Guia de Segurança

Focado em coberturas ambientais e políticas

Regra essencial: vida e integridade estão em primeiro lugar

Clique aqui para ler em inglês.

1) Princípios gerais

  • Vida e integridade vêm primeiro. Se o ambiente ficar imprevisível, recue. Nenhuma pauta vale um ferimento.
  • Planejamento e avaliação de risco antes de cada saída (cenário, atores hostis, rotas, riscos legais e climáticos; medidas de mitigação). Use checklist e protocolo de contato (“check-in/out”).
  • Briefing de equipe e papéis claros (repórter líder, apoio, motorista/fixer, ponto focal remoto). Registre no plano de risco.

2) Cobertura de delitos ambientais (campo e áreas remotas)

  • Mapeie atores e economias ilegais (garimpo, madeira, pesca irregular) e evite deslocar-se sem guia/fixer local confiável; chegue discretamente, sem exibir equipamentos caros.
  • Rotas, horários e exfiltração. Priorize luz do dia, vias com sinal e pontos de encontro. Tenha plano B/C.
  • Perfil baixo (“low profile”): roupas neutras, colete “imprensa” apenas quando agregar proteção (não em áreas dominadas por criminosos).
  • Contato de emergência: defina pessoa de referência + horários de checagem; se falhar, aciona-se protocolo (ligar, rastrear, autoridades locais).
  • Riscos aumentados e tendências: jornalistas ambientais sofrem intimidação, vigilância e processos; quase 40% relataram ameaças globais. Planeje mitigação (revisão legal prévia, comunicação segura, dupla em campo).

3) Cobertura de protestos e eventos políticos

  • Antes: estude terreno, saídas, comportamento policial e grupos hostis; prepare kit EPI (óculos, máscara, capacete, calçados fechados) e cartão de jornalista.
    • Se necessário, omita a credencial de identificação. O repórter deve ser capaz de analisar se a população é propensa a repudir o veículo jornalístico para o qual trabalha.
  • Durante: mantenha distância de linhas de confronto; identifique-se estrategicamente; trabalhe em dupla; evite ficar encurralado entre polícia e manifestantes.
  • Depois: deixe a área com calma; faça “debrief” operacional (o que funcionou/falhou) e reporte incidentes a entidades de proteção.

4) Segurança digital (antes/durante/depois)

  • Dispositivos: atualizados, criptografia de disco, senhas fortes + 2FA; laptops/phones “limpos” em áreas hostis.
  • Comunicações: use mensageria com criptografia de ponta a ponta; combine palavras-código para emergência; evite redes Wi-Fi abertas.
  • OpSec com fontes: avalie quem quer descobrir a identidade da fonte, sua capacidade técnica; se necessário, prefira encontros presenciais e sem eletrônicos.
  • Dados pessoais e LGPD: minimize coleta e retenção; armazene apenas o necessário para a reportagem; proteja bases com controle de acesso.
  • Pré-checagem jurídica para matérias sensíveis (especialmente com empresas/políticos). Documente diligência, direito de resposta e evidências.
  • Rede de apoio: acione o Programa de Proteção Legal da Abraji em casos de processos intimidatórios, ameaças e perseguições. Mantenha contatos de advogados de plantão.
  • Registro de incidentes: guarde prints, boletins, laudos médicos, nomes/testemunhas. Reporte a organizações de defesa (CPJ, Abraji).

6) EPI, logística e documentação

  • EPI básico: capacete leve, óculos anti-impacto, máscara (gás/poeira/fumaça), luvas, botas, colete discreto, kit de primeiros socorros (soro, gaze, talas, solução para queimaduras químicas).
  • Kit de campo: power banks, GPS/satcom (área sem sinal), lanterna, apito, fita de identificação de equipe, água/eletrólitos.
  • Identificação: carteira de imprensa e contatos de emergência impressos; considere seguro de acidentes pessoais.

7) Metodologia de deslocamento

  • Veículo: abastecido, revisado, roto-rastreável; evite paradas não planejadas; mantenha verificação de cauda (carros seguindo).
  • Acesso a territórios: entre somente com autorização/guia quando houver autoridades/guardas locais; evite pernoitar em áreas sob controle de criminosos.

8) Gestão de fontes e entrevistas sensíveis

  • Consentimento informado: explique riscos; combine sigilo/anonimato por escrito quando cabível.
  • Locais: opte por pontos neutros, com múltiplas saídas; evite repetir padrões de encontro; compartilhe localização com o ponto focal.

9) Protocolo para incidentes

  • Agressões/hostilidades: retire-se; avise o ponto focal; busque abrigo seguro; registre tão logo possível; avalie necessidade de BO e atendimento médico.
  • Detenções: mantenha calma, identifique-se, não discuta o conteúdo da reportagem; peça contato com advogado; acione a Abraji/CPJ.

10) Saúde mental e pós-incidente

  • Debrief psicossocial após coberturas estressantes (violência, ameaças, cenas degradantes); normalize pausas e acesso a suporte especializado.

11) Equidade e gênero

  • Riscos específicos para mulheres e pessoas LGBTQIA+: planeje rotas/apoios, códigos de emergência e transporte seguro; políticas internas contra assédio; canais de denúncia.

12) Governança e responsabilidades internas

  • Editor: responsável por aprovar planos de risco, EPIs, contatos e briefings.
  • Ponto focal de campo: monitora check-ins, guarda rotas e aciona protocolos.
  • Treinamentos periódicos: segurança física, digital e legal (parcerias recomendadas com Abraji/ICFJ/EJN).
  • Registro institucional: todo plano de risco, incidentes e debriefs ficam arquivados.

Anexos e leituras úteis


Observação: Este guia deve ser revisado semestralmente, com atualização de contatos, EPIs e protocolos conforme lições aprendidas em campo e novas recomendações.
Manual de Segurança para a Cobertura de Protestos
O “Manual de Segurança para Cobertura de Protestos” foi elaborado em 2014 a partir de entrevistas com repórteres agredidos, presos ou hostilizados durante os protestos que tomaram as ruas a partir de junho de 2013. Além dessa experiência recente com a violência em…
Resources for journalists covering protests - Committee to Protect Journalists
Protests and other crowded gatherings are dynamic situations that can quickly turn dangerous or violent. It is important for journalists to understand the protest environment they are reporting in and to be prepared for any potential risks they may encounter. Covering protests and civil unrest may result in surveillance, arrest, and targeted attacks. Journalists should…
Segurança e proteção
Tradução Raquel Lima Os números são cruéis para os nossos colegas ao redor do mundo. Desde 1992, mais de 1.370 jornalistas foram mortos, conforme o Committee to Protect Journalists — em português: Comitê para a Prote&c
Digital security tips and resources for journalists
In today’s digital world, spying on journalists has never been easier.With the click of a mouse, high-tech stalkers can intercept mobile phone conversations, emails, text messages and satellite transmissions. Once infected with malware, a computer transmits keystrokes and passwords back to whoever controls it. In the hands of pros, the device becomes an espionage tool.Attacks might come from intelligence agencies, criminal cartels or terrorist groups that monitor media activities. Governments may use it to silence or punish critics.

Sign up for Correio Sabiá newsletters.

Stay up to date with curated collection of our top stories.

Please check your inbox and confirm. Something went wrong. Please try again.