'Democracia e soberania do Brasil são inegociáveis', escreve Lula em artigo no New York Times

Na 1ª frase do texto, Lula declarou que quer estabelecer "diálogo aberto e franco" com Donald Trump

'Democracia e soberania do Brasil são inegociáveis', escreve Lula em artigo no New York Times
Imagem: Ricardo Stuckert/PR
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O fato principal

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) publicou neste domingo (14.set.2025) um artigo de opinião no jornal norte-americano The New York Times, o maior do mundo. A íntegra (traduzida para o português com uso de IA) está mais abaixo neste conteúdo.

Logo em sua 1ª frase, Lula diz que quer estabelecer diálogo com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que impôs sanções de 50% aos produtos brasileiros:

"Decidi escrever este artigo para estabelecer um diálogo aberto e franco com o presidente dos Estados Unidos."

A seguir, por tópicos, alguns argumentos e recados usados por Lula.

Tarifas como instrumento político

O presidente brasileiro disse que "recorrer a ações unilaterais contra Estados individuais é prescrever o remédio errado" para recuperar empregos norte-americanos e reindustrializar o país.

"O multilateralismo oferece soluções mais justas e equilibradas. O aumento de tarifas imposto ao Brasil neste verão não é apenas equivocado, mas também ilógico", afirmou.

Lula incluiu dados no artigo, mencionou que "os Estados Unidos não apresentam déficit comercial" com o Brasil "nem estão sujeitos a tarifas elevadas". Por isso, concluiu:

"A falta de justificativa econômica por trás dessas medidas deixa claro que a motivação da Casa Branca é política."

Bolsonaro e a 'tentativa frustrada de golpe'

O presidente escreveu que Trump tem usado sanções econômicas e a Lei Magnitsky "para buscar impunidade para o ex-presidente Jair Bolsonaro, que orquestrou uma tentativa frustrada de golpe".

Lula declarou que o julgamento de Bolsonaro no STF (Supremo Tribunal Federal) não se trata de uma "caça às bruxas", conforme Trump já classificou. Disse ainda que tem "orgulho" da Corte por sua "decisão histórica na quinta-feira [11.set.2025], que salvaguarda nossas instituições e o Estado Democrático de Direito".

"A decisão foi resultado de procedimentos conduzidos em conformidade com a Constituição Brasileira de 1988, promulgada após duas décadas de luta contra uma ditadura militar. Isso ocorreu após meses de investigações que revelaram planos para assassinar a mim, ao vice-presidente e a um ministro do Supremo Tribunal Federal. As autoridades também descobriram um projeto de decreto que teria efetivamente anulado os resultados das eleições de 2022", disse.

Regulamentação das redes sociais

Lula disse que "são falsas" as alegações do governo Trump sobre o sistema judiciário brasileiro "perseguir e censurar empresas de tecnologia americanas". O presidente disse que todas as empresas estrangeiras "estão sujeitas às mesmas leis no Brasil."

"É desonesto chamar regulamentação de censura, especialmente quando o que está em jogo é a proteção de nossas famílias contra fraudes, desinformação e discurso de ódio. A internet não pode ser uma terra de ilegalidade, onde pedófilos e abusadores têm liberdade para atacar nossas crianças e adolescentes."

Defesa do PIX

Lula defendeu o sistema de pagamentos PIX, criado pelo Banco Central brasileiro. Disse que são "igualmente infundadas" as "alegações do governo [Trump] sobre práticas desleais do Brasil no comércio digital e nos serviços de pagamento eletrônico".

"Ao contrário de ser injusto com os operadores financeiros dos EUA, o sistema de pagamento digital brasileiro, conhecido como PIX, permitiu a inclusão financeira de milhões de cidadãos e empresas. Não podemos ser penalizados por criar um mecanismo rápido, gratuito e seguro que facilita as transações e estimula a economia."

Combate aos crimes ambientais na Amazônia

Anteriormente, Trump acusou o Brasil de falhar em "aplicar as leis ambientais". Lula também chamou essas alegações de "falsas". Houve forte redução no desmatamento na Amazônia durante o governo Lula, como apontam os dados do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

"Nos últimos 2 anos, reduzimos a taxa de desmatamento na Amazônia pela metade. Somente em 2024, a polícia brasileira apreendeu centenas de milhões de dólares em ativos usados em crimes ambientais. Mas a Amazônia ainda estará em perigo se outros países não fizerem sua parte na redução das emissões de gases de efeito estufa."

Leia a íntegra do artigo que Lula publicou no NYTimes

Decidi escrever este artigo para estabelecer um diálogo aberto e franco com o presidente dos Estados Unidos. Ao longo de décadas de negociação, primeiro como líder sindical e depois como presidente, aprendi a ouvir todos os lados e a levar em conta todos os interesses em jogo. É por isso que examinei cuidadosamente os argumentos apresentados pelo governo Trump para impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros.

