Eleições presidenciais no Equador, 2025: a disputa entre Daniel Noboa e Luisa González
A quase 15 dias do 2º turno da eleição no Equador, a opositora Luisa González lidera pesquisas contra presidente Daniel Noboa. Entenda.

A cerca de 15 dias para a disputa do 2º turno da eleição presidencial no Equador 🇪🇨, marcado para o dia 13 de abril de 2025, a candidata de oposição Luisa González (Revolucción Ciudadana) tem pequena vantagem sobre o atual presidente Daniel Noboa (Acción Democrática Nacional, ADN), que disputa a reeleição. Eles têm projetos políticos distintos para o futuro do país.
De um lado, González, defensora do legado do ex-presidente Rafael Correa, que propõe o retorno de políticas progressistas e maior intervenção estatal. De outro, Noboa, jovem empresário herdeiro de um império bananeiro, com uma visão que mescla liberalismo econômico e propostas de linha-dura para segurança pública.
O que dizem os dados 📊, com base nas informações disponíveis até o dia 28 de março de 2025?
- Luisa González tem 53,97% das intenções de voto para o 2º turno em 13 de abril de 2025, enquanto Daniel Noboa tem 46,03%.
- No 1º turno do Equador em 2025, realizado em 9 de fevereiro, Noboa teve 44,17% dos votos contra 43,97% de González.
- É uma diferença minúscula de apenas 0,20 ponto percentual, que representa menos de 20 mil votos.
- Pesquisas de boca de urna inicialmente davam vantagem mais ampla a Noboa no 1º turno, mas os resultados oficiais mostraram uma disputa muito mais acirrada do que se imaginava.
- O 3º colocado do 1º turno foi o líder indígena Leonidas Iza, que teve pouco mais de 5,3% dos votos (525.885 votos).
- Iza foi o protagonista das manifestações mais densas do país, tanto em outubro de 2019 quanto em junho de 2022. Representa a resistência ao capitalismo, a promoção de uma economia solidária, a defesa do meio ambiente e a cobrança de impostos dos mais ricos.
- A princípio, as propostas de Iza não se encaixam perfeitamente nas agendas de nenhum dos 2 concorrentes do 2º turno, portanto a transferência de votos não é garantida. Ambos devem ter que conversar com o líder indígena para atrair seus eleitores.
- Em 4º lugar, Andrea González teve 2,7% dos votos no 1º turno.
- Os outros candidatos não chegaram nem a 1% dos votos no 1º turno.
- A abstenção no 1º turno foi de 17%, com 6,7% de votos nulos e 2,6% em branco.
2º turno no Equador, contextualizado
A rivalidade entre Noboa e González se estende desde as eleições de 2023, quando o atual presidente saiu vencedor. O contexto político tem desafios para o país, que enfrenta aumento da violência ligada ao narcotráfico, dificuldades econômicas e instabilidade institucional.
Noboa conseguiu manter-se como preferência eleitoral, apesar dos diversos problemas que o país enfrenta, como a insegurança, a violência e o desemprego. Janeiro de 2025 foi o mês com o maior número de mortes violentas no Equador. Foram registradas 750, o que representa 45,04% a mais do que no mesmo mês de 2024.
A margem estreita que separou os candidatos no 1º turno das eleições de 2025 –apenas 0,2 ponto percentual– evidencia um país dividido, onde o 2º turno em abril de 2025 tende a ser uma das disputas mais acirradas da história equatoriana.
🗞️ 9 fontes de informação confiável sobre o Equador
Quer saber mais sobre as eleições equatorianos? Separamos uma lista de fontes de informação confiáveis 🗞️ no Equador.
- El Universo, um dos maiores jornais diários do Equador, com sede em Guayaquil.
- El Comercio, importante jornal de circulação nacional.
- Ecuador Chequea, site de checagem de fatos (fact-checking).
- La Posta, site de notícias conhecido por fazer jornalismo investigativo.
- Conselho Nacional Eleitoral (CNE), órgão responsável pelas eleições.
- TC Televisión, emissora de televisão estatal.
- El Telégrafo, jornal estatal em formato digital.
