O fato principal

Agora com expectativa de ter uma reunião bilateral com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) declarou nesta quarta-feira (24.set.2025) que a guerra entre Rússia e Ucrânia deve estar na pauta da conversa com o colega norte-americano.

"Vou conversar com o Trump sobre a questão da guerra. Eu sei que ele é amigo do [presidente da Rússia, Vladimir] Putin. Eu também sou amigo do Putin. Então, se 1 amigo pode muita coisa, 2 amigos podem muito mais. Quem sabe a nossa química possa ser levada para o Putin e para o [presidente da Ucrânia, Volodymyr] Zelensky? Quem sabe a gente construa aquela saída que parecia inesperada?", perguntou.

Lula deu a declaração durante entrevista coletiva a jornalistas em Nova York, nos Estados Unidos, por ocasião do encerramento da sua participação na Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas).

Contexto

Em discurso na ONU na última terça-feira (23.set), Trump falou de improviso que teve um encontro nos bastidores com Lula e que houve uma "química boa" entre os 2 presidentes. O brasileiro foi o único chefe de Estado diretamente citado pelo norte-americano.

Até então, eles nunca tinham se encontrado, e a relação diplomática entre os Estados Unidos e o Brasil, com mais de 200 anos de laços, estava estremecida pelas sanções econômicas e políticas implementadas por Trump, por sua ingerência sobre o processo em curso contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Na entrevista coletiva que concedeu a jornalistas em Nova York, Lula brincou com a declaração de Trump ao responder a uma pergunta sobre sua reunião com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, com quem também já teve atritos políticos. Ambos tiveram agenda bilateral na ONU.

"Eu acho que pode ter surpresa no mundo. Eu estou muito otimista que as coisas podem começar a mudar. Eu, naquilo que eu puder ajudar, eu disse ao presidente Zelensky que eu vou tentar ajudar. Se eu precisar conversar com qualquer pessoa, eu vou conversar", disse Lula.

Anteriormente, a pedido de Zelensky, Lula fez um telefonema com Putin para tentar convencer o líder russo a participar presencialmente de um encontro de negociação para cessar-fogo a ser realizado na Turquia. O russo atendeu à ligação, falou com o presidente brasileiro, mas não acatou o pedido.

Para Lula, tanto Rússia quanto Ucrânia pensaram que ganhariam rápido a guerra

O presidente declarou que os 2 países pensaram que ganhariam a guerra rapidamente. No entanto, o confronto já ocorre há 3 anos e, por isso, ambos os lados já devem saber sobre seus limites, embora ainda não admitam.

"Acho que essa guerra começou com 2 países achando que um ia ganhar do outro rapidamente. Eu acho que o Putin achou que ia ganhar a guerra rapidinho, e acho que o Zelensky pensou que a ajuda europeia e americana ia permitir que ele ganhasse rapidinho. Não aconteceu nenhuma das duas coisas. Então, já faz 3 anos, e eu acho que as pessoas já sabem o limite de negociação. Ninguém tem coragem de falar ainda, mas acho que todos eles já têm o limite de negociação", falou.

Zelensky com 'mais vontade de conversar'

Lula explicou que tinha feito uma proposta para que uma solução de paz pudesse ser intermediada a partir do documento assinado pelo Brasil e pela China para criar um grupo de amigos capazes de negociar em Moscou e Kiev, capitais de Rússia e Ucrânia, respectivamente.

"O secretário-geral da ONU [António Guterres] me disse que não tinha autorização para fazer isso, mas essa proposta continua em pé e eu falei para o Zelensky hoje. Sabe, eu hoje senti o Zelensky com muito mais vontade de conversar do que em outras reuniões", contou Lula.