BBC diz que Hamas recusou proposta de cessar-fogo de Trump
Desconfiança sobre comprometimento de Netanyahu em cumprir o plano é um dos fatores que preocupam as lideranças do grupo
O fato principal
A BBC informou nesta quinta-feira (2.out.2025) que o Hamas rejeitou a proposta de "paz" anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. De acordo com a emissora, "mediadores entraram em contato com o chefe da ala militar do Hamas em Gaza", Izz al-Din al-Haddad , que "indicou não concordar com o novo plano" norte-americano para um cessar-fogo.
Contexto: o plano de Trump
O plano de Trump, que listava 20 medidas, estabelecia que "o Hamas e outras facções concordam em não ter qualquer papel na governança de Gaza, direta, indireta ou de qualquer forma". Portanto, o documento veta a participação do Hamas num futuro governo na região.
"Parceiros regionais fornecerão garantias para assegurar que o Hamas e as facções cumpram suas obrigações e que a Nova Gaza não represente nenhuma ameaça aos seus vizinhos ou ao seu povo", dizia o comunicado divulgado pela Casa Branca, sede do Poder Executivo dos EUA.
O texto também falava que, "assim que todos os reféns forem devolvidos, os membros do Hamas que se comprometerem com a coexistência pacífica e com o desarmamento receberão anistia".
"Membros do Hamas que desejarem deixar Gaza receberão passagem segura para os países receptores", citava outro trecho.

O que diz o Hamas
Abaixo, por tópicos, listamos alguns pontos contestados pelas lideranças do Hamas, conforme a reportagem da BBC.
Plano elaborado para acabar com o grupo
O líder do Hamas em território palestino acredita que o plano de Trump foi elaborado para acabar com o grupo, independentemente de aceitar ou não o acordo. Portanto, estaria disposto a continuar lutando.
Reféns como única moeda de troca
A reportagem da BBC cita que "parte da liderança política do Hamas no Catar" estaria aberta a aceitar o plano de Trump com alguns ajustes, mas sua influência sobre as decisões finais seria "limitada" porque "não tem controle sobre os reféns mantidos pelo grupo".
Acredita-se que haja 48 reféns com o Hamas, sendo que apenas 20 estariam vivos. Este é um dos principais instrumentos de barganha do grupo com negociadores.
O plano anunciado por Trump exige a entrega de todos os reféns nas primeiras 72 horas do cessar-fogo. Só então é que as salvaguardas de Israel começariam a ser dadas. Portanto, abririam mão de sua única moeda de troca.
Falta de confiança na palavra de Netanyahu
Mesmo com a garantia de Trump de que Israel cumpriria os termos, há uma falta de confiança de que Israel realmente não retomaria suas operações militares após receber os reféns.
As desconfianças são reforçadas porque houve tentativa de assassinar a liderança do Hamas em Doha, capital do Catar, num ataque aéreo em setembro. Até o Catar pediu garantias ao governo Trump de que não seria mais atacado.
Declarações controversas, retirada de tropas e criação de Estado da Palestina
O próprio primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, 1 dia após Trump anunciar o plano de cessar-fogo ao seu lado na Casa Branca, deu declarações controversas sobre a retirada de tropas israelenses do solo palestino e sobre a possibilidade de instituição de um Estado da Palestina.
Embora não seja específico sobre quando possa ser criado um Estado da Palestina, o plano de acordo diz que, uma vez cumpridas as diretrizes, poderá haver um "caminho confiável para a autodeterminação e a criação de um Estado palestino".
Nova forma de ocupação do território
A proposta de acordo estipula que as forças israelenses se retirariam completamente, "exceto por uma presença no perímetro de segurança que permanecerá até que Gaza esteja devidamente protegida de qualquer ameaça terrorista ressurgente".
A reportagem da BBC informa que alguns líderes do Hamas se opõem ao envio, pelos EUA e pelos países árabes, do que o plano descreve como "uma Força Internacional de Estabilização temporária" para Gaza. Eles veem essa iniciativa como uma nova forma de ocupação.
Além disso, um mapa da proposta de retirada gradual das tropas israelenses de Gaza, compartilhado pelo governo Trump, mostra o que ele chama de "zona de segurança" ao longo das fronteiras de Gaza com o Egito e Israel. Não está claro como isso seria administrado nem se Israel estaria diretamente envolvido.
Desarmamento
O plano prevê a desmilitarização completa da Faixa de Gaza, e o Hamas já havia afirmado anteriormente que não se desarmaria até que um Estado palestino soberano fosse estabelecido. Aceitar o acordo significa se desarmar sem a garantia de quando o Estado da Palestina seria instituído.
Desde o dia 7 de outubro de 2023, quando o Hamas atacou Israel e deixou cerca de 1,2 mil pessoas mortas e fez 251 reféns, a campanha israelense deixou 66.225 palestinos mortos –a maioria, mulheres e crianças–, de acordo com o Ministério da Saúde do território.
Autor

1ª organização de notícias do Brasil criada no WhatsApp, em 2018, para combater a desinformação. Criamos produtos midiáticos inovadores para informar, engajar e inspirar.
Inscreva-se nas newsletters do Correio Sabiá.
Mantenha-se atualizado com nossa coleção selecionada das principais matérias.