Lula: 'Acho que Brasil e EUA voltarão a viver em harmonia e quimicamente estáveis'

Presidente disse que, por ele, encontro com Trump pode ser presencial e público

Lula: 'Acho que Brasil e EUA voltarão a viver em harmonia e quimicamente estáveis'
Imagem: Ricardo Stuckert / PR
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O fato principal

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) brincou nesta quarta-feira (24.set.2025) sobre a declaração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que disse ter sentido uma "química boa" quando encontrou Lula nos bastidores da ONU (Organização das Nações Unidas).

"Acho que ele [Trump] estava mal informado com relação ao Brasil, e possivelmente isso tenha levado ele a tomar algumas decisões que não são aceitáveis na relação de 2 países que têm relação diplomática há mais de 200 anos. Então, na hora que tivermos o encontro, acho que tudo isso ficará resolvido e o Brasil e os Estados Unidos voltarão a viver em harmonia e quimicamente estáveis", disse.

Lula deu a declaração em entrevista coletiva aos jornalistas em Nova York, nos Estados Unidos, por ocasião do encerramento da sua participação na Assembleia Geral da ONU.

Negociação das sanções

Durante a coletiva de imprensa, Lula foi perguntado se achava que seria possível reverter as sanções de 50% impostas pelos Estados Unidos para produtos brasileiros. Respondeu que seria "precipitado" falar o que vai negociar antes mesmo de ocorrer a negociação.

"Seria precipitado da minha parte dizer o que eu vou negociar, antes de começar a negociar. Aí seria você vetar até a possibilidade de conversa. Veja, nós temos que sentar, colocar na mesa todos os problemas –os problemas que ele tem com relação ao Brasil, o problema que eu tenho com relação aos Estados Unidos– e a partir daí a gente começa a discutir", falou.

Lula complementou:

"Veja: o que não é discutível é a soberania brasileira e a nossa democracia. Isso não é discutível nem com o presidente Trump, nem com nenhum presidente do mundo. Isso é uma soberania brasileira que a gente não abre mão."

O presidente brasileiro disse que acha que Trump tem "informações equivocadas sobre o Brasil" e que quer explicar o que está acontecendo no país, conforme Trump queira saber.

"Nós temos um fluxo comercial muito importante. Então, não sei quem foi que disse para o presidente Trump que ele tinha um déficit comercial com o Brasil. Ele teve um superávit em 15 anos de US$ 410 bilhões. Então, como eu não sei quem é que deu informação para ele, espero que sentados numa mesa –eu, ele, os assessores dele, os meus assessores–, possamos restabelecer a harmonia necessária que tem que ter entre Brasil e Estados Unidos", falou.

Em seguida, Lula disse:

"Quando tiver eleições nos Estados Unidos, eu não me meto. E quando tiver eleições no Brasil, ele não se mete. É assim que a gente faz. A gente acata o resultado da soberania do povo nas urnas de cada país."

Possibilidade de reunião presencial

Lula também foi perguntado se o encontro com Trump seria presencial. Ele respondeu:

"Por mim, pode ser [presencial]. Aí nós temos que discutir como é que é a reunião. Como a gente não vai discutir nenhum segredo de Estado nem nada, sabe?, por mim pode ser [reunião] pública."

Depois, mais uma vez questionado sobre o assunto e sobre a possibilidade de retornar aos Estados Unidos na próxima semana, Lula disse:

"Deixa eu lhe falar: se eu criar em vocês uma expectativa de que estarei voltando aqui na semana que vem e não acontecer, vocês vão ficar frustrados. Então, eu prefiro, regressando ao Brasil, colocar o meu pessoal para trabalhar com o pessoal do Trump e ver quando é que a gente marca isso", explicou.

"Sabe, isso não tem pressa, não precisa ser ontem, ou melhor, amanhã ou depois da manhã. Vai ser quando ele [Trump] achar que devo conversar, vamos conversar. É como eu disse, eu estou disposto a conversar", completou.

Trump disse em discurso na Assembleia Geral da ONU na terça-feira (23.set) que havia previsão de se reunir com Lula na semana que vem.

