'Pirâmide'? Milei promove criptomoeda, que causa prejuízo de bilhões; oposição ameaça pedir impeachment
Após endossar compra de criptoativo, Milei apagou o post e fez nova publicação dizendo desconhecer os detalhes do que havia promovido horas antes
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O presidente da Argentina 🇦🇷 Javier Milei se envolveu num escândalo político e financeiro ao promover em seus redes sociais uma criptomoeda chamada $LIBRA na última sexta-feira (14.fev.2025). Em seguida, o próprio governo argentino anunciou uma "investigação urgente" para apurar o caso. A oposição ameaça pedido de impeachment.
Entenda o caso
Milei publicou uma mensagem no X (antigo Twitter) que permaneceu fixada 📌 no topo de seu perfil por cerca de 5h, dando link para uma iniciativa chamada de "Viva La Libertad", que faz alusão à expressão frequentemente usada pelo presidente: "Viva la libertad, carajo".
“O mundo quer investir na Argentina. $LIBRA”, dizia a mensagem de Milei no X, citando o token, que é uma unidade de valor digital baseada na tecnologia blockchain, sem lastro no dinheiro real.
Segundo Milei, a iniciativa incentivaria o crescimento da economia argentina por meio do financiamento de pequenas empresas e startups.
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Consequências
A promoção de Milei causou um aumento exponencial no valor da $LIBRA, que saltou de US$ 0,30 para quase US$ 5 (US$ 4.978, que dava cerca de R$ 28.512 na cotação do momento) em poucas horas.
No entanto, logo após esse pico, os detentores originais do ativo começaram a vendê-lo rapidamente, e o valor da criptomoeda despencou, levantando suspeitas de um possível esquema fraudulento conhecido como "rug pull". É como se fosse um "tapete puxado". Em etapas:
- A criptomoeda é criada;
- É dada liquidez inicial para que valha alguma coisa, iniciando-se uma campanha para atrair pessoas;
- As pessoas compram e valorizam aquele ativo;
- Quando o ativo se valoriza, os detentores vendem suas participações, obtendo um alto lucro, enquanto as outras pessoas ficam sem nada.
O criptoativo perdeu uma capitalização de mercado de cerca de US$ 4 bilhões, quando os investidores mais antigos se desfizeram de suas cotas. Eles embolsaram cerca de US$ 107 milhões (R$ 610 milhões).
Poucos investidores concentravam a grande maioria dos ativos (80%) antes do anúncio de Milei, de acordo com a revista The Kobeissi Letter, especializada no mercado de capitais.
Especialistas e políticos da oposição criticaram Milei, apontando indícios de fraude ou esquema de pirâmide. O presidente apagou a publicação algumas horas depois e disse desconhecer dos detalhes do projeto.
Após apagar o post, Milei fez uma nova publicação, na qual dizia que o conteúdo anterior, "como tantas outras infinitas vezes", apoiava "um suposto empreendimento privado que ele, obviamente, não tem nenhuma vinculação".
"Não estava por dentro dos pormenores do projeto e logo de ter ciência decidi não seguir dando difusão (por isso apaguei o tweet)", justificou-se.
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O governo argentino, por meio do perfil da Presidência da Argentina no X, anunciou uma "investigação urgente" sobre o caso, envolvendo o Escritório Anticorrupção para determinar se houve conduta imprópria por parte de membros do governo, incluindo o presidente.
Teve gente perdendo tudo o que tinha. Um influenciador de extrema direita Threadguy contou que perdeu US$ 250 mil.
"O presidente da Argentina nos enganou", disse.
*Inicialmente, este conteúdo dizia que a cotação da $LIBRA tinha saído de US$ 0,000001 para quase US$ 5. Corrigimos esta informação, às 10h49 do dia 17.fev.2025. O valor correto em que estava o patamar do criptoativo: US$ 0,30.
Aproveitamos a atualização para refinar explicações sobre como funciona o suposto golpe com criptoativos. Criamos um passo a passo, com números.
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