Lei do Licenciamento Ambiental: Congresso derruba 56 dos 63 vetos de Lula

Os vetos restantes ainda não foram analisados porque há uma MP (medida provisória) em tramitação que trata exatamente deles

Lei do Licenciamento Ambiental: Congresso derruba 56 dos 63 vetos de Lula
Vistoria do Ibama, com participação a Secretaria do Meio Ambiente do Amapá (Sema-AP), em planejo de manejo localizado na Floresta Nacional do Amapá, em novembro de 2025 / Imagem: Fernando Augusto/Ibama
Índice

O essencial

O Congresso Nacional usou nesta quinta-feira (27.nov.2025) a sua prerrogativa de derrubar vetos presidenciais para fazer valer sua vontade. Derrubou 56 dos 63 vetos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à nova Lei Geral do Licenciamento Ambiental (Lei nº 15.190/2025).

Atualização/correção (clique para expandir)

Inicialmente, informamos que houve derrubada de 52 vetos. Na verdade, foram 56 vetos derrubados. A confusão decorre da quantidade de dispositivos derrubados, que, neste caso, foram 52. Há uma diferença entre os termos. Lula barrou 59 dispositivos, dos quais o Congresso derrubou 52. E Lula fez 63 vetos, dos quais 56 caíram na sessão desta quinta-feira.

O projeto sobre licenciamento ambiental –conhecido entre ambientalistas como "PL da Devastação"– foi aprovado pelo Congresso e sancionado, com vetos, por Lula por orientação da ministra Marina Silva (Meio Ambiente). Agora, o Legislativo derruba parte dos trechos barrados pelo presidente para que sejam incluídos na lei.

Os vetos que não foram derrubados não foram nem sequer apreciados. Dizem respeito a um LAE (Licenciamento Ambiental Especial) e fazem parte de uma MP (medida provisória) em tramitação no Congresso, que deve ser aprovada no Senado na próxima semana. Portanto, na prática, é como se todos os vetos tivessem caído.

Além disso, a MP em tramitação, editada pelo Executivo, tem força de lei a partir do momento da sua publicação. Isto é, já está valendo. A edição da norma fez parte de um acordo entre Executivo e Legislativo, ora descumprido pelo Congresso presidido por Davi Alcolumbre (União-AP), que está em colisão com o governo federal.

Ao vetar 63 trechos do projeto aprovado no Congresso, o Executivo editou uma MP que contrabalanceava os vetos, como parte de um acerto negociado. A ideia era fazer uma compensação e chegar a um meio-termo.

Na prática, o que ocorreu foi que o Congresso derrubou os vetos presidenciais e ainda ganhou mais um projeto que afrouxa o licenciamento ambiental, já que a MP em tramitação recebeu mais de 800 emendas que basicamente recriam tudo o que havia sido vetado por Lula.

Contexto

A derrubada dos vetos ocorre poucos dias após o encerramento da COP30 em Belém. A COP é a Conferência das Partes das Nações Unidas, mais importante encontro global para discussão das mudanças climáticas.

A ONG Observatório do Clima classificou a derrubada dos vetos presidenciais e a aprovação definitiva das regras da nova Lei Geral do Licenciamento Ambiental como "o maior retrocesso da História ambiental brasileira".

A Lei Geral do Licenciamento Ambiental:

  • Cria a LAC (Licença por Adesão e Compromisso), uma espécie de licenciamento automático por autodeclaração, sem a realização de estudos por órgãos ambientais, mesmo para obras de médio porte e com potencial poluidor. Ou seja, dispensava a análise de órgão ambiental. Neste caso, o empreendedor só precisaria se comprometer, na declaração, a respeitar as exigências de preservação estabelecidas em lei. (Ou seja, é só prometer que vai cumprir as regras que fica tudo certo.)
  • Cria o LAE (Licenciamento Ambiental Especial), que permite que um conselho do governo federal aponte empreendimentos considerados estratégicos para serem liberados de forma mais simples e rápida, em até 1 ano, independentemente do risco de impacto ambiental ou uso de recursos naturais.
  • Facilita a licença para algumas obras, como viadutos, pontes, hidrelétricas e barragens de rejeitos (exemplo: Brumadinho).
  • Dispensa a licença para algumas obras, como a ampliação de estradas e atividades como a agricultura tradicional e a pecuária de pequeno porte.

O que disseram os senadores

A seguir, declarações de senadores na sessão desta quinta-feira (27).

Contra a Lei do Licenciamento Ambiental

Eliziane Gama (PSD-MA) disse que a Lei do Licenciamento Ambiental "é um retrocesso e uma vergonha para o Brasil" e que o PL (projeto de lei) que originou a legislação “fere de morte conquistas nacionais, como a proteção da Mata Atlântica”:

"Esse projeto de lei acaba ferindo de morte os principais acordos que são formados nas COPs e dos quais o Brasil é signatário."

A deputada Talíria Petrone (PSOL-RJ) disse que os parlamentares deveriam estar pensando e debatendo sobre transição energética justa e como afastar o uso de combustíveis fósseis:

"Estamos diante de um libera geral. Não vai ter mineração sem planeta, não vai ter agronegócio sem planeta. Não há economia possível se não se cuida do planeta."

A favor da Lei do Licenciamento Ambiental

Líder da oposição no Senado, o senador Rogério Marinho (PL-RN) falou que os órgãos que concedem licenciamento (como o Ibama, por exemplo) "têm sido cúmplices do atraso do desenvolvimento":

"Podemos apresentar à nação brasileira uma legislação condizente com os desafios que nós enfrentaremos nos próximos anos." 

