'Dívida dos países do Sul Global é eticamente inaceitável e economicamente insustentável', diz Lula no G20

Presidente mencionou que o valor global gasto com pagamento da dívida supera a quantia requisitada na COP para superar emergência climática

'Dívida dos países do Sul Global é eticamente inaceitável e economicamente insustentável', diz Lula no G20
Em primeiro plano, com fone de ouvido, o presidente Lula. Imediatamente atrás, o ministro Mauro Vieira (Relações Exteriores), durante agenda do G20 / Imagem: Ricardo Stuckert/PR
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O fato principal

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou neste sábado (22.nov.2025) o status da dívida dos países do Sul Global e o fluxo de capital que sai destas nações em direção aos ricos do Norte.

"A conta é simples: existe um fluxo de capital negativo, que vai dos países do Sul para os países ricos do Norte global", disse o presidente brasileiro em discurso lido na 1ª sessão da Cúpula de Líderes do G20 (grupo que reúne as 19 maiores economias do mundo + União Europeia), na África do Sul.
"A questão da dívida dos países do Sul Global é eticamente inaceitável e economicamente insustentável", acrescentou Lula.

O presidente declarou que "quase metade da população mundial vive em países que gastam mais com o serviço da dívida do que em saúde ou educação".

Lula disse que "o custo do pagamento do serviço da dívida dos países em desenvolvimento aumentou para US$ 1,4 trilhão de dólares por ano". Ele lembrou que esta quantia supera o valor solicitado para mitigação das mudanças climáticas:

"É mais do que o valor que o Plano de Ação de Baku a Belém tenta mobilizar para ação climática."

Leia a íntegra do discurso de Lula no G20 de 2025

É uma alegria retornar à África do Sul. Agradeço ao Presidente Ramaphosa pela acolhida calorosa em Joanesburgo.

Saúdo a aprovação da Declaração de Líderes desta Cúpula, que recompensa o esforço e o excelente trabalho diplomático da presidência sul-africana.

Esta é a primeira cúpula do G20 no continente africano e a segunda a contar com a participação da União Africana após sua estreia no Rio de Janeiro, em 2024.  

Com a presidência sul-africana, todos os nossos países terão exercido, pelo menos uma vez, a liderança do grupo.

O G20 nasceu como foro de líderes em resposta à crise de 2008. 

Eu estive presente na primeira Cúpula, convocada pelo então presidente George Bush, em Washington.

Naquele momento, buscávamos enfrentar as consequências nefastas do neoliberalismo: a desregulamentação dos mercados financeiros, os paraísos fiscais, a falta de transparência, os salários exorbitantes de banqueiros e a urgência em reformar as instituições de Bretton Woods.

Intervenções oportunas e a coordenação entre as economias desenvolvidas e os mercados emergentes foram fundamentais para evitar colapso de proporções catastróficas.

Mas a resposta oferecida pela comunidade internacional foi incompleta e produziu efeitos colaterais que perduram até hoje.

Enveredamos por uma trilha que repetiu a receita de austeridade como um fim em si mesmo, que aprofundou desigualdades e que ampliou tensões geopolíticas.

Agora, o protecionismo e o unilateralismo ressurgem como respostas fáceis e falaciosas para a complexidade da realidade atual.

Seus efeitos exacerbam os problemas que enfrentamos.

O próprio funcionamento do G20 como instância de diálogo e coordenação está ameaçado.

É preciso preservar a capacidade deste fórum de tratar os grandes temas da atualidade.

Se não formos capazes de encontrar caminhos dentro do G20, não será possível fazê-lo em um mundo conflagrado.

Conflitos como na Ucrânia e em Gaza, além das trágicas consequências humanas e materiais, produzem impactos significativos sobre a segurança energética e alimentar.

No Sudão, vemos a maior crise humanitária dos últimos anos seguir sem perspectiva de solução.

Os históricos problemas sociais e econômicos da América Latina e do Caribe não serão solucionados mediante a ameaça de uso da força.

Sem atender às demandas dos países em desenvolvimento, não será possível restabelecer o equilíbrio global, nem assegurar prosperidade que seja sustentável no longo prazo.

A desigualdade extrema representa um risco sistêmico para todas as economias.

90% da população mundial vive em países com alta disparidade de renda.

O G20 deve incentivar a adoção de mecanismos inovadores de troca de dívida por desenvolvimento e por ação climática.

O debate sobre tributação internacional e taxação dos super-ricos é inadiável.

A Aliança contra a Fome e a Pobreza, lançada durante a presidência brasileira do G20, e a iniciativa sul-africana sobre as dimensões macroeconômicas da segurança alimentar e dos preços dos alimentos caminham lado a lado.

Está na hora de declarar a desigualdade uma emergência global e redesenhar regras e instituições que sustentam assimetrias.

O Brasil apoia a proposta da África do Sul de criação de um Painel Independente sobre Desigualdade, nos moldes do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima.

Essa iniciativa será fundamental para recolocar nos trilhos a implementação dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.

Sem financiamento a Agenda 2030 não passará de uma declaração de boas intenções.

No ano passado, a economia mundial cresceu mais de 3%.

Os gastos com armamentos aumentaram 9,4%.

Mas a Ajuda Oficial ao Desenvolvimento caiu 7%.

A conta é simples: existe um fluxo de capital negativo, que vai dos países do Sul para os países ricos do Norte global.

A questão da dívida dos países do Sul Global é eticamente inaceitável e economicamente insustentável.

Quase metade da população mundial vive em países que gastam mais com o serviço da dívida do que em saúde ou educação

O custo do pagamento do serviço da dívida dos países em desenvolvimento aumentou para US$ 1,4 trilhão de dólares por ano.

É mais do que o valor que o Plano de Ação de Baku a Belém tenta mobilizar para ação climática.

Senhoras e senhores,

Durante o regime do Apartheid, a filosofia de Ubuntu inspirou o caminho de reconciliação e fraternidade construído por líderes como Nelson Mandela e o arcebispo Desmond Tutu.

Nenhum país tem condições de prosperar em isolamento.

As soluções que buscamos estão ao redor desta mesa.

Muito obrigado.


O último encontro do G20 (grupo que reúne as 19 maiores economias do mundo + União Europeia) foi realizado no Rio de Janeiro, em 2024.

O que sabemos sobre o G20 de 2024, no Rio de Janeiro
O que é o G20? Quais países fazem parte? Quais líderes estão no Rio de Janeiro para o encontro de 2024? Estas e outras perguntas, respondidas.

Autor

Maurício de Azevedo Ferro
Maurício de Azevedo Ferro

Jornalista e empreendedor. Criador/CEO do Correio Sabiá. Emerging Media Leader (2020) pelo ICFJ. Cobriu a Presidência da República.

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