- Fundamedios, ONG equatoriana que monitora a liberdade de imprensa.
- Repórteres Sem Fronteiras, organização internacional que avalia a liberdade de imprensa em diversos países, inclusive no Equador, oferecendo dados relevantes para compreender a política e o contexto local.
Histórico de turbulência política do Equador
O Equador tem um histórico de instabilidade governamental. De 1997 a 2007 –um espaço de apenas 10 anos–, o país teve 7 presidentes. Nenhum deles conseguiu completar seu mandato.
Este período incluiu casos como o de Abdalá Bucaram, apelidado de "El Loco", deposto quando o Parlamento declarou que ele não tinha estabilidade mental para governar. Em outro episódio, o presidente Jamil Mahuad foi destituído por um golpe militar.
A instabilidade só foi parcialmente interrompida durante os 10 anos de governo de Rafael Correa (2007-2017), que conseguiu manter-se no poder por um período incomumente longo para os padrões equatorianos. No entanto, acabou condenado a 8 anos de prisão por corrupção em 2020. Vive atualmente exilado na Bélgica.
Seu sucessor, Lenín Moreno, inicialmente apresentado como continuador de seu projeto político, surpreendentemente mudou de rumo ao assumir o poder, adotando políticas de direita e rompendo com o correísmo, o que aprofundou ainda mais as divisões políticas no país.
O que é o mecanismo da 'morte cruzada' no Equador
Uma peculiaridade do sistema político equatoriano que teve papel relevante na ascensão de Noboa à Presidência é o mecanismo conhecido como "morte cruzada", estabelecido pela Constituição de 2008. Este dispositivo permite que o presidente dissolva a Assembleia Nacional e convoque novas eleições, com a contrapartida de também encurtar seu próprio mandato presidencial.
Foi precisamente a ativação da "morte cruzada", acionada pela 1ª vez na História do Equador em maio de 2023 pelo presidente Guillermo Lasso, que permitiu a eleição antecipada que levou Daniel Noboa ao poder. Lasso enfrentava um processo de impeachment no Parlamento, e Noboa foi eleito para um mandato curto até maio de 2025, quando completaria o período de Lasso.
O uso desse dispositivo constitucional abriu um precedente na História política equatoriana. Tornou-se uma possibilidade a considerar quando futuros presidentes enfrentarem parlamentos hostis, o que tende a aumentar a instabilidade a longo prazo.
Sistema eleitoral e dinâmica partidária
O sistema eleitoral equatoriano tem características que moldam diretamente a competição política entre Noboa e González. Detalhamos neste conteúdo do Correio Sabiá.
Para vencer as eleições presidenciais no 1º turno, um candidato precisa obter 50% dos votos ou, alternativamente, 40% com uma vantagem de pelo menos 10 pontos percentuais sobre o 2º colocado.
O voto é obrigatório para cidadãos entre 18 e 65 anos e opcional para jovens de 16 a 18 anos e maiores de 65.
Equador tem paridade de gênero nas listas eleitorais
Um aspecto progressista do sistema eleitoral equatoriano é a obrigatoriedade da paridade de gênero nas listas eleitorais, estabelecida por uma Lei de Cotas que começou com 20% de participação feminina e gradualmente foi aumentada até chegar a 50% nas eleições de 2008. Este sistema determina que as listas eleitorais precisam alternar candidatos homens e mulheres desde o início até o fim da lista. É um avanço para a participação feminina na política.
A Assembleia Nacional é composta por 151 representantes eleitos por um sistema misto, que inclui 15 deputados eleitos em circunscrição nacional, 103 eleitos provincialmente mediante representação proporcional e mais 6 eleitos pelos equatorianos residentes no exterior. Esta configuração tem favorecido a fragmentação política, dificultando a formação de maiorias parlamentares estáveis e contribuindo para a polarização que caracteriza a disputa entre Noboa e González.
Perfis dos 2 candidatos à Presidência no Equador em 2025
Abaixo, algumas características e históricos dos 2 candidatos à Presidência do Equador em 2025.
