Fatah se manifesta sobre plano de Trump para a 'paz' em Gaza
Grupo palestino elogia esforços dos EUA, mas cita a importância de estabelecer condições que não estão explícitas no plano de cessar-fogo de Trump
O fato principal
O Fatah, de centro-esquerda, fundado por Yasser Arafat e maior agremiação da confederação partidária de esquerda da OLP (Organização para a Libertação da Palestina), divulgou nesta quinta-feira (2.out.2025) uma nota oficial pela qual comenta o plano de cessar-fogo em Gaza proposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
O comunicado "saúda" os "esforços sinceros e incansáveis" de Trump para colocar um fim aos bombardeios em Gaza, assim como diz confiar na "capacidade" do presidente norte-americano para "encontrar um caminho para a paz". O texto diz que é importante trabalhar com os EUA para interromper conflitos na região.
Nossa interpretação
Apesar do tom positivo em que saúda Trump, a nota oficial não é 100% clara sobre concordar com a proposta dele para cessar-fogo. Na verdade, dá a entender que considera a proposta uma iniciativa relevante, mas que precisa ser trabalhada em conjunto.
Isso porque o comunicado do Fatah fala de impedimento de anexação de terras, retirada total das forças de Israel do território palestino e unificação do território e das instituições palestinas na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental. São requisitos que não estão previstos no plano de Trump.
O texto do Fatah mostra proatividade em relação à desmilitarização e ao obedecimento a uma série de medidas listadas por Trump, mas avança em garantias de soberania que não estavam explicitamente previstas.
A íntegra da nota (traduzida do árabe)
O Estado da Palestina saúda os esforços sinceros e incansáveis do Presidente Donald J. Trump para pôr fim à guerra em Gaza e reafirma sua confiança em sua capacidade de encontrar um caminho para a paz. Também enfatiza a importância da parceria com os Estados Unidos para alcançar a paz na região.
Renova seu compromisso conjunto de trabalhar com os Estados Unidos, países da região e parceiros para pôr fim à guerra em Gaza por meio de um acordo abrangente que garanta a entrega de ajuda humanitária adequada a Gaza, a libertação de reféns e prisioneiros e o estabelecimento de mecanismos que protejam o povo palestino, assegurem o respeito ao cessar-fogo e a segurança de ambas as partes, impeçam a anexação de terras e o deslocamento de palestinos, interrompam ações unilaterais que violem o direito internacional, liberem a receita tributária palestina, levem à retirada total de Israel e unifiquem o território e as instituições palestinas na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental. Também põe fim à ocupação e abre caminho para uma paz justa baseada na solução de dois Estados, com um Estado da Palestina independente e soberano, convivendo lado a lado com o Estado de Israel em paz, segurança e boa vizinhança, em conformidade com o direito internacional.
Reafirmando os compromissos assumidos pelo Estado da Palestina na Conferência Internacional de Nova York em relação à conclusão do programa de reformas palestinas, incluindo a realização de eleições presidenciais e parlamentares dentro de um ano após o fim da guerra, e o compromisso de todos os candidatos às eleições com o programa político e os compromissos internacionais da Organização para a Libertação da Palestina, a legitimidade internacional e o princípio de um sistema, uma lei e uma força de segurança palestina legítima.
Afirmamos que buscamos um Estado palestino moderno, democrático e desmilitarizado, comprometido com o pluralismo e a transferência pacífica de poder.
Também nos comprometemos a implementar um programa de desenvolvimento curricular em conformidade com os padrões da UNESCO dentro de dois anos, abolindo as leis e regulamentos sob os quais os pagamentos são feitos às famílias de prisioneiros e mártires e estabelecendo um sistema unificado de bem-estar social sujeito ao escrutínio internacional. O Estado da Palestina afirma sua prontidão para se envolver positiva e construtivamente com os Estados Unidos e todas as partes para alcançar paz, segurança e estabilidade para os povos da região.
O que é o Fatah e qual sua origem?
O Fatah é um dos principais movimentos políticos palestinos, historicamente associado ao nacionalismo palestino.
Origem
- O Fatah foi fundado no final da década de 1950 por um grupo de palestinos exilados, entre eles Yasser Arafat, Khalil al-Wazir (Abu Jihad) e Salah Khalaf (Abu Iyad).
- O nome é um acrônimo invertido de Harakat al-Tahrir al-Watani al-Filastini (em árabe: Movimento de Libertação Nacional da Palestina). Ao inverter a sigla, obtém-se “Fatah”, palavra que também significa “conquista” ou “abertura” em árabe.
- Seu surgimento ocorreu num contexto de frustração: após a criação do Estado de Israel em 1948 e a derrota dos exércitos árabes, milhões de palestinos se tornaram refugiados, e os partidos árabes tradicionais não davam respostas efetivas à causa palestina.
Evolução histórica
- Inicialmente, o Fatah defendia a luta armada como forma de libertar a Palestina. Seu primeiro ataque militar registrado contra Israel foi em 1965.
- Em 1969, o Fatah assumiu a liderança da OLP (Organização para a Libertação da Palestina), tornando-se o grupo dominante da entidade que representava os palestinos no cenário internacional.
- Sob a liderança de Arafat, o Fatah foi gradualmente adotando uma postura mais política, até reconhecer o direito de Israel existir e passar a apoiar a solução de 2 Estados nos anos 1990, no processo de Oslo.
- Após a morte de Arafat, em 2004, a liderança passou para Mahmoud Abbas (Abu Mazen), atual presidente da Autoridade Palestina.
Situação atual
- O Fatah controla a Cisjordânia, por meio da Autoridade Palestina.
- Seu rival principal é o Hamas, que governa a Faixa de Gaza desde 2007. As disputas entre os dois grupos dividem a política palestina.
- Hoje, o Fatah é visto como um movimento mais secular e moderado em comparação com o Hamas.
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Autor

Jornalista e empreendedor. Criador/CEO do Correio Sabiá. Emerging Media Leader (2020) pelo ICFJ. Cobriu a Presidência da República.
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