'Os ataques podem continuar a ser realizados de dentro ou de fora, pouco importa', diz Moraes

Ministro falou que a democracia é o governo da "liberdade com responsabilidade" e declarou que aqueles que não aceitam isso não têm coragem de assumir as consequências de seus atos

'Os ataques podem continuar a ser realizados de dentro ou de fora, pouco importa', diz Moraes
Imagem: Evandro Macedo/LIDE
Table of Content

O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), declarou na última sexta-feira (22.ago.2025) que o Poder Judiciário brasileiro resistirá a ataques internos ou externos.

"Eu posso garantir aos senhores e às senhoras que, no Brasil, o Judiciário é independente e é corajoso. Os ataques podem continuar a ser realizados de dentro ou de fora, pouco importa. O juiz que não resiste à pressão que mude de profissão e vai fazer outra coisa na vida. O Judiciário, ele cresce com a pressão, porque essa é a função do juiz: julgar e decidir. Manter a democracia e o Estado de Direito", disse.

A declaração ocorre num momento em que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, impõe sanções ao Brasil e ao próprio ministro por meio de taxas de 50% contra os produtos do país e da Lei Magnitsky contra o juiz.

Moraes deu a declaração durante seu discurso de aproximadamente 30 minutos no 24º Fórum Empresarial Lide, realizado no hotel Fairmont, em Copacabana, Zona Sul do Rio de Janeiro.

O evento reuniu governadores, presidentes de partidos políticos, senadores, deputados federais e empresários que lideram algumas das maiores empresas do país. O Correio Sabiá esteve entre os jornais que participaram presencialmente do encontro.

"Só um Poder Judiciário independente é respeitado. O respeito se dá pela independência. Um Judiciário vassalo, covarde, um Judiciário que quer fazer acordos para que o país, momentaneamente, deixe de estar conturbado, não é um Judiciário independente", disse.

Moraes discursou à tarde. De manhã, no mesmo evento, o ministro André Mendonça falou, sem citar nomes, que "o bom juiz tem que ser reconhecido pelo respeito, e não pelo medo".

Moraes faz discurso focado na defesa da democracia

Ao discursar, Moraes relembrou a História do Brasil e citou exemplos no mundo. Ele mencionou 2 impeachments do período democrático brasileiro e disse que, apesar das turbulências, a democracia se manteve firme.

"No ponto de vista político, nenhuma democracia no mundo, nenhuma grande democracia como o Brasil, sofreu 2 impeachments nesses 37 anos. De um presidente de direita, de uma presidente de esquerda. Os dois impeachments foram julgados pelo Senado Federal. Os dois presidentes foram depostos. Os vices assumiram. E nós tivemos eleições assim que a data chegou", disse.

"Ou seja, normalidade institucional, normalidade democrática, não significa tranquilidade. Normalidade institucional, normalidade democrática, significa saber reagir à turbulência", complementou.

Em seguida, o ministro declarou que os exemplos na História mostram que todos os países do mundo que optaram por caminhos de "impunidade, omissão e covardia" levaram muitos anos para consertar esse percurso.

"Todos os países que optaram por essa trinca de impunidade, de omissão e de covardia acabaram corroendo os valores mais importantes da democracia", falou.

Para provocar a corrosão dos valores democráticos, segundo Moraes, "sempre" houve "a confusão deliberada e dolosa entre liberdade de expressão com liberdade de agressão; entre dizer que a livre manifestação de pensamento permite o discurso discriminatório, de ódio, misógino, racista, homofóbico, antissemita".

"Todos aqui se recordam de Goebbels. Uma mentira dita mil vezes, vira uma verdade –e ele nem tinha, à época, os algoritmos direcionados ideologicamente das big techs. Imagina se tivesse", acrescentou. 

Moraes: 'Liberdade com responsabilidade'

O ministro afirmou que o Estado Democrático de Direito trata da aplicação da Constituição e das liberdades com responsabilidades:

"O que existe em um Estado democrático de direito é aplicação da Constituição, aplicação da lei. O que existe em um Estado democrático de direito é liberdade com responsabilidade. Você tem, como todos nós temos, liberdade para nos manifestarmos como quisermos, para atuarmos, para conspirarmos como quisermos. Só que nós temos que ter coragem de aceitar a responsabilidade", declarou.

