Prestigiado grupo de combate à desinformação é convocado para audiência pública na Câmara
Netlab da UFRJ tem sido atacado por políticos e influenciadores de extrema direita
Um dos projetos brasileiros mais respeitados e prestigiados por sua atuação no combate à desinformação, o Netlab, da ECO (Escola de Comunicação) da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), foi convocado a comparecer à Câmara.
O requerimento de convocação foi aprovado no dia 4.jun.2024, terça-feira, na Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, a pedido da oposição. Veja a íntegra (PDF) abaixo:
- No Correio Sabiá, sempre que possível disponibilizamos documentos oficiais. É uma forma de prestigiar quem nos lê e melhorar o nível técnico dos conteúdos.
O documento foi apresentado pelos deputados federais Delegado Paulo Bilynskyj (PL-SP) e Gustavo Gayer (PL-GO), ambos bolsonaristas, integrantes do mesmo partido do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Os políticos dizem no requerimento que o Netlab promove "a perseguição de críticos do governo" com recursos públicos oriundos do FDD (Fundo de Defesa dos Direitos Difusos), vinculado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Houve um financiamento no valor de R$ 2 milhões para produzir a pesquisa "Observatório da Indústria da Desinformação e seu impacto nas relações de consumo no Brasil".
Não há nenhuma irregularidade nisso. Aliás, o financiamento público é muito comum em grupos de pesquisa universitários.
Requerimento distorce conteúdo jornalístico
O mesmo requerimento da convocação distorce conteúdo jornalístico publicado pelo Núcleo Jornalismo.
Numa reportagem intitulada "Bolsonaristas iniciam campanha nas redes contra grupo que pesquisa sobre desinformação no RS" e publicada no dia 26.mai.2024, o Núcleo diz:
"Influenciadores bolsonaristas e políticos da oposição, especialmente o deputado Marcel van Hattem (NOVO-RS), têm explorado a política de transparência do NetLab para fazer associações entre as pesquisas feitas pelo laboratório e financiamentos recebidos via entidades federais."
Aliás, na mesma reportagem, o próprio Núcleo explica que os financiamentos públicos (inclusive via empresas de petróleo) são comuns no meio acadêmico.
O Núcleo acrescenta que os ataques ao Netlab são agravados por "falta de transparência do Ministério da Justiça" sobre um contrato de R$ 42 milhões para monitorar redes sociais. Esse financiamento também ocorreu via FDD e foi revelado pelo Núcleo no dia 12.abr.2024.
No entanto, a reportagem nem sequer cita o Netlab. Foram políticos e influenciadores de extrema direita que associaram o laboratório ao financiamento e ao governo para atacar a imagem e a credibilidade do grupo.
O requerimento apresentado pelos políticos faz exatamente essa associação. O texto afirma que "há ainda um convênio maior, segundo o Núcleo Jornalismo, de R$ 42 milhões, usando a mesma fonte de recursos, para pesquisa e criação de um banco de dados público de 'desinformação', envolvendo todo o Complexo de Censura no Brasil."
O Correio Sabiá entrou em contato com o Netlab solicitando uma entrevista e aguarda resposta. Fizemos o contato no final da noite do dia 5.jun.2024.
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