Metanol: ministro da Saúde recomenda evitar álcool destilado
A principal hipótese sob investigação é de que o metanol usado para adulterar bebidas tenha origem no mesmo metanol importado ilegalmente para adulterar combustíveis
O fato principal
O ministro Alexandre Padilha (Saúde) recomendou nesta quinta-feira (2.out.2025) que a população evite consumir álcool destilado nos próximos dias até que haja "certeza absoluta da origem" das intoxicações por metanol. A recomendação é voltada principalmente aos destilados incolores.
"Não estamos falando de um produto essencial na vida das pessoas", declarou.
Contexto: o que sabemos até agora sobre o 'surto' de intoxicação por metanol
Começaram a haver diversos relatos de um surto de intoxicação por metanol associado ao consumo de bebidas alcoólicas adulteradas, principalmente, no estado de São Paulo –mas já com suspeitas de ocorrências em outros estados.
As bebidas adulteradas envolvem destilados como gin, vodka e whisky, que teriam sido “batizados” com metanol por falsificadores para aumentar volume e/ou reduzir custos.
Centenas de garrafas de bebidas com suspeita de adulteração foram apreendidas em operações de fiscalização. Em 2 dias, mais de 800 garrafas foram recolhidas na capital paulista.
Principal hipótese para o surto por metanol
A principal hipótese sob investigação é de que o metanol usado para adulterar bebidas tenha origem no mesmo metanol importado ilegalmente para adulterar combustíveis por organizações criminosas, como o PCC (Primeiro Comando da Capital).
O que é o metanol?
O metanol (álcool metílico) é uma substância usada industrialmente, por exemplo como solvente, aditivo químico ou na produção de produtos químicos.
Ele é diferente do etanol (álcool etílico), que é o tipo de álcool presente em bebidas alcoólicas consumíveis.
Quando ingerido, o metanol é metabolizado no organismo em formaldeído e ácido fórmico –substâncias tóxicas que podem causar danos ao sistema nervoso, ao fígado, aos rins e ao nervo óptico (levando à perda de visão).
A intoxicação por metanol pode causar cegueira irreversível, coma e até a morte.
Sintomas frequentes
Os sintomas podem demorar várias horas até aparecer (tipicamente de 12 a 24 horas após ingestão) e incluir:
- Visão turva
- Dor abdominal
- Náuseas
- Vômitos
- Fraqueza
- Tontura
- Confusão mental
- Taquicardia ou bradicardia
- Acidose metabólica (alteração do equilíbrio ácido-base do sangue)
Como diversos sintomas são comuns a outras doenças e até à própria "ressaca" causada pela ingestão do álcool normalmente consumido, o surto por metanol torna-se difícil de diagnosticar rapidamente. Por isso, muitos casos podem evoluir para lesões irreversíveis ou morte antes do tratamento adequado.
O ministro Alexandre Padilha alertou que o metanol, quando os sintomas começam a aparecer, costuma indicar um "dor muito diferente" daquela causada pelo álcool normalmente ingerido, já que é "uma dor em cólica".
Padilha também falou em "alteração de percepção visual", já que a metabolização do metanol no fígado gera "substâncias extremamente nocivas ao sistema nervoso central".
"A metabolização no fígado é diferente do álcool normalmente ingerido. Ataca a visão porque pega no nervo ótico, muito próximo do sistema nervoso central, que é atacado por esses metabólicos. Por isso as pessoas começam a ver luzes, flashes e [têm] até o risco de perda visual", disse.
Tratamento e prevenção
O tratamento médico de urgência costuma envolver: antidotos (etanol ou fomepizol, para competir com o metabolismo do metanol), suporte clínico (hidratação, correção de distúrbios metabólicos) e em casos graves hemodiálise (para remover o metanol e seus metabólitos tóxicos).
Padilha reforçou a importância de consumir água durante a ingestão de álcool. Ele disse que essa prática também ajuda até mesmo nos casos de intoxicação por metanol.
"Dependendo do seu grau de hidratação, pode estar eliminando [o metanol] mais rápido pela urina. Por isso é tão importante a hidratação", falou.
Como ocorre a apuração das responsabilidades?
O trabalho de investigar as responsabilidades pelo surto de intoxicação por metanol envolve diferentes partes, cada uma com um papel na apuração.
O governo federal montou um plano de ação que inclui coordenação entre ministérios, vigilância sanitária, agências reguladoras (Anvisa), PF (Polícia Federal), Receita Federal e secretarias estaduais de saúde.
Foi ativado o SAR (Sistema de Alerta Rápido) para monitorar casos de intoxicação e emitir alertas sanitários. Também foram emitidas recomendações urgentes aos estabelecimentos que vendem bebidas alcoólicas para aumentar os cuidados com:
- Compra, armazenamento e venda
- Verificação de selos, rotulagem, procedência e demais elementos de segurança.
A Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) informou sobre a realização de treinamentos para identificação de bebidas falsificadas. Anteriormente, a mesma organização manifestou "profunda preocupação" com os casos.
Assista à coletiva de ministros realizada nesta quinta-feira (2.out) no canal do YouTube do governo federal:
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