Daniel Noboa: jovem empresário na Presidência, com origens familiares e formação de elite
Daniel Noboa nasceu em Guayaquil e pertence à 3ª geração de uma das famílias mais poderosas do Equador. Seu avô, Luis Noboa Naranjo (1916-1994), fundou a Exportadora Bananera Noboa e já foi considerado o homem mais rico do país. Seu pai, Álvaro Noboa Pontón, expandiu o império familiar para além das bananas, controlando uma rede multinacional sob o nome de Grupo Noboa. O sucesso econômico do clã foi várias vezes afetado por alegações de evasão fiscal e exploração laboral.
A formação acadêmica de Noboa reflete seu status privilegiado e sua orientação internacional. Ele estudou Administração de Negócios na Universidade de Nova York e obteve mestrados em Administração Pública na Harvard Kennedy School e em Governança e Comunicação Política na Universidade George Washington. Esta educação de elite em instituições norte-americanas prestigiosas compõe sua imagem como político, sob o argumento de ser supostamente alguém com preparo técnico para liderar o país em momentos de crise.
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A carreira empresarial de Daniel Noboa começou cedo. O "espírito empreendedor" foi incorporado à sua narrativa política. Aos 18 anos, fundou sua empresa de organização de eventos chamada DNA Entertainment Group. Depois, trabalhou nas empresas da família, ganhando experiência administrativa no império comercial do pai, cuja fortuna é estimada em US$ 910 milhões, com 128 empresas espalhadas por mais de 50 países.
Casado com a modelo e influencer Lavinia Valbonesi, de 25 anos, mãe de seu 2º filho, Noboa construiu uma imagem pública moderna. Seu perfil nas redes sociais, onde mantém atividade constante, ajudou a conectá-lo com um eleitorado jovem, essencial para sua vitória eleitoral em 2023, quando aproximadamente 1/4 dos eleitores equatorianos eram jovens de 18 a 29 anos.
Diferentemente de seu pai, que tentou chegar à presidência 5 vezes sem sucesso, Daniel Noboa teve uma ascensão política rápida. Iniciou sua carreira política apenas em 2021, quando foi eleito deputado e tornou-se presidente da Comissão de Desenvolvimento Econômico do Parlamento. Em apenas 2 anos, passou de novato político a presidente da República, um percurso que surpreendeu analistas e adversários.
☛ Um aspecto interessante de seu posicionamento político é a distância que busca estabelecer em relação à imagem de seu pai nos planos simbólico, discursivo e prático. Por exemplo: enquanto seu pai foi classificado como alguém da direita, Daniel Noboa diz ser de centro-esquerda, com ideias sociais progressistas, apoio à comunidade LGBTQia+ e ênfase na educação. É uma estratégia de marketing político para atrair um eleitorado mais amplo e diversificado.
Luisa González: advogada e representante do correísmo
Luisa Magdalena González Alcivar nasceu em 22 de novembro de 1977 em Quito, mas cresceu na província de Manabí. Sua trajetória pessoal contrasta com a de Noboa e tem elementos que a conectam com setores populares da sociedade equatoriana. González casou-se aos 15 anos, foi mãe aos 16 e divorciou-se aos 22 anos. Estas experiências de vida, diferentes do privilégio herdado por Noboa, são parte relevante de sua identidade política.
Apesar das dificuldades inerentes à história descrita acima, González conseguiu construir uma sólida formação acadêmica. Graduou-se como advogada pela Universidade Internacional do Equador e fez mestrados em Alta Gerência pelo Instituto de Altos Estudos Nacionales e em Economia Internacional e Desenvolvimento pela Universidade Complutense de Madrid. Sua identificação como evangélica constitui outro aspecto significativo de sua identidade que ressoa com um segmento considerável do eleitorado equatoriano.
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A trajetória política de González está intrinsecamente ligada ao governo de Rafael Correa, no qual ocupou sucessivamente cargos de crescente responsabilidade. Iniciou sua carreira pública em março de 2008 como assessora da Secretaria de Comunicação e Informação da Presidência. Ao longo dos anos seguintes, ascendeu na hierarquia governamental, ocupando posições como coordenadora de Recursos Humanos na Superintendência de Companhias, coordenadora da agenda presidencial, vice-cônsul em Madrid (Espanha 🇪🇸), vice-ministra de Turismo e, finalmente, Secretária Nacional da Administração Pública em janeiro de 2017.
