Em discurso, Lula reconhece 'contradições' e 'dificuldades', mas reforça urgência por um 'mapa' para superar emergência climática

Presidente defendeu os povos tradicionais da região amazônica e encerrou declarações com citação a uma crença dos indígenas Yanomami

Em discurso, Lula reconhece 'contradições' e 'dificuldades', mas reforça urgência por um 'mapa' para superar emergência climática
Imagem: Bruno Peres/Agência Brasil
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) abriu a Cúpula de Líderes da COP30 nesta quinta-feira (6.nov.2025) com um discurso que reconheceu "dificuldades e contradições", mas reforçou a necessidade de estabelecer um "mapa" para "superar a dependência dos combustíveis fósseis" e "reverter o desmatamento".

"Acelerar a transição energética e proteger a natureza são as duas maneiras mais efetivas de conter o aquecimento global. Estou convencido de que, apesar das nossas dificuldades e contradições, precisamos de mapas do caminho para, de forma justa e planejada, reverter o desmatamento, superar a dependência dos combustíveis fósseis e mobilizar os recursos necessários para esses objetivos", declarou Lula.
"É o momento de levar a sério os alertas da ciência. É hora de encarar a realidade e decidir se teremos ou não a coragem e a determinação necessárias para transformá-la", disse o presidente. 

Lula acrescentou:

"As convergências já são conhecidas. Nosso objetivo será enfrentar as divergências." 

Por estes e outros motivos, de acordo com o presidente:

"A COP30 será a COP da verdade."

Comunidades indígenas e tradicionais

Entre outros tópicos, o discurso do presidente na abertura da COP30 defendeu os povos tradicionais da região amazônica:

"Aqui residem milhões de pessoas e centenas de povos indígenas, cujas vidas são atravessadas pelo falso dilema entre a prosperidade e a preservação. São elas que, diariamente, conjugam em seus modos de vida a busca legítima por uma existência digna com a missão vital de proteger um dos maiores patrimônios naturais da humanidade."
"Por isso, é justo que seja a vez dos amazônidas de indagar o que está sendo feito pelo resto do mundo para evitar o colapso de sua casa."

No encerramento da sua declaração oficial, o presidente citou de uma crença dos indígenas Yanomami para ilustrar a emergência climática:

"Entre os povos indígenas Yanomami, que habitam a Amazônia, existe a crença de que cabe aos seres humanos sustentar o céu, para que ele não caia sobre a Terra. Essa perspectiva dá a medida da nossa responsabilidade perante o planeta, principalmente diante dos mais vulneráveis, mas também reconhece que o poder de expandir horizontes está em nossas mãos."
"Temos que abraçar um novo modelo de desenvolvimento mais justo, resiliente e de baixo carbono."
"Espero que esta Cúpula contribua para empurrar o céu para cima e ampliar nossa visão para além do que enxergamos hoje."
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Dados de impacto

Ao defender ações para mitigar os efeitos das mudanças climáticas, Lula citou dados oficiais:

  • O relatório de emissões do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente estima que o planeta caminha para ser dois graus e meio mais quente até 2100.
  • Segundo o Mapa do Caminho Baku-Belém, as perdas humanas e materiais serão drásticas.
  • Mais de 250 mil pessoas poderão morrer a cada ano.
  • O PIB global pode encolher até 30%.

Lentidão na ação

Para o presidente brasileiro, "a humanidade está ciente do impacto da mudança do clima há mais de 35 anos, desde a publicação do primeiro relatório do IPCC [Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas]".

No entanto, "foram necessárias 28 conferências para que se reconhecesse pela 1ª vez, em Dubai, a necessidade de se afastar dos combustíveis fósseis e de parar e reverter o desmatamento."

"Foi preciso 1 ano adicional para que se admitisse, em Baku, a perspectiva de ampliar o financiamento climático para US$ 1 trilhão e 300 bilhões de dólares", acrescentou.
Imagem: Bruno Peres/Agência Brasil

Lula cita '2 descompassos'

O presidente mencionou 2 "descompassos" que precisam ser sanados para endereçar soluções às mudanças climáticas e aproximar a emergência do clima das pessoas:

1) Mundo real x salões diplomáticos

Abaixo, em itálico, as declarações do presidente:

"As pessoas podem não entender o que são emissões ou toneladas métricas de carbono, mas sentem a poluição."
"Podem não compreender o que são sumidouros de carbono ou reguladores climáticos, mas reconhecem o valor das florestas e dos oceanos."
"Podem não ser versadas em financiamento concessional ou misto, mas sabem que nada se faz sem recursos."
"Podem não assimilar o significado de um aumento de um grau e meio na temperatura global, mas sofrem com secas, enchentes e furacões."

2) Contexto geopolítico x urgência climática

Abaixo, em itálico, as declarações do presidente:

"Forças extremistas fabricam inverdades para obter ganhos eleitorais e aprisionar as gerações futuras a um modelo ultrapassado que perpetua disparidades sociais e econômicas e degradação ambiental."
"Rivalidades estratégicas e conflitos armados desviam a atenção e drenam os recursos que deveriam ser canalizados para o enfrentamento do aquecimento global."
"Enquanto isso, a janela de oportunidade que temos para agir está se fechando rapidamente."

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Autor

Maurício de Azevedo Ferro
Maurício de Azevedo Ferro

Jornalista e empreendedor. Criador/CEO do Correio Sabiá. Emerging Media Leader (2020) pelo ICFJ. Cobriu a Presidência da República.

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