Recuperar empregos americanos e reindustrializar são motivações legítimas. Quando, no passado, os Estados Unidos levantaram a bandeira do neoliberalismo, o Brasil alertou para seus efeitos nocivos. Ver a Casa Branca finalmente reconhecer os limites do chamado Consenso de Washington, uma prescrição política de proteção social mínima, liberalização comercial irrestrita e desregulamentação geral dominante desde a década de 1990, justificou a posição brasileira.

Mas recorrer a ações unilaterais contra Estados individuais é prescrever o remédio errado. O multilateralismo oferece soluções mais justas e equilibradas. O aumento de tarifas imposto ao Brasil neste verão não é apenas equivocado, mas também ilógico. Os Estados Unidos não apresentam déficit comercial com o nosso país, nem estão sujeitos a tarifas elevadas. Nos últimos 15 anos, acumularam um superávit de US$ 410 bilhões no comércio bilateral de bens e serviços. Quase 75% das exportações americanas para o Brasil entram com isenção de impostos. Pelos nossos cálculos, a tarifa média efetiva sobre produtos americanos é de apenas 2,7%. Oito dos 10 principais itens têm tarifa zero, incluindo petróleo, aeronaves, gás natural e carvão.

A falta de justificativa econômica por trás dessas medidas deixa claro que a motivação da Casa Branca é política. O vice-secretário de Estado, Christopher Landau, teria dito isso no início deste mês a um grupo de líderes empresariais brasileiros que trabalhavam para abrir canais de negociação. O governo americano está usando tarifas e a Lei Magnitsky para buscar impunidade para o ex-presidente Jair Bolsonaro, que orquestrou uma tentativa frustrada de golpe em 8 de janeiro de 2023, em um esforço para subverter a vontade popular expressa nas urnas.

Tenho orgulho do Supremo Tribunal Federal (STF) por sua decisão histórica na quinta-feira, que salvaguarda nossas instituições e o Estado Democrático de Direito. Não se tratou de uma "caça às bruxas". A decisão foi resultado de procedimentos conduzidos em conformidade com a Constituição Brasileira de 1988, promulgada após duas décadas de luta contra uma ditadura militar. Isso ocorreu após meses de investigações que revelaram planos para assassinar a mim, ao vice-presidente e a um ministro do Supremo Tribunal Federal. As autoridades também descobriram um projeto de decreto que teria efetivamente anulado os resultados das eleições de 2022.

O governo Trump acusou ainda o sistema judiciário brasileiro de perseguir e censurar empresas de tecnologia americanas. Essas alegações são falsas. Todas as plataformas digitais, nacionais ou estrangeiras, estão sujeitas às mesmas leis no Brasil. É desonesto chamar regulamentação de censura, especialmente quando o que está em jogo é a proteção de nossas famílias contra fraudes, desinformação e discurso de ódio. A internet não pode ser uma terra de ilegalidade, onde pedófilos e abusadores têm liberdade para atacar nossas crianças e adolescentes.

Igualmente infundadas são as alegações do governo sobre práticas desleais do Brasil no comércio digital e nos serviços de pagamento eletrônico, bem como sua suposta falha em aplicar as leis ambientais. Ao contrário de ser injusto com os operadores financeiros dos EUA, o sistema de pagamento digital brasileiro, conhecido como PIX, permitiu a inclusão financeira de milhões de cidadãos e empresas. Não podemos ser penalizados por criar um mecanismo rápido, gratuito e seguro que facilita as transações e estimula a economia.

Nos últimos 2 anos, reduzimos a taxa de desmatamento na Amazônia pela metade. Somente em 2024, a polícia brasileira apreendeu centenas de milhões de dólares em ativos usados em crimes ambientais. Mas a Amazônia ainda estará em perigo se outros países não fizerem sua parte na redução das emissões de gases de efeito estufa. O aumento da temperatura global pode transformar a floresta tropical em uma savana, interrompendo os padrões de chuva em todo o hemisfério, incluindo o Centro-Oeste americano.

Quando os Estados Unidos dão as costas a um relacionamento de mais de 200 anos, como o que mantém com o Brasil, todos perdem. Não há diferenças ideológicas que impeçam 2 governos de trabalharem juntos em áreas onde têm objetivos comuns.

Presidente Trump, continuamos abertos a negociar qualquer coisa que possa trazer benefícios mútuos. Mas a democracia e a soberania do Brasil não estão em pauta. Em seu primeiro discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas, em 2017, o senhor afirmou que “nações fortes e soberanas permitem que países diversos, com valores, culturas e sonhos diferentes, não apenas coexistam, mas trabalhem lado a lado com base no respeito mútuo”. É assim que vejo a relação entre o Brasil e os Estados Unidos: duas grandes nações capazes de se respeitar e cooperar para o bem de brasileiros e americanos.

Author

Maurício de Azevedo Ferro
Maurício de Azevedo Ferro

Jornalista e empreendedor. Criador/CEO do Correio Sabiá. Emerging Media Leader (2020) pelo ICFJ. Cobriu a Presidência da República.

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