"Democracia é o governo da liberdade com responsabilidade igual para todos", prosseguiu.

Moraes declarou que "somente nas autocracias o autocrata pode querer exercer sua liberdade sem limites e não ser responsabilizado". Ele acrescentou:

"Quem não quer ter responsabilidade é porque não tem coragem de assumir os seus atos."
💡
As declarações sobre responsabilização ocorrem num contexto em que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) é julgado no STF sobre uma suposta tentativa de golpe de Estado. Políticos de oposição pedem anistia aos condenados pelos ataques no 8 de janeiro de 2023, quando ocorreu invasão às sedes dos 3 Poderes e depredação de patrimônio público por não aceitarem o resultado eleitoral.

Em seguida, o ministro disse que o Brasil manteve firmes os 3 pilares das democracias ocidentais, que segundo ele são:

  • Imprensa livre;
  • Eleições livres e periódicas; e
  • Judiciário independente.

Moraes destacou os ataques que a imprensa vem sofrendo. Mais uma vez, citou as big techs. Desta vez, falou em posts patrocinados:

"A imprensa livre, em que pese os ataques incessantes que a imprensa livre, a imprensa tradicional, a imprensa séria, vem sofrendo há anos de direcionamentos pagos pelas big techs. Ataques a jornalistas. Mas a imprensa livre, que é pilar da democracia, permanece firme", disse. 

Antes de falar sobre a resistência do Judiciário brasileiro aos ataques internos e externos, o ministro destacou o processo eleitoral brasileiro:

"O Brasil dá um exemplo ao mundo. A cada 2 anos, nós temos eleições. De 2 em 2 anos, ou nós elegemos os nossos representantes gerais, ou os locais, tanto do Legislativo, quanto do Executivo. E [o Brasil] é o único país do mundo que, com 158 milhões de eleitores, em pouquíssimas horas, dá o resultado das eleições. Nós não deixamos, enquanto sociedade –e aqueles que viveram sob a ditadura sabem isso–, nós não podemos deixar que retirem das brasileiras, dos brasileiros, esse orgulho. Nós temos eleições de 2 em 2 anos. Quem ganhar, assume. Quem perder, tenta daqui a 2 anos ou 4 anos. Isso é democracia. Isso é liberdade com responsabilidade."

Desafio do Brasil é a segurança, diz Moraes

Moraes foi promotor e ministro da Justiça e Segurança Pública. Ao final do discurso, defendeu o fortalecimento dessa área como forma de fazer o Brasil avançar:

"O desafio brasileiro, nos próximos anos, se chama segurança. E segurança no seu tripé: segurança institucional, segurança jurídica e segurança pública. Não há como um país avançar, se nós não melhorarmos e consolidarmos essas 3 espécies de segurança."

Especificamente sobre a segurança institucional, Moraes disse que a melhoria deve ocorrer a partir do fortalecimento dos 3 Poderes. Disse que "temos que verificar uma maneira de aproximar mais o eleitor do seu representante".

"Pesquisas feitas logo após o segundo turno das eleições, com três semanas após o segundo turno, mostram que só 30% das pessoas se recordam em quem votaram para deputado federal. Eu não estou dizendo três anos ou 30 anos. Eu estou dizendo três semanas. Isso não é possível", afirmou.

Author

Maurício de Azevedo Ferro
Maurício de Azevedo Ferro

Jornalista e empreendedor. Criador/CEO do Correio Sabiá. Emerging Media Leader (2020) pelo ICFJ. Cobriu a Presidência da República.

Sign up for Correio Sabiá newsletters.

Stay up to date with curated collection of our top stories.

Please check your inbox and confirm. Something went wrong. Please try again.

Subscribe to join the discussion.

Please create a free account to become a member and join the discussion.

Already have an account? Sign in

Sign up for Correio Sabiá newsletters.

Stay up to date with curated collection of our top stories.

Please check your inbox and confirm. Something went wrong. Please try again.