No entanto, os detalhes do encontro não foram formalmente fechados por nenhuma das partes, e a declaração se baseou numa conversa que o próprio presidente norte-americano disse ter sido de 39 segundos.

'Feliz' com comentário sobre 'química boa'

Antes de responder às perguntas dos jornalistas, Lula fez um pronunciamento e comentou de maneira geral alguns assuntos relativos à sua passagem pela ONU. Logo no início de sua fala, citou a COP30, que será realizada em novembro em Belém, no Pará, e o encontro com Trump.

"Penso que essa reunião da ONU tem uma importância muito gratificante para o Brasil. Primeiro porque nós queríamos reforçar no discurso que fizemos na ONU a ideia do multilateralismo, a ideia da democracia e reforçar a nossa COP30 em Belém, na Amazônia, no meio de novembro. E, além de poder ter feito um discurso que levantava esses temas, tive uma outra satisfação de ter um encontro com o presidente Trump. Aquilo que parecia impossível deixou de ser impossível e aconteceu", introduziu.

"E eu fiquei feliz quando ele disse na ONU que pintou uma química boa entre nós", continuou.

"Como eu acho que a relação humana é 80% química e 20% emoção, acho que é muito importante essa relação, e eu torço para que dê certo, porque Brasil e Estados Unidos são as duas maiores democracias do continente", acrescentou.

Interesses empresariais

Lula declarou em seu pronunciamento que há "muitos interesses empresariais" envolvidos na relação entre Brasil e Estados Unidos, assim como interesses em tecnologia, ciência, questões digitais, inteligência artificial e comércio.

"Eu fiz questão de dizer ao presidente Trump que nós temos muito o que conversar. Tem muitos interesses dos 2 países em jogo, tem muita coisa para discutir sobre a necessidade da gente garantir a paz no planeta Terra, e eu fiquei satisfeito quando ele disse que é possível a gente conversar e, quem sabe, dentro de alguns dias a gente possa se encontrar e fazer uma pauta positiva entre os Estados Unidos e o Brasil, o Brasil e os Estados Unidos. É isso que eu quero e eu acho que é isso que ele deve querer também", disse.

Pragmatismo para relação entre Estados

O presidente ressaltou que os 2 países constituem as duas maiores democracias da América, assim como são as duas maiores economias. Portanto, "não há por que Brasil e Estados Unidos vivam em momentos de conflito". Ele defendeu o pragmatismo na relação entre os 2 Estados:

"Eu, na minha relação com o chefe de Estado, a coisa que eu mais respeito é que o chefe de Estado, se foi eleito pelo seu povo, eu não quero saber ideologicamente se ele gosta ou não gosta de mim; se ele professa a mesma ideologia que eu. Isso nunca está em jogo na minha relação com o chefe de Estado e não quero que esteja em jogo na relação das pessoas comigo. O que importa para mim é que a pessoa, sendo eleita, merece o meu respeito como chefe de Estado brasileiro na relação sobre os assuntos que interessam ao Brasil e aos Estados Unidos", falou.

Perguntado se tinha medo de ser hostilizado por Trump, de surpresa, como ocorreu com o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, Lula respondeu:

"Veja, é que você está querendo que eu diga o que vai acontecer na reunião. Deixa eu dizer uma coisa para vocês: o Trump faz 80 anos em junho do ano que vem. Eu faço 80 anos em outubro deste ano. Portanto, eu sou mais velho do que ele e somos 2 homens de 80 anos. Não há por que ter brincadeira numa relação entre 2 homens de 80 anos de idade", disse.

"Eu vou tratá-lo com o respeito que merece o presidente dos Estados Unidos, e ele certamente vai me tratar com o respeito que merece o presidente da República Federativa do Brasil", concluiu

Assista à coletiva de imprensa completa no canal do YouTube do governo:

Author

Maurício de Azevedo Ferro
Maurício de Azevedo Ferro

Jornalista e empreendedor. Criador/CEO do Correio Sabiá. Emerging Media Leader (2020) pelo ICFJ. Cobriu a Presidência da República.

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