O senador Marcos Rogério (PL-RO) falou que as regras ambientais estão "desconectadas do interesse nacional":

"Essa Lei do Licenciamento Ambiental aprovada pelo Congresso Nacional é uma lei equilibrada, é uma lei que respeita a sustentabilidade no Brasil. Agora, é preciso conciliar preservação com desenvolvimento. Sustentabilidade é isso, não é uma visão apenas de um dos lados."

O que é licenciamento ambiental e para que serve?

O licenciamento ambiental é um procedimento administrativo obrigatório no Brasil, pelo qual órgãos ambientais autorizam a localização, instalação, ampliação e operação de empreendimentos ou atividades que utilizam recursos naturais e que são efetiva ou potencialmente poluidoras, ou capazes de causar degradação ambiental.

💡
O principal objetivo do licenciamento ambiental é prevenir, controlar e mitigar impactos negativos ao meio ambiente, promovendo o desenvolvimento sustentável e protegendo a saúde pública e a qualidade de vida das comunidades envolvidas.

O que vem agora?

Entidades ambientais, como o Observatório do Clima, disseram que irão à Justiça para contestar a promulgação da Lei Geral do Licenciamento Ambiental. Argumentam que, "além de inconstitucional", o texto "expõe a risco a saúde e a segurança dos brasileiros, libera a destruição ampla dos nossos ecossistemas e viola as metas climáticas do país, que acabou de sediar a COP30."

Especificamente sobre a LAC, o Observatório do Clima informou, em nota divulgada nesta quinta-feira (27), que:

"Com isso, cerca de 90% dos licenciamentos estaduais – que representam a imensa maioria dos licenciamentos do país – poderão ser feitos automaticamente, num apertar de botão. A medida contraria jurisprudência do STF, que já havia vetado autolicenciamento para projetos de médio porte."

O que disseram integrantes do Observatório do Clima sobre a Lei do Licenciamento Ambiental

Eis algumas declarações de integrantes do Observatório do Clima sobre a derrubada dos vetos:

“O Congresso Nacional acabou de enterrar o licenciamento ambiental, ao derrubar os vetos do Poder Executivo. Além de retrocesso criminoso na legislação ambiental, com simplificaçäo excessiva e prioridade para o autolicenciamento, os dispositivos que retornaram com a derrubada dos vetos colidem com os direitos dos indígenas e quilombolas, dão um cheque em branco para os entes subnacionais fazerem o que quiserem com o licenciamento, restringem o campo da aplicação do licenciamento ambiental e reduzem a responsabilidade das instituições financeiras, entre outros absurdos”, disse Suely Araújo, coordenadora de Políticas Públicas do Observatório do Clima.

“A derrubada dos vetos pelo Congresso Nacional revela a irresponsabilidade do Legislativo com o povo, com a natureza e com o clima. Mesmo sem uma vitória esmagadora, a maioria ainda escolheu aprofundar danos gravíssimos à segurança jurídica ambiental do país. O oceano, os biomas, as florestas, os territórios tradicionais, inclusive a pesca artesanal, serão todos atingidos. Esse é, sem dúvida, um retrocesso que coloca em risco vidas e compromissos fundamentais do Brasil. Recorreremos ao STF em busca de justiça e de proteção aos direitos socioambientais”, falou Letícia Camargo, consultora de Advocacy do Painel Mar.

“O Congresso Nacional sepultou hoje seu Sistema Nacional do Meio Ambiente. As consequências serão graves e duradouras, com danos irreversíveis ao meio ambiente e à saúde da população; optou por novos desastres e descontrole da poluição. O governo, a PGR e os partidos políticos deveriam questionar a constitucionalidade da nova Lei no STF para derrubar imediatamente esses importantes retrocessos”, disse Mauricio Guetta, diretor de Políticas Públicas e Direito da Avaaz e professor de direito ambiental.

O que mais estamos lendo

Congresso derruba 52 itens de veto à Lei Geral do Licenciamento Ambiental
Por maioria de votos em ambas as Casas, o Congresso Nacional derrubou, nesta quinta-feira (27), veto do Poder Executivo à 52 pontos da Lei Geral do Licenciamento Ambiental ( Lei 15.190, de 2025 ). Retornam ao texto legal trechos como os que tratam da dispensa e simplificação do licenciamento ambiental e de suas exigências e responsabilidades; e função dos órgãos federais, estados e municípios nesses processos. Os dispositivos rejeitados pelo Parlamento vão à promulgação.
Ao vivo: Congresso vota vetos presidenciais - 27/11/25
Portal de Notícias do Senado Federal: matérias, entrevistas e informações oficiais sobre a atividade legislativa.
Vetos à Lei do Licenciamento Ambiental entram na pauta do Congresso
Congressistas vão analisar e podem derrubar 63 vetos do presidente à lei que enfraquece o licenciamento ambiental
Licenciamento ambiental: projeto que afrouxa regras avança no Congresso
Ambientalistas falam em retrocesso. Governo federal emitiu nota formal contrária à aprovação do texto.

Autor

Maurício de Azevedo Ferro
Maurício de Azevedo Ferro

Jornalista e empreendedor. Criador/CEO do Correio Sabiá. Emerging Media Leader (2020) pelo ICFJ. Cobriu a Presidência da República.

Inscreva-se nas newsletters do Correio Sabiá.

Mantenha-se atualizado com nossa coleção selecionada das principais matérias.

Por favor, verifique sua caixa de entrada e confirme. Algo deu errado. Tente novamente.

Participe para se juntar à discussão.

Por favor, crie uma conta gratuita para se tornar membro e participar da discussão.

Já tem uma conta? Entrar

Inscreva-se nas newsletters do Correio Sabiá.

Mantenha-se atualizado com nossa coleção selecionada das principais matérias.

Por favor, verifique sua caixa de entrada e confirme. Algo deu errado. Tente novamente.