Lula desembarca em Nova York para discursar na ONU
Viagem ocorre em meio a atritos políticos com Trump. Em discurso, presidente deve voltar a defender a soberania nacional.

O fato principal
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) embarcou às 10h (horário de Brasília) deste domingo (21.set.2025) a Nova York, nos Estados Unidos, onde discursa na terça-feira (23.set) na Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas).
Este será seu 10º discurso, considerando todos os mandatos como presidente da República. A chegada está prevista para as 17h45 (do horário local, -1h em relação ao fuso de Brasília).
Contexto
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou sanções de 50% contra diferentes produtos brasileiros no dia 9 de julho de 2025, por causa do julgamento contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que naquela altura ainda estava em andamento. Em nota oficial, Trump definiu a ação do STF contra Bolsonaro como uma "caça às bruxas".
Trump também determinou sanções contra autoridades brasileiras, como o ministro Alexandre de Moraes, do STF, a partir da Lei Magnitsky. Os criadores dessa lei acusaram Trump de desviar a finalidade da legislação, feita para impor penalidades contra inimigos dos EUA (terroristas, por exemplo).
Filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) se licenciou do mandato na Câmara para viajar aos Estados Unidos e atuar junto a autoridades norte-americanas pela promoção das sanções contra o Brasil e suas autoridades.
O período de 120 dias de licença já acabou, mas o congressista continua nos EUA. Nesta semana, a Câmara fez um movimento para torná-lo "líder da minoria", uma manobra para tentar impedir que Eduardo Bolsonaro perca o mandato por faltas e, assim, consiga exercer sua atividade parlamentar fora do Brasil.
Em contrapartida, Lula e aliados encamparam um discurso político patriótico de soberania nacional, tentando resgatar o uso das cores da bandeira nacional, o que vinha figurando simbolicamente entre a direita.
No Dia da Independência (7.set), Lula fez um pronunciamento em rede nacional de rádio e TV. Na ocasião, sem citar nomes, reafirmou que não aceita 'interferência de nenhum governo estrangeiro' e declarou que políticos que atuam contra o Brasil são 'traidores da pátria'. O Correio Sabiá mostrou as entrelinhas do discurso.
Houve protestos em quase todas as capitais do Brasil nesse feriado nacional. Na Avenida Paulista, em São Paulo, bolsonaristas levaram à manifestação uma enorme bandeira dos Estados Unidos.
Entrevistas internacionais
É neste contexto que Lula embarcou pela 1ª vez aos Estados Unidos desde a imposição de sanções. Até o momento de publicação deste conteúdo, não estava prevista uma agenda bilateral com Trump. Eles ainda não se falaram diretamente nem por telefone.
Lula publicou um artigo de opinião no New York Times no último dia 14. Intitulado 'Democracia e soberania do Brasil são inegociáveis', disse na 1ª linha do texto:
"Decidi escrever este artigo para estabelecer um diálogo aberto e franco com o presidente dos Estados Unidos."
A publicação desmentia afirmações diversas de Trump sobre o governo brasileiro, defendia a atuação do Judiciário e classificava as sanções como um ato meramente "político", sem coerência "econômica", já que os EUA têm superávit comercial com o Brasil.
Ainda em agendas internacionais, o presidente declarou à BBC que não existe uma relação entre ele e Trump, e que o presidente norte-americano mantém uma relação pessoal com Bolsonaro –e não um contato institucional com o Brasil.
Expectativa de discurso
Nos Estados Unidos, é esperado que Lula reforce tópicos que vem destacando nas últimas semanas, de novo sem explicitamente citar nomes. Ou seja, tende a passar os recados, mas sem citar "Trump", "Estados Unidos" e "Eduardo Bolsonaro" ou "Jair Bolsonaro". Ele deve:
- Defender a soberania nacional e o papel do Judiciário brasileiro, notadamente a independência do STF e o curso legal das investigações no país, sem interferência entre os Poderes, que culminou na condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro a 27 anos e 3 meses de prisão;
- Declarar que o Brasil não aceita ingerências estrangeiras em seus assuntos internos;
- Criticar a atuação de políticos brasileiros no exterior contra os interesses da população nacional e de seus empresários;
- Reforçar a queda no desmatamento da Amazônia e o chamado para que os países participem da COP30, a ser realizada em Belém (PA).
Lula também deve voltar a defender a criação de um Estado da Palestina e o fim do genocídio na Faixa de Gaza liderado pelo governo do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu.
Espera-se ainda que o presidente reafirme a necessidade de reformar a ONU, principalmente o seu Conselho de Segurança. Garantir assento permanente no colegiado é um pleito histórico do Brasil, assim como acabar com o poder de veto dos países-membros.
Outro tópico relevante é a saída do Brasil do Mapa da Fome da ONU, que é uma conquista do governo. Cerca de 24 milhões de pessoas deixaram a situação de insegurança alimentar grave no triênio finalizado em 2023, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Mais retaliações?
Diante da condenação de Bolsonaro, há expectativa de que os Estados Unidos anunciem novas sanções contra o Brasil. O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, declarou no dia 15 de setembro que seu país pretende impor mais medidas.
Está no radar a possibilidade de que o anúncio ocorra durante a Assembleia da ONU para constranger a delegação brasileira.
Quando o julgamento de Bolsonaro ainda estava em curso, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, foi explicitamente perguntada sobre o ex-presidente e se havia chances de novas sanções.
A resposta:
"O presidente [Trump] não tem medo de usar meios econômicos nem militares para proteger a liberdade de expressão ao redor do mundo."
Leavitt completou:
"A liberdade de expressão é a questão mais importante dos nossos tempos. Presidente Trump leva isso muito a sério, e por isso tomamos ações contra o Brasil."
Author

Jornalista e empreendedor. Criador/CEO do Correio Sabiá. Emerging Media Leader (2020) pelo ICFJ. Cobriu a Presidência da República.
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