Sua última posição no governo Correa foi como ministra do Trabalho, cargo que ocupou brevemente em maio de 2017, mantendo-o até a transição presidencial que levou Lenín Moreno ao poder. Após um período atuando em outros setores, foi eleita para a Assembleia Nacional nas eleições legislativas de 2021, representando a província de Manabí. Esta experiência parlamentar ampliou seu perfil político, preparando-a para a candidatura presidencial em 2023.
González é identificada como a herdeira política do correísmo, representando a continuidade do projeto da "Revolução Cidadã" iniciado por Rafael Correa em 2007. Ela "promete restaurar os programas sociais implementados pelo seu padrinho político Rafael Correa, que governou o Equador entre 2007 e 2017", defendendo maior intervenção estatal na economia e políticas sociais abrangentes.
Entre suas propostas para as eleições de 2025 está o uso de US$ 2,5 bilhões das reservas internacionais para estimular a economia e investir em infraestrutura pública. No campo da segurança, González propõe reformas institucionais, com ênfase na "depuração de maus elementos" do sistema judicial e na criação de gabinetes de segurança itinerantes nas cidades mais perigosas do país.
Em algumas questões, González adota posições mais conservadoras que contrastam com sua imagem progressista. Por exemplo, quando integrava a Assembleia Nacional, rejeitou a ideia de que o aborto seja um direito. Esta combinação de progressismo econômico e conservadorismo em questões morais reflete a complexidade do posicionamento político no contexto equatoriano.
Eleições de 2023 no Equador, 1º embate no vácuo de poder
As eleições presidenciais de 2023 no Equador ocorreram em circunstâncias excepcionais, após o presidente Guillermo Lasso ativar o mecanismo de "morte cruzada", dissolvendo a Assembleia Nacional e convocando eleições antecipadas. A manobra constitucional criou um vácuo de poder que permitiu a ascensão de novos atores políticos, como Daniel Noboa.
Além da crise política, o país enfrentava graves problemas de segurança pública, com aumento alarmante da violência relacionada ao narcotráfico. Um evento trágico que marcou profundamente a campanha eleitoral foi o assassinato do candidato presidencial Fernando Villavicencio, morto a tiros em agosto de 2023 quando saía de um evento de campanha em Quito. Este crime chocou o país e colocou a segurança no centro do debate eleitoral, favorecendo candidatos com propostas mais duras nessa área, como Noboa.
O 1º turno das eleições, realizado em agosto de 2023, teve Luisa González na liderança com 33,62% dos votos, enquanto Daniel Noboa ficou em 2º lugar com 23,42%. Por si só, este resultado já foi considerado surpreendente na época, porque permitiu a Noboa entrar no 2º turno, algo que até então não era previsto.
No 2º turno, realizado em 15 de outubro de 2023, Noboa conseguiu uma virada impressionante, conquistando 51,83% dos votos contra 48,17% de González. Esta vitória, por uma margem de cerca de 370 mil votos, consolidou sua imagem como um fenômeno político capaz de unir diferentes setores do eleitorado anti-correísta. O voto feminino e jovem foi fundamental.
💭 Eleição de 2023 no Equador, aprofundada
Os debates presidenciais foram momentos decisivos na campanha eleitoral de 2023 no Equador. Houve 2 embates diretos entre Luisa González e Daniel Noboa –encontros televisivos cristalizaram as diferenças entre os candidatos e contribuíram para a polarização do eleitorado.
A campanha de Noboa destacou-se por suas propostas de combate à violência, que incluíam a criação de uma nova unidade de inteligência, fornecimento de armas táticas para as forças de segurança e a controversa ideia de instalar navios-prisão para isolar os criminosos mais perigosos de suas redes criminosas. Estas propostas de linha-dura ressoaram com um eleitorado aterrorizado pelo aumento da violência, especialmente após o assassinato de Villavicencio.
