O que é 'industrialização verde'?
A industrialização verde é um conceito relacionado a tornar mais verdes (mais sustentáveis) os processos industriais, adequando os setores produtivos à emergência climática.
O termo anda junto com as mudanças climáticas, que tornam emergencial agir logo para tornar os processos produtivos mais sustentáveis.
A descarbonização da indústria, reduzindo a emissão de GEEs (gases de efeito estufa), é uma manifestação da industrialização verde. Discussões sobre transição energética, tornando as matrizes de energia mais limpas, também.
Basicamente, a industrialização verde propõe:
- Criar processos industriais completamente verdes, ou seja, com zero poluentes; e/ou
- "Verdificar" processos já existentes, mas que poluem, tornando-os 'mais verdes' (ou seja, menos poluentes).
Climate Tracker lança guia para jornalistas sobre industrialização verde
Resultado de uma pesquisa de 4 meses, a organização sem fins lucrativos Climate Tracker lançou um guia (disponóvel abaixo para download, em PDF) para jornalistas sobre industrialização verde, que ajuda a guiar profissionais na cobertura do tema. O material contou com o apoio da Open Society Foundations.
O guia define que "a industrialização verde é uma proposta de produção em larga escala que envolve uma estratégia dupla: por um lado, fazer com que os setores existentes sejam 'mais verdes' e, por outro, criar modelos de produção que atendam às ações climáticas".
A Climate Tracker organizou no dia 26.mar.2024 um evento no Rio de Janeiro para lançamento oficial do guia. O Correio Sabiá foi uma das organizações de notícias com atuação ambiental convidadas e compareceu ao evento, representado por seu CEO/fundador, o jornalista Maurício Ferro.
Abaixo, Ferro escreveu algumas linhas sobre industrialização verde relacionadas aos seus aprendizados no evento. O Correio Sabiá, gradativamente, ampliará sua cobertura sobre o assunto e aumentará as ocorrências de uso desse termo. (*Nota: o texto abaixo contém opiniões do autor).
Industrialização verde deve ser justa para garantir direitos dos trabalhadores
Industrialização verde, justiça social e justiça climática precisam andar juntas para garantir os direitos do trabalhador. Primeiro, o trabalho em si (já que muitas carreiras começam a ser fechadas e/ou estigmatizadas). Segundo, o trabalho com dignidade.
Isso porque o debate sobre reduzir a emissão de gases de efeito estufa costuma ser feito em altos níveis hierárquicos, em grandes conferências, por gestores de grandes empresas (muitas vezes, empresas de ramos altamente poluentes) ou em elevados escalões governamentais.
- Spoiler: vamos precisar criar um amplo glossário.
Esquece-se de que as populações economicamente mais frágeis são também as mais vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas. Tragédias ambientais impactam mais frequente e severamente a esses segmentos. São também essas populações que correm mais riscos de alterações laborais.
Grandes empresas de petróleo, por exemplo, têm em sua folha salarial milhares de trabalhadores que passam longe da fortuna gerada pelo produto final. O mesmo se passa com indústrias de carvão, com a construção civil, etc.
– Com a exigência de descarbonizar a indústria, o que será desses trabalhadores e de suas famílias?
O debate deve ser transversal e simultâneo. A necessidade de descarbonização é um fato urgente para manutenção das condições de vida do planeta, assim como a necessidade de gerar empregos e condições dignas de trabalho para pessoas que atuam nessas indústrias é outro fato urgente para a vida de milhões de indivíduos.
– Quem paga a conta?
Por séculos, os países do Norte Global (Europa, Estados Unidos, etc.) enriqueceram e se industrializaram com os recursos explorados e extraídos do Sul Global.
Atualmente, quem mais demanda a descarbonização de indústrias são os países mais ricos do Norte Global. No entanto, foram eles que se industrializaram num contexto exploratório. Claro, conseguem liderar o desenvolvimento de tecnologias para industrialização verde.
A demanda dos países do Sul Global é de que os países do Norte possam financiar, então, esse processo de tornar as indústrias mais verdes. É uma questão de reparação histórica para dar condições melhores de competição.
Esse é o debate central das COP, que são as Conferências das Partes, mais importante encontro global e anual para discussão das mudanças climáticas. O Brasil vai ser sede do evento em 2025. A cidade: Belém, no Pará, um dos 9 estados que fazem parte da Amazônia Legal.
Além de questões econômicas, a industrialização verde desencadeia debates de ordem geopolítica. Tudo interligado.
O Correio Sabiá está atento a este e outros assuntos ambientais/sociais.
Lembrando: temos projeto de mentoria para jornalistas e pesquisadores da Amazônia, graças a uma aliança com USAID (Agência dos Estados Unidos para Desenvolvimento Internacional), Internews e WCS (Widlife Conservation Society).
São projetos assim que ajudarão no processo de manter a sociedade bem-informada, capaz de tomar decisões melhores, baseadas em fatos, dados e evidências.
As mudanças climáticas estão aí, e nós precisamos voar para entender como construir um planeta mais responsável.
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