Israel intercepta –em águas internacionais– a flotilha que levava ajuda humanitária a Gaza
Embarcações tentavam romper um bloqueio do território devastado pelos bombardeios israelenses. Ativista Greta Thunberg estava a bordo.

O fato principal
As Forças de Defesa de Israel interceptaram nesta quarta-feira (1.out.2025), em águas internacionais, diversas embarcações que faziam parte de uma flotilha global que levava ajuda humanitária para a Faixa de Gaza.
"[Joguem] os telefones na água", disse um soldado israelense aos tripulantes, conforme é possível ouvir num vídeo divulgado pelo jornal britânico The Guardian.
"Ponham as mãos para cima", disse outro soldado aos tripulantes, no momento da interceptação, que ocorreu a cerca de 120km da costa de Gaza.
Contexto
As embarcações da Flotilha Global Sumud tentavam romper um bloqueio do território devastado pelos bombardeios israelenses, a partir da navegação em águas internacionais, onde têm o direito de navegar.
Mais de 2 milhões de pessoas vivem em Gaza numa situação de miséria, em meio aos escombros. Carecem de suprimentos básicos para sobreviver.
Gaza neste momento precisa de comida, água potável, medicamentos e outros itens cruciais para a vida humana. Israel destruiu quase todos os hospitais do território, que é um dos mais populosos do mundo.
Mais de 66 mil pessoas –sendo a maioria mulheres e crianças– foram mortas desde que os bombardeios israelenses começaram, após o ataque do Hamas no dia 7 de outubro de 2023.
Mais de 270 jornalistas que faziam a cobertura do genocídio palestino também foram mortos, assim como médicos que trabalhavam no socorro às vítimas dos bombardeios israelenses.
A tripulação
A Flotilha Global Sumud era formada por mais de 40 barcos civis transportando cerca de 500 parlamentares de diferentes países, assim como advogados e ativistas. Israel usou drones para sobrevoar os tripulantes e fazer ameaças para que recuassem.
A operação israelense começou com a detenção do navio líder da flotilha, o Alma, que tinha a ativista ambiental Greta Thunberg entre os tripulantes. O internacionalista brasileiro Thiago Ávila também estava a bordo.
"Meu nome é Greta Thunberg. Estou a bordo do navio Alma. Estamos prestes a ser interceptados por Israel", disse ela numa mensagem de vídeo postada no Instagram pouco antes da interceptação.
Thunberg e outros ativistas do Alma foram presos e levados sob custódia ao porto israelense de Ashdod.
Hugo Motta interrompe sessão na Câmara
O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), interrompeu a sessão que votava o projeto de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil ao mês para prestar solidariedade à deputada federal Luizianne Lins (PT-CE).
"Na semana passada, eu falei com a deputada por telefone. [Ela] solicitou a renovação da licença temporária para cumprir essa missão humanitária diante do que ocorre na Faixa de Gaza e confesso que a notícia que recebi me pegou de surpresa. Imediatamente liguei para o chanceler Mauro Vieira solicitando todo o apoio do Itamaraty no contato com as autoridades israelenses visando que a deputada Luizianne possa ter as suas prerrogativas enquanto parlamentar respeitadas, bem como os direitos dos demais brasileiros qe também estão passando por esse momento que a deputada está vivenciando, e nós durante todo o dia de amanhã tentar o contato mais rápido possível solicitando apoio para que a parlamentar possa o quanto antes restabelecer a sua condição de liberdade."
Nota do Itamaraty
O Ministério das Relações Exteriores emitiu uma nota nesta quarta-feira, que diz:
"Diante das primeiras notícias de detenção de nacionais brasileiros a bordo de embarcações da flotilha, entre eles a deputada federal Luizianne Lins, o Brasil recorda o princípio da liberdade de navegação em águas internacionais e ressalta o caráter pacífico da flotilha.
O governo brasileiro deplora a ação militar do governo de Israel, que viola direitos e põe em risco a integridade física de manifestantes em ação pacífica. No contexto dessa operação militar condenável, passa a ser de responsabilidade de Israel a segurança das pessoas detidas."
Nota do Ministério das Relações Exteriores de Israel
A interceptação foi confirmada pelo Ministério das Relações Exteriores de Israel, que informou:
"A Marinha israelense entrou em contato com a flotilha de ajuda humanitária para Gaza e solicitou que mudassem de curso em direção ao porto israelense de Ashdod, onde a ajuda pode ser descarregada e transferida para a Faixa de Gaza."
Histórico
Esta não é a 1ª vez que a Marinha israelense impediu outros barcos de romper o bloqueio, apesar de navegarem por águas internacionais.
- Em junho de 2025, a Freedom Flotilha, que também tinha o internacionalista Thiago Ávila e a ativista Greta Thunberg a bordo, foi interceptada por Israel; os integrantes foram deportados.
- Em 2010, 10 ativistas turcos foram mortos por comandos israelenses que atacaram o navio Mavi Marmara, que liderava uma flotilha de ajuda humanitária em direção a Gaza.
O que diz Israel
Israel, desde 2007, mantém um bloqueio naval e terrestre sobre Gaza. Para isso, alega razões militares de segurança para conter o envio de armas ao Hamas.
O que diz o Direito Internacional
A flotilha é um grupo civil e desarmado, sendo que a passagem de ajuda humanitária é garantida pelo direito internacional, tal como a navegação em águas internacionais.
Por que não há punição contra Israel?
Poder de veto no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas): Israel conta com o apoio político e militar dos Estados Unidos, que frequentemente usam o veto para barrar sanções ou resoluções mais duras contra seus aliados. Isso trava a diplomacia multilateral.
Alinhamento com países europeus: Muitos governos ocidentais, mesmo criticando os excessos, consideram Israel um aliado estratégico no Oriente Médio. A dependência em temas de defesa, tecnologia e inteligência reduz a disposição de confrontar diretamente Israel.
Falta de mecanismos de coerção: Mesmo quando relatórios da ONU, como os do Conselho de Direitos Humanos, acusam Israel de violações (ex.: após a interceptação do Mavi Marmara), não existem meios práticos para obrigar o cumprimento de recomendações, a não ser por sanções econômicas ou ações no Tribunal Penal Internacional –que têm adesão limitada e enfrentam resistência política.
Autor

Jornalista e empreendedor. Criador/CEO do Correio Sabiá. Emerging Media Leader (2020) pelo ICFJ. Cobriu a Presidência da República.
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