Retirada de Moraes da Lei Magnitsky provoca disputa de narrativas políticas

Enquanto esquerda fala em êxito da política externa do governo Lula, direita diz que saída do ministro reforça necessidade de votar projeto de anistia

Retirada de Moraes da Lei Magnitsky provoca disputa de narrativas políticas
Imagem: Luiz Silveira/STF
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O essencial

O governo dos Estados Unidos, presidido por Donald Trump, retirou nesta sexta-feira (12.dez.2025) o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), da lista de pessoas sancionadas pela Lei Magnitsky. A esposa do ministro, a advogada Viviane de Moraes, também saiu da lista. A retirada agora provoca uma disputa de narrativas políticas.

O que diz a esquerda

Campos políticos em geral mais conectados ao governo federal celebram a retirada como resultado de uma política diplomática bem conduzida pelas autoridades brasileiras, que não se curvaram aos interesses estrangeiros e obtiveram o que queriam.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comemorou a decisão, a qual classificou como "injusta". Em evento de lançamento do canal SBT News, realizado nesta sexta-feira (12.dez), Lula disse que Trump percebeu que não tinha cabimento sancionar autoridades de outro país com base em entendimentos internos dos Estados Unidos.

Lula também falou que Trump perguntou-lhe, em conversa por telefone na semana anterior, se a retirada de Moraes da lista de sancionados seria boa para ele. A esta pergunta, o presidente brasileiro relatou ter respondido que não se tratava de ser bom ou ruim para ele, especificamente, mas sim de ser algo positivo para o Brasil.

Isso porque se tratava de uma autoridade do país e de uma relação institucional entre 2 chefes de Estado, e não de uma relação pessoal. O presidente, no entanto, lembrou que ainda há outras autoridades que devem ser retiradas das sanções.

O que diz a direita

Defensores do projeto de anistia para os condenados pelos atos de 8 de janeiro de 2023 –quando apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) invadiram e depredaram as sedes dos 3 Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) por não aceitarem o resultado eleitoral– dizem que a retirada de Moraes da lista de sancionados foi um "gesto" de Trump para que o país agora avance na aprovação definitiva da anistia.

Agora pré-candidato à Presidência em 2026, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho mais velho do ex-presidente Jair Bolsonaro, defendeu nas redes sociais a votação do projeto de anistia e classificou a saída de Moraes como "gesto gigantesco".

"Vamos votar o projeto de lei da anistia semana que vem no Senado e, em sendo aprovada, não tenho dúvidas de que os EUA retirarão totalmente as sobretaxas dos produtos brasileiros exportados para lá", declarou num post no X (antigo Twitter).

A visão do Correio Sabiá

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O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) largou o exercício do mandato parlamentar e foi aos Estados Unidos, explicitamente, atuar junto a autoridades norte-americanas pela sanção de autoridades brasileiras. Houve ainda sanções econômicas ao Brasil, com prejuízo a milhares de empresários.

A atuação do filho do ex-presidente isolou a família junto a setores que anteriormente lhe davam suporte e ampliou a popularidade do presidente Lula, antes em queda. A esquerda passou a encampar bandeiras antes apropriadas pela direita, como o patriotismo, o que foi visto em manifestações.

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Em setembro de 2025, por ocasião da Assembleia Geral das Nações Unidas, Trump disse ter sentido uma "química boa" com Lula. Os 2 conversaram posteriormente por telefone e, enfim, se encontraram. A relação entre os 2 países melhorou. As tarifas econômicas caíram.

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Em fatos que se seguiram, o ex-presidente Jair Bolsonaro foi preso e o filho mais velho, Flávio Bolsonaro, anunciou sua pré-candidatura à Presidência. Mas, no dia seguinte, condicionou a retirada do seu nome na disputa presidencial de 2026 se a anistia for aprovada.

A postura de Flávio provocou questionamentos sobre a seriedade do lançamento do seu nome na corrida ao Palácio do Planalto, sede do Poder Executivo.

Aliados mais próximos investiram tempo e energia em declarações de que a pré-candidatura seria "para valer", como fez o senador Rogério Marinho (PL-RN).

No entanto, adversários políticos e até analistas entenderam as declarações como se este fosse mais um movimento da família para livrar o pai da prisão.

A anistia definitiva, que seria um perdão completo aos condenados, não tem apoio popular, conforme as principais pesquisas de opinião já realizadas no Brasil até o momento de publicação deste conteúdo.

No entanto, o PL da Dosimetria, que abranda as penas dos condenados pelos atos de 8 de janeiro de 2023, foi aprovado pela Câmara dos Deputados na madrugada do dia 10 de dezembro de 2025. O texto ainda deve ser analisado pelo Senado.

A Embaixada dos Estados Unidos no Brasil saudou publicamente a aprovação do PL da Dosimestria num post no X. Disse que foi um "passo inicial" para "correção" de "abusos".

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Autor

Maurício de Azevedo Ferro
Maurício de Azevedo Ferro

Jornalista e empreendedor. Criador/CEO do Correio Sabiá. Emerging Media Leader (2020) pelo ICFJ. Cobriu a Presidência da República.

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