gastos nas eleições'
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Artigo: ‘Em Israel, quase R$ 4 bilhões serão gastos nas eleições’, escreve Henry Galsky

Ciclo de 5 pleitos começou no fim de 2018, quando o então ministro da Defesa deixou a coalizão de Netanyahu
A disputa política ocorre no momento em que Israel debate os altos custos do país, em especial os de moradia / Levi Meir Clancy/Unsplash
A disputa política ocorre no momento em que Israel debate os altos custos do país, em especial os de moradia / Levi Meir Clancy/Unsplash
*Por Henry Galsky, de Israel

Há muitas dúvidas sobre as próximas eleições em Israel. Mas já há estimativas quanto aos custos, e os números são para lá de hiperbólicos: de acordo com o Israel Democracy Institute, o país irá gastar cerca de 2,54 bilhões de shekels (aproximadamente R$ 3,8 bilhões, pela cotação atual na data desta reportagem) em função do pleito. O dado chama a atenção, principalmente porque a disputa política ocorre no momento em que a sociedade israelense debate os altos custos do país, em especial os de moradia.

Portanto, os custos eleitorais podem ser lembrados –e serão lembrados, seguramente– pelos partidos da atual coalizão. Não é possível precisar o quanto esses dados terão algum impacto na decisão de voto, mas no jogo político tudo pode ser usado como material para atingir os adversários. Até porque, ao contrário do Brasil, esses valores não podem ser orçados a cada quatro anos.

Por aqui, não há limites quanto à frequência da disputa. Será o 5º processo eleitoral em 3 anos e meio. E, falando em custo, já se sabe a fonte de despesa do momento: a oposição liderada pelo ex-primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. As eleições do final deste ano só irão ocorrer graças à pressão que o líder e seus aliados exerceram desde que a atual coalizão tomou posse, em junho do ano passado.

Mas como a política é um jogo que normalmente não permite estabelecer maniqueísmos, é importante fazer um registro por aqui: este ciclo de 5 eleições começou em novembro de 2018, quando o então ministro da Defesa Avigdor Lieberman deixou a coalizão liderada por Netanyahu. Na ocasião, Lieberman justificou sua saída sob o argumento de que o governo estava se “rendendo ao terror”.

Ele se referia especificamente a uma rodada de enfrentamentos entre o Hamas e Israel. O país havia sido alvejado por 460 foguetes num intervalo de apenas 2 dias. E Netanyahu decidiu não ampliar o confronto, aceitando um cessar-fogo mediado pelo Egito.

Pois bem, hoje Lieberman é o ministro das Finanças do governo liderado por Naftali Bennett e Yair Lapid (este último será o primeiro-ministro até a formação –ou não– de uma nova coalizão na sequência das próximas eleições). Lieberman é justamente uma das principais figuras políticas a denunciar os altos custos deste novo processo eleitoral. Isso tudo pode parecer um tanto contraditório –e é mesmo. Mas assim, sob tantas contradições, vai se jogando o jogo.

Para concluir, vale ressaltar que a coalizão derrubada por Netanyahu e seus aliados tem entre seus méritos a aprovação do orçamento de 2022. Pode parecer pouco, mas o feito precisa ser analisado em perspectiva; essa foi a 1ª aprovação orçamentária em 3 anos e meio. Três anos e meio de impasses políticos.

E aí, também em perspectiva, é preciso falar em números para que se compreenda o tamanho do problema em que o sistema político israelense está metido: 5 eleições custam cerca de 12,7 bilhões de shekels (R$ 19,2 bilhões), tendo como base o custo das próximas eleições. No orçamento de 2022, o valor corresponde a mais de 30% dos recursos destinados ao desenvolvimento do transporte no país, um dos setores problemáticos em Israel.

Evidentemente que são questões distintas e origens diversas, mas a comparação serve para demonstrar o peso de sucessivos e aparentemente intermináveis processos eleitorais e também como o processo em si parece jogar contra as prioridades dos cidadãos do país, justamente aqueles que o sistema político deve –ou deveria– atender.

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