Marcha Global pelo Clima da COP30: as decisões do destino do planeta devem incluir a voz da sociedade
*Por Tássia Biazon e Germana Barata
Na manhã de 15 de novembro, as ruas do centro histórico de Belém foram tomadas por uma multidão vibrante, diversa e consciente. Era a Marcha Global pelo Clima, uma programação dos movimentos sociais durante a COP30. Convocado pela Cúpula dos Povos, segundo os organizadores, o ato reuniu cerca de 70 mil pessoas –entre elas, povos indígenas, quilombolas, camponeses, jovens ativistas, artistas, grupos internacionais e comunidades tradicionais.
O percurso, de 4,5 km, partiu do Mercado de São Brás até a Aldeia Cabana. A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, e a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, abriram caminho nos discursos. Crianças, jovens, adultos e idosos caminharam lado a lado, embalados por cânticos indígenas, discursos políticos ecoados em carros de som, ritmos paraenses como o carimbó e inúmeras vozes em defesa da floresta, das águas e dos animais.


Marcha Global pelo Clima reuniu diferentes movimentos sociais alinhados em direção à justiça social e em prol da saúde planetária / Imagens: Ressoa Oceano
Há anos a COP não presenciava uma manifestação vultosa. A primeira marcha foi na COP21, onde foi assinado o Acordo de Paris, há exatos 10 anos, com público estimado em 140 mil pessoas. Mas nos últimos anos, as manifestações foram proibidas no Azerbaijão, nos Emirados Árabes e no Egito.
No mesmo sábado da Marcha, milhares de pessoas se uniram ao coro de Belém em Glasgow, Reino Unido, sede da COP26, para protestar pelo fim do uso de combustíveis fósseis, em defesa do planeta e contra o genocídio na Faixa de Gaza.
Com dizeres escritos em camisetas, cartazes ou falas, os participantes transformaram arte em protesto, levantando a grande bandeira: a mudança climática. Em um gesto simbólico, simularam um funeral de combustíveis fósseis: caixões com os nomes “carvão”, “óleo” e “gás” foram carregados por pessoas vestidas de preto, alertando para a necessidade imediata da transição energética.

Comunidades indígenas, quilombolas, pescadores, marisqueiras, quebradeiras de coco babaçu, pequenos agricultores, ribeirinhos, trabalhadores, estudantes, ativistas e outros representantes da sociedade clamaram por justiça climática. A justiça chama atenção para o impacto desigual e severo, e que as mudanças climáticas atingem grupos sociais mais vulneráveis, geralmente com menor poder de decisão nas políticas climáticas. Na Marcha, os manifestantes fizeram suas vozes serem ouvidas, para que as políticas, a serem definidas nesta semana, incluam suas demandas, os direitos territoriais dos povos originários e o reconhecimento dos saberes tradicionais.

Mas as reivindicações foram além, indicando que a justiça climática também esbarra em moradia digna, reforma agrária, segurança alimentar, soberania territorial, direito aos animais, entre outros. De amazônidas a ativistas internacionais, a mensagem foi clara, simples e poderosa: “a resposta somos nós”.
Esse momento foi histórico e simbólico na COP da Amazônia, ecossistema que ocupa 9 países e soma 375 etnias, e mostrou a força do movimento indígena e das demandas sociais nacionais e internacionais.
A Marcha não foi a única manifestação na COP. Nesta segunda (17.nov), por exemplo, o movimento indígena marchou pelas ruas da cidade pedindo a demarcação de seus territórios, juntando-se à ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, que, no mesmo dia, anunciou a homologação de 4 territórios e avanços nos processos de demarcações de outros 16.
“É sobre justiça histórica. É reconhecer que não há futuro sustentável sem seus conhecimentos ancestrais e sem a gestão territorial de povos e comunidades tradicionais. Que sejamos lembrados como a geração que honrou essa sabedoria milenar e agiu para honrar essa dívida", defendeu a ministra.
A COP em Belém marca a presença e a indissociabilidade, ou a necessária conectividade, entre políticas climáticas e o engajamento público para a resolução de problemas complexos, fruto de uma relação de exploração e dominação da natureza que parte da humanidade estabeleceu como regra. A voz dos movimentos sociais alerta que a crise climática não pode ser tratada apenas como técnica ou diplomática, mas sim como uma luta global, que depende do esforço coletivo, de um mutirão.
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