Presidente do PSD defende mudança eleitoral para implementar voto distrital

Gilberto Kassab também falou em maior transparência no uso das emendas parlamentares

Presidente do PSD defende mudança eleitoral para implementar voto distrital
Kassab discursou por mensagem de vídeo enviada à organização do evento / Imagem: Wilson Dias/Agência Brasil

O presidente do PSD, Gilberto Kassab, defendeu na manhã desta sexta-feira (22.ago.2025) a realização de uma mudança na Constituição para que o voto distrital seja implementado.

“É fundamental que nós possamos fazer alterações significativas na nossa Constituição. Em especial, no plano político, a implantação do voto distrital”, disse.
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O que é o voto distrital? O voto distrital é um sistema eleitoral no qual o território de um estado ou município é dividido em distritos, e cada distrito elege um único representante para o Legislativo, diferente do sistema proporcional vigente no Brasil, que distribui as cadeiras com base no total de votos obtidos pelos partidos. Nesse modelo, o eleitor vota diretamente em um candidato do seu distrito, criando uma relação mais direta entre o eleitor e seu representante, o que facilita a fiscalização e a cobrança da atuação parlamentar. A eleição em cada distrito geralmente ocorre pela maioria simples, escolhendo o candidato com mais votos, e elimina o voto em legenda, ou seja, o voto direto em partidos que hoje permite indicar candidatos na lista proporcional.

Kassab deu a declaração durante o 24º Fórum Empresarial Lide, realizado no hotel Fairmont, em Copacabana, Zona Sul do Rio de Janeiro. O evento reuniu diversas autoridades, entre governadores, presidentes de partidos, senadores, deputados federais e secretários de diferentes esferas de poder (federal, estadual e municipal), além de empresários de algumas das maiores empresas do Brasil.

“Esse é o grande chamamento que eu faço nessa mensagem, aproveitando a oportunidade que o [ex-governador de São Paulo e fundador do Lide] João Doria me deu: que possamos, o mais rápido possível, mudar nossa Constituição, para que os nossos representantes do Congresso Nacional possam ter uma aproximação maior com a sociedade, em especial com aqueles que os elegeram”, acrescentou o presidente do PSD.

Kassab discursou por vídeo. Na gravação, disse que estava em Marília (SP) com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e 51 prefeitos, numa caravana que Tarcísio faz mensalmente pelo estado.

“Dessa maneira, me impossibilitou de estar presente”, explicou.

Por que isso importa? O PSD é um partido forte do “centrão”, grupo de siglas sem uma coloração ideológica bem definida, que historicamente se aglutina pelo interesse em cargos de diferentes governos. Kassab lidera a legenda, que está se distanciando do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Já Tarcísio de Freitas é apontado como potencial candidato à Presidência em 2026, embora lideranças do Republicanos, como o presidente Marcos Pereira (SP) e o presidente da Câmara, Hugo Motta (PB), desconversem. Em seus discursos, o governador subiu o tom contra o governo federal, dando a entender que uma candidatura à Presidência está em pauta. No mercado financeiro, é uma aposta provável. E a realização de uma caravana mensal reforça a possibilidade de candidatura, à medida em que fortalece sua presença no estado que governa – o maior colégio eleitoral do país.

Kassab fala em transparência de emendas parlamentares

Kassab sugeriu que a implementação do voto distrital promoveria maior transparência aos gastos públicos. Ele mencionou as emendas parlamentares.

“Quando o eleitor conhece de perto aquele que vota, ele pode melhor fiscalizá-lo, acompanhar suas votações, acompanhar as tão famosas emendas parlamentares. Porque com um Congresso mais qualificado, com representantes que estão fiscalizados por quem votou neles, nós vamos ter, com certeza, o aperfeiçoamento das nossas instituições”, disse.

Sem citar Lula explicitamente, o presidente do PSD falou que “precisamos também eleger um presidente da República, no ano que vem, que possa liderar o país para fazer uma grande ‘consertação’ (sic) política, para que haja uma melhor harmonia entre os Poderes”.

Por que isso importa? A declaração é relevante porque reforça um distanciamento entre PSD e o governo federal num contexto de eleição – ainda mais nítida quando Kassab deixa de ir ao evento para estar numa caravana ao lado de Tarcísio de Freitas.

“A democracia pressupõe independência e harmonia entre o Poder Legislativo, o Poder Judiciário e o Poder Executivo. E hoje, infelizmente, os 3 Poderes fogem um pouco do trilho. E isso só pode acontecer, só pode ser feito com um grande líder no país. Para qualquer transformação, precisa haver uma grande liderança”, declarou.

Em seguida, Kassab voltou a falar nas emendas parlamentares:

“Que possamos ter o nosso Poder Legislativo votando emendas que tragam mais transparência ao uso dos recursos públicos. A transparência é fundamental. A sociedade não admite mais o uso de recursos sem saber o seu destino e o seu perfeito encaminhamento.”

O presidente do PSD também elogiou o SUS (Sistema Único de Saúde) e reforçou a necessidade de fortalecê-lo. Para isso, falou em captar mais recursos, mas sem aumento da carga tributária. De acordo com ele, falta eficiência.

“Que possamos, efetivamente, também, trabalhar para que o Estado concentre as suas atividades naquilo que é essencial para a sociedade brasileira: oferecer um serviço público de qualidade, em especial na saúde. Quase 80% da população brasileira depende do nosso SUS, um dos melhores programas de saúde pública do mundo. Mas, para isso, precisamos de recursos”, iniciou.

“Para ter recursos, não podemos aumentar a carga tributária. Basta. O Brasil não consegue mais conviver com uma carga tributária tão alta. Precisamos, sim, ter eficiência no uso dos recursos públicos, e essa eficiência vai fazer com que sobrem recursos para investir mais na saúde, melhorando mais o nosso sistema público de saúde”, concluiu.

Iniciativas de alteração do Código Eleitoral

Atualmente, está em tramitação no Congresso Nacional o Projeto de Lei Complementar nº 52/2023, que propõe a adoção do sistema de voto distrital misto para eleições legislativas brasileiras. Esse projeto busca combinar o voto majoritário em distritos para parte das cadeiras com o voto proporcional para o restante, tentando preservar a proporcionalidade, mas aproximando o eleitor do eleito.

O projeto estava na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado no momento de publicação deste conteúdo, em fase de análise e discussões preliminares, sem previsão definida para votação no plenário.

Além disso, há outras propostas para o voto distrital que já foram apresentadas, mas não avançaram até o momento. Nenhuma mudança no sistema eleitoral está prevista para valer na eleição de 2026, pois alterações eleitorais exigem aprovação até 1 ano antes da eleição para que sejam implementadas.

Assim, o sistema atual proporcional de lista aberta continuará sendo usado nas eleições de 2026, e eventual mudança só poderia ser aplicada a partir das eleições de 2030, caso aprovada em tempo hábil.

Author

Maurício de Azevedo Ferro
Maurício de Azevedo Ferro

Jornalista e empreendedor. Criador/CEO do Correio Sabiá. Emerging Media Leader (2020) pelo ICFJ. Cobriu a Presidência da República.

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