González, por sua vez, baseou sua campanha na promessa de restaurar as políticas sociais e econômicas da era Correa, criticando fortemente as medidas neoliberais implementadas por Lasso. Ela apresentou-se como a candidata da experiência governamental, enfatizando sua participação nos "anos dourados" do correísmo, contrastando com a inexperiência política de Noboa.
Governo Noboa (2023-2025): como ficou o Equador
Abaixo, dividimos o governo Noboa em áreas temáticas, oferecendo uma visão geral sobre temas relevantes.
'Mão de ferro' na segurança pública
Ao assumir a Presidência em novembro de 2023, Noboa tratou o combate à violência relacionada ao narcotráfico como tema prioritário. Sua abordagem para a segurança tem sido caracterizada por medidas de linha-dura, incluindo a militarização de áreas críticas e operações intensivas contra grupos criminosos. Ele declarou estado de emergência por 3 meses –um "conflito armado interno" que explicamos neste conteúdo do Correio Sabiá–, classificando os cartéis de drogas e suas gangues armadas como "terroristas".
Em público, Noboa apresenta resultados desta abordagem, destacando durante um debate presidencial que seu governo conseguiu uma "redução de 15% nas mortes violentas" em âmbito geral. No entanto, janeiro de 2025 teve um considerável aumento dessas mortes em relação ao mesmo período de 2024, como mencionamos acima neste mesmo conteúdo.
Em 2024, o Equador quebrou o recorde de apreensões de drogas, com 294 toneladas apreendidas. No entanto, a oposição argumenta que a abordagem militarizada provoca violações aos direitos humanos e não aborda as causas fundamentais da criminalidade. Um caso controverso foi o assassinato de 4 crianças por uma patrulha militar num crime com conotações racistas".
Gestão econômica com desregulamentação financeira
No campo econômico, o governo Noboa enfrentou dificuldades para cumprir promessas de campanha. O Equador já vinha de uma situação econômica fragilizada, agravada pela pandemia de Covid-19, e dependia de financiamento externo para equilibrar suas contas. A gestão de Noboa tem sido caracterizada por políticas de liberalização comercial e desregulamentação financeira. Isso elevou a dívida pública do país para 67% do PIB (Produto Interno Bruto), ante 38% em 2016", de acordo com a oposição.
Uma medida impopular foi o aumento do IVA (Imposto sobre Valor Agregado) de 12% para 15%, implementado para financiar suas políticas de segurança pública. A decisão foi criticada por setores da oposição, que argumentaram que o aumento de impostos penalizou desproporcionalmente as famílias de baixa renda num contexto em que mais de 5 milhões de equatorianos (de uma população total de 13 milhões) viviam abaixo da linha da pobreza. Cerca de 58% da população economicamente ativa trabalhava no setor informal sem emprego registrado.
O crescimento econômico no governo Noboa foi modesto. Em 2024, apenas 0,3%. O desempenho ficou abaixo das expectativas e tornou-se um dos principais pontos de ataque da campanha eleitoral da oposição em 2025.
Desabastecimento de energia e disputas institucionais
Além das questões de segurança e economia, o governo Noboa enfrentou uma grave crise energética que resultou em prolongados apagões e racionamentos de eletricidade em diversas partes do país. Embora tenha conseguido estabilizar o fornecimento de eletricidade antes da eleição, o governo não conseguiu resolver as causas fundamentais do problema. Isso provocou descontentamento entre a população e o setor produtivo.
O relacionamento com a vice-presidente Verónica Abad representou um problema interno. Noboa não entregou o poder à vice-presidente na campanha eleitoral de 2025, como seria de praxe, conforme a Constituição, quando um presidente em exercício concorre à reeleição. Em vez disso, deixou o cargo para a secretária de Administração Pública Cynthia Gellibert, nomeando-a como "vice-presidente responsável". A manobra seria inconstitucional e provocou questionamentos sobre o comprometimento de Noboa com as regras democráticas.
Eleições presidenciais do Equador 2025, em foco
Adversários em 2023, Daniel Noboa e Luisa González disputam novamente um 2º turno presidencial em 2025, sendo o resultado do 1º turno o mais apertado da História do Equador. Diferença de apenas 0,2 ponto percentual, ficando Noboa em 1º lugar com 44,17% dos votos válidos (4.527.255), contra 43,97% (4.507.508) de González. Apenas 19.747 votos separaram os 2.
