Fogo na Amazônia sob análise do IPAM: após 2024 'atípico' e cheio de incêndios, 2025 aponta redução 'histórica'
Clima foi um dos principais motivos para a queima e para a redução. Dados de 2025, no entanto, também encontram um cenário de política pública mais robusto.

O fato principal
Com base em dados oficiais compilados pela plataforma MapBiomas Brasil sobre o fogo na Amazônia e em outros biomas brasileiros, o IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) analisou que 2024 foi um ano atípico, com muito mais incêndios do que na média dos anos anteriores. No entanto, os números também mostram que 2025 teve uma redução drástica de incêndios florestais.
"Temos em média 18,5 milhões de hectares queimados no Brasil nos últimos 40 anos, mas ano passado [2024] tivemos cerca de 30 milhões de hectares. Só não foi o ano que mais queimou porque 2007 está bem pertinho. Foi um pouquinho maior [em 2007], mas [2024] foi o 2º ano que mais queimou no Brasil como um todo, o que representa um aumento de 62% acima da média anual de queima. Então, de fato, 2024 foi para um Brasil um ano anômalo", disse Ane Alencar, diretora de Ciência do IPAM.
A análise dos dados, assim como a declaração da pesquisadora, ocorreu numa conferência de imprensa virtual realizada no dia 1º de outubro de 2025 destinada a veículos de imprensa selecionados. O Correio Sabiá participou.
Alencar disse que a Amazônia teve, em 2024, um momento "muito anômalo", completamente "fora da curva". Os dados sobre fogo nos ambientes florestais, "tanto Amazônia quanto Mata Atlântica", chamaram "muita atenção".
"O Pantanal foi o 3º ano que mais queimou, só atrás de 1999 e 2020. A Amazônia, pelo seu tamanho –Amazônia e Pantanal, basicamente–, encabeçou esse aumento da área queimada no Brasil", disse.
Mapa do fogo no Brasil
Alencar disse que, quando se analisa quais os municípios em que o fogo mais ocorreu, é possível "perceber muito bem as frentes de expansão" nos diferentes biomas.
Eis o gráfico apresentado neste momento da fala da pesquisadora:

Por que tanto fogo em 2024?
Ao frisar que 2024 teve muito mais fogo na Amazônia do que de costume, Alencar ressaltou que o ano também foi "muito atípico no que diz respeito aos incêndios florestais". E há várias razões, segundo a pesquisadora:
"Dentre elas, a principal [razão], eu diria, foram as condições de clima. Muito seco."
Alencar disse que 2024 foi o 2º ano seguido com forte seca, assim como ocorreu em 2023, "principalmente em seu final". Por isso, havia uma "seca acumulada com um legado muito importante" para o ano passado, que acabou tornando a situação do fogo totalmente atípica.
Além disso, a pesquisadora falou em outros fatores que contribuíram para o resultado final. Exemplos:
- Uso criminoso do fogo, "principalmente em áreas de florestas públicas não destinadas";
- Uso do fogo legal (corriqueiro), que é o "uso do fogo em pastagens, o que representa em grande parte a área queimada da Amazônia, normalmente".
"Ano passado [2024], pelo menos até outubro, tivemos 55% de toda a área queimada na Amazônia começando numa área de pasto", disse Ane Alencar.
Os gráficos de pizza abaixo mostram como 2024 foi um ano atípico, com muito mais incêndios florestais do que no período anterior. De acordo com ela, a expansão ocorre principalmente em terras indígenas e privadas.

Indicativos positivos para o próximo período
Ane Alencar ressaltou que os dados coletados e analisados até 30 de setembro de 2025 mostravam considerável redução de focos de calor.
De acordo com ela, assim como 2024 foi um ano muito atípico, existe um "cenário muito positivo" e "histórico" em 2025, com "64% de redução de focos de calor no Brasil todo". Eis as reduções divididas por bioma:
- Amazônia: 80%
- Pantanal: 97%
- Cerrado: 47%
- Mata Atlântica: 49%
Houve aumento em 2 biomas, Pampa e Caatinga, mas que não são expressivos para o conjunto de dados nacionais.
No Pampa, que tem atividade de fogo muito pequena, houve aumento de 300 para 600 focos. Percentualmente, é uma elevação de 100%, mas que não é expressiva pela quantidade de focos nem pelo tamanho do bioma, o que não é expressivo para o tamanho do bioma.
Na Caatinga, houve aumento de 18%, que é uma elevação "importante" para o bioma, segundo Alencar, mas sem grande expressão a nível nacional.
"Temos uma situação totalmente diferente do passado. Esta situação também está relacionada à questão do clima", disse.
Por que 2025 teve uma melhora 'histórica' nos dados sobre o fogo?
De acordo com Ane Alencar, estes são os principais fatores para a redução das notificações de fogo na Amazônia e nos outros biomas, de maneira geral, em 2025:
"Saímos de um processo de El Niño e entramos no La Niña, que traz mais umidade para a Amazônia. Esse La Niña não foi tão forte [em 2025]. Quando deveria ser mais forte, no início deste ano, o efeito foi um pouco neutralizado e acabou que a estação chuvosa se estendeu um pouco mais e vimos uma Amazônia um pouco mais úmida até no período de seca. Então, em julho, por exemplo, ainda estava chovendo em várias cidades –e até em agosto. Então, não era chuva o tempo inteiro, mas chuvas esparsas, o que acaba comprometendo o calendário de queimadas das pessoas e deixando a vegetação um pouco mais úmida, portanto com menos probabilidade de incêndios."
"Claro que não foi só isso. Vimos também que, com o alerta do desmatamento em maio, houve mais operações para reduzir o desmatamento em meses anteriores. Tivemos uma redução também grande em meses posteriores, junho, julho, agosto, e tem sempre aquele efeito que chamo de 'efeito trauma': quem sofreu com a perda de animais, perda de pasto, vai ser mais cauteloso em colocar fogo no ano seguinte."
"Acreditamos que todas essas questões –questão de clima, fiscalização um pouco maior em municípios críticos, impacto da perda de um ano anterior muito forte de seca e de fogo–, isso tudo levou a esse cenário que a gente está vendo, que é um cenário histórico."
"Nunca, desde que começamos a monitorar a Amazônia, tivemos um período de agosto e setembro com tão pouco fogo para o que estamos acostumados. É realmente muito, muito abaixo do que realmente acontece."
Ane Alencar destacou que os dados mostram "claramente a distância entre 2025 e os outros anos", com uma situação da atividade de fogo na Amazônia distinta que "encontra um cenário político, estratégico, de gestão, também diferente", devido à Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo.
Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo

O IPAM apresentou uma cronologia da legislação e das normas sobre manejo de fogo nos diferentes biomas brasileiros. A lei foi instaurada em julho de 2024, sendo seguida de um decreto e de uma resolução relevantes para o tema.
"A política [pública] traz essa perspectiva de entender o fogo pela sua veia cultural de uso do fogo, a veia ecológica e a veia de manejo daquele fogo, de como preparar e suprimir o fogo", disse Ane Alencar.
"Dentro da Política Nacional de Manejo do Fogo temos vários elementos. A instalação do Comitê foi fundamental para que várias resoluções e regulamentações começassem a ser criadas para botar para frente a estratégia do manejo do fogo", continuou a pesquisadora.
*Este conteúdo está sob atualização até quarta-feira (8.out.2025).
Autor

Jornalista e empreendedor. Criador/CEO do Correio Sabiá. Emerging Media Leader (2020) pelo ICFJ. Cobriu a Presidência da República.
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