Trump ataca autonomia do Banco Central dos Estados Unidos

Trump também editou medida em que proíbe o Fed de continuar estudos sobre implementação de moeda digital, menos de uma semana após ele próprio lucrar bilhões com criptomoeda

Trump ataca autonomia do Banco Central dos Estados Unidos
Trump mostra decreto assinado por ele / Imagem: Reprodução/X (antigo Twitter)
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O presidente dos Estados Unidos 🇺🇸, Donald Trump, criticou nesta quinta-feira 23.jan.2025) o Fed (Federal Reserve), que é o Banco Central do país, por causa da taxa básica de juros. Trump exigiu que a instituição reduzisse o patamar dos juros e sugeriu que poderia forçar uma redução.

"Acho que conheço as taxas de juros muito melhor do que eles (...). E acho que sei certamente muito melhor do que aquele que está principalmente responsável por essa decisão", afirmou, em referência ao presidente da instituição, Jerome Powell, durante participação virtual no Fórum Econômico de Davos, na Suíça 🇨🇭.

Na próxima semana, na terça (28) e na quarta-feira (29), um colegiado do Fed se reúne para decidir o novo patamar da taxa.

💭 Contexto

Por que isso importa? As declarações de Trump, com exigência para reduzir a taxa básica de juros, choca-se frontalmente com o que se chama de "autonomia do Banco Central".

Entende-se (principalmente no campo político-econômico no qual Trump circula) que o Banco Central tem autonomia para tomar suas decisões, supostamente livre de interferência política.

No Brasil 🇧🇷, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e seus aliados criticaram o (agora) ex-presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, pelo patamar da taxa básica de juros desde a campanha eleitoral de 2022.

Embora nunca tenha nem sequer mencionado uma possibilidade de forçar a queda da taxa, Lula foi criticado de volta por agentes do mercado e empresas da imprensa nacional, que publicaram inúmeros exemplos de reportagens na linha de: "após críticas de Lula ao Banco Central, dólar sobe".

Trump ocupa um campo político-ideológico completamente diferente de Lula, mas foi ainda mais enfático contra o Banco Central norte-americano ao sugerir que poderia forçar a queda.

Após lucrar com cripto, Trump proíbe Banco Central dos EUA de lançar moeda digital

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, editou uma nova medida nesta quinta-feira (23.jan.2025): proibiu o Fed (Federal Reserve) de "criar, emitir ou promover uma moeda digital proveniente de um Banco Central".

Trump também determinou que o Fed coloque "fim" a todo o trabalho que vinha fazendo sobre essa possibilidade.

CBDC, na sigla em inglês, significa Central Bank Digital Currency, e a criação de uma versão digital das moedas nacionais vinha sendo debatida por bancos centrais de diversos países, inclusive pelo brasileiro.

A determinação de Trump alavanca o mercado de criptomoedas independentes. Algumas das mais conhecidas são Bitcoin e Ethereum. No entanto, há muitas outras.

Às vésperas de tomar posse como presidente, Trump endossou a compra de uma criptomoeda dele mesmo. São as próprias empresas do então presidente eleito que detêm a maior parte desses ativos.

Foi assim que Trump ganhou cerca de US$ 15 bilhões do dia para a noite, usando sua influência e popularidade. Os ativos da moeda que ele endossou valorizaram quase 386% num único dia.

Este não é o único sinal do atual governo ao mercado cripto. O bilionário Elon Musk, que costuma endossar a compra de uma moeda chamada "Doge Coin", ganhou um cargo no governo federal: vai comandar o Departament of Government Efficiency", ou seja, Doge.

Se para bom entender meia palavra basta, imagine uma palavra inteira. A moeda disparou com o anúncio.

Observação: uma criptomoeda é diferente de uma CBDC. A CBDC é uma moeda virtual, que tem um lastro no próprio Banco Central de cada país. Nada mais é do que a digitalização de uma moeda nacional, como o real (R$) ou dólar (US$). Já a criptomoeda é diferente, porque não é um dinheiro nacional, mas sim uma outra unidade. Por isso bancos centrais do mundo todo, em conferências, discutiam a implementação de CBDCs. Agora, o Fed está proibido de fazê-lo.

Observação 2: um dos nossos primeiros conteúdos da semana deu contexto econômico, citando o Fórum Econômico Mundial em Davos e a criptomoeda de Trump. Leia aqui.

Ordem de Trump que acaba com cidadania a filhos de imigrantes ilegais e turistas, suspensa

A Justiça Federal dos Estados Unidos 🇺🇸 suspendeu temporariamente, nesta quinta-feira (23.jan.2025), o decreto "flagrantemente inconstitucional" do presidente Donald Trump que acabava com o direito de filhos de imigrantes ilegais ou turistas que nascessem no país terem cidadania americana.

Quando Trump tomou posse na última segunda-feira (20.jan), publicou uma série de medidas, que mostramos no Correio Sabiá. Num outro conteúdo, enfatizamos as determinações anti-imigração do presidente. Uma delas é justamente esta: a ordem para impedir a concessão de cidadania americana aos bebês de imigrantes ilegais e turistas nascidos nos Estados Unidos.

Ainda nas edições recentes do Correio Sabiá, mostramos às leitoras e aos leitores que vários dos decretos editados por Trump deviam ser contestados na Justiça. Dito e feito. A decisão judicial desta quinta-feira (23) expõe a questão.

Na prática, a medida decretada por Trump sujeitava qualquer criança cujos pais não fossem cidadãos ou residentes permanentes legais dos Estados Unidos a ser deportada e de receber benefícios sociais ou trabalhar quando adulta.

Procuradores-gerais de ao menos 22 estados norte-americanos governados por integrantes do Partido Democrata entraram com ações na Justiça, contestando a medida do presidente. Eles argumentam que o decreto viola a 14ª Emenda da Constituição, que diz que qualquer pessoa nascida nos Estados Unidos é cidadã.

  • Trump afirmou que vai recorrer da decisão.
  • O caso deve ser reavaliado em até 2 semanas.

Deputados do Partido Republicano (mesmo partido de Trump) apresentaram projetos de lei na terça-feira (21.jan) destinados a restringir a cidadania apenas aos filhos de cidadãos ou residentes permanentes legais.

É uma outra forma de tentar implementar a medida de Trump, mas neste caso com votações no Congresso, seguindo o trâmite legislativo. Se quiser, leia mais no Washington Post.

Fim do sigilo sobre assassinatos de Luther King e Kennedy

Numa outra medida assinada nesta quinta-feira (23), o presidente Donald Trump determinou a retirada do sigilo sobre os assassinatos do ex-presidente John F. Kennedy e do ativista Martin Luther King.

  • Kennedy foi assassinado no dia 22 de novembro de 1963, ainda no cargo de presidente. Foi baleado enquanto passava de carro pelo centro de Dallas, no Texas.
  • Luther King foi morto num atentado no dia 4 de abril de 1968, em Memphis, no Tennessee. Ele virou um símbolo da luta pelos direitos civis da população negra. Inclusive, Trump tomou posse no dia 20 de janeiro, feriado nacional nos EUA, quando se comemora o Dia de Martin Luther King.

A ordem de Trump também abrange documentos relacionados à morte do ex-senador Robert F. Kennedy, que ocorreu 5 anos depois do seu irmão (presidente). Trump nomeou um dos filhos do ex-senador, Robert F. Kennedy Jr., para ser secretário de Saúde em seu governo.


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