Acusações mútuas e alegações de irregularidades no pleito por parte de Noboa
O processo eleitoral de 2025 tem acusações recíprocas entre os candidatos. Após a divulgação dos resultados preliminares, Noboa alegou a existência de irregularidades no processo de apuração. Sem apresentar provas concretas, o presidente sugeriu que o bom desempenho de González estaria relacionado a vínculos com grupos criminosos.
"Neste mesmo fim de semana, nós capturamos um membro de Los Lobos [organização criminosa] que têm direta relação com membros da Revolução Cidadã. (...) Há dezenas e dezenas de casos em que ameaçaram as pessoas para que votassem na Revolução Cidadã", disse.
González também questionou a integridade do processo eleitoral. Ela disse que "a polícia teria impedido alguns de seus observadores de entrarem nas seções onde ocorria a contagem dos votos", assim como criticou a presidente do CNE (Conselho Nacional Eleitoral), órgão responsável pela condução do pleito.
"Em vez de ser uma guardiã do processo eleitoral, tem sido uma gerente de campanha de Daniel Noboa, permitindo que irregularidades sejam cometidas e a lei não seja cumprida".
Em debate eleitoral no 2º turno, González desafiou Noboa a fazer um exame antidoping, sugerindo que o presidente usa drogas.
Diferentes visões políticas em disputa: os projetos para o Equador
Abaixo, alguns tópicos em que as posições de González e Noboa contrastam.
Segurança pública: Militarização x reforma institucional
Uma das diferenças mais fundamentais entre Noboa e González está em suas abordagens para enfrentar os desafios da (in)segurança pública.
Noboa defende uma postura linha-dura para a segurança pública, enfatizando a militarização da segurança pública e medidas punitivas severas. Sua proposta mais emblemática e controversa é "a de criar navios-prisões para isolar os presos de suas redes criminosas", uma medida inédita que gerou debates sobre sua constitucionalidade e eficácia. Noboa também propõe "a militarização das fronteiras" e o fortalecimento do aparato repressivo do Estado, com a criação de unidades especiais de inteligência e o fornecimento de armamento tático avançado para as forças de segurança.
González, por outro lado, propõe uma abordagem que combina reforma institucional com políticas sociais preventivas. Ela defende "a 'depuração de maus elementos' do sistema judicial e a criação de gabinetes de segurança itinerantes nas cidades mais perigosas do Equador". Sua visão parte do princípio de que a corrupção institucional e a desigualdade social são fatores fundamentais para o crescimento da criminalidade, exigindo soluções que vão além da resposta puramente militar.
Política econômica: neoliberalismo x intervencionismo
No campo econômico, as diferenças refletem visões contrastantes sobre o papel do Estado na economia e as prioridades para o desenvolvimento nacional.
Noboa, com formação em administração e experiência empresarial, favorece políticas mais liberais economicamente. Ele defende a atração de investidores estrangeiros e a criação de empregos para os jovens, assim como fala em equilibrar o "cumprimento da dívida externa com as necessidades da população". O governo fala em disciplina fiscal, mesmo com medidas impopulares de aumento do IVA. Busca boas relações com instituições financeiras internacionais. Entre suas propostas econômicas estão os incentivos fiscais e créditos baratos para pequenos empresários, uma visão que aposta no empreendedorismo e na iniciativa privada como motores do desenvolvimento econômico.
González, alinhada com a visão econômica de Rafael Correa, defende um papel muito mais ativo do Estado na economia e prioriza políticas redistributivas. Ela prometeu usar US$ 2,5 bilhões de reservas internacionais para resolver a economia e investir em infraestrutura pública e reintroduzir os programas sociais implementados durante a presidência de Correa. Ela critica os altos níveis de pobreza, o crescimento do trabalho informal e a desigualdade social crescente do país. Ela questiona a desregulamentação financeira, argumentando que em uma economia dolarizada como a do Equador.
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