
Entenda o que é deflação e quais os seus efeitos
Assim como em julho de 2022, IPCA de junho de 2023 mostrou queda geral dos preços (ou seja, deflação)

*Assobio: Este é mais um conteúdo de contexto do Correio SabiÔ para que você realmente entenda o noticiÔrio. A publicação original ocorreu no dia 10 de agosto de 2022, às 14h08. No entanto, fizemos atualizações para te manter bem informada/o.
AĀ inflação oficial de junho de 2023Ā foi, na verdade, uma deflação: -0,08%, como apontou o IPCA (Ćndice de PreƧos ao Consumidor Amplo), medido pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e EstatĆstica). Ou seja, ao invĆ©s de haver aumento geral dos preƧos, houve redução geral dos preƧos em junho de 2023.Ā
- ?Ā Contexto. Neste caso, a deflação fez aumentar a pressĆ£o por uma redução no patamar de 13,75% ao ano da taxa bĆ”sica de juros (Selic) na próxima reuniĆ£o do Copom (ComitĆŖ de PolĆtica MonetĆ”ria).Ā ??
Mesma situação deflacionÔria ocorreu, por exemplo, em julho de 2022, quando houve variação negativa nos valores praticados no Brasil: -0,68%. Por isso, neste artigo, vamos explicar tudo o que você precisa saber sobre deflação para que realmente entenda o noticiÔrio.
O que é deflação
Enquanto a inflação é a alta dos preços (quando aumentam de valor), a deflação é a queda dos preços (quando diminuem de valor).
Portanto, a deflação Ć© como se fosse uma inflação ao contrĆ”rio. Trata-se da redução de valores de produtos e serviƧos durante um perĆodo de tempo.
O que causa a deflação
Como a deflação Ć© a queda geral dos preƧos, para entender o que causa deflação, Ć© necessĆ”rio entender o que faz os preƧos diminuĆrem. Vamos lĆ”:
Enquanto o mercado estƔ aquecido e hƔ consumidores comprando determinado produto ou serviƧo, os valores desses itens tendem a subir.
No entanto, se não hÔ pessoas suficientes comprando esses produtos e serviços, os valores tendem a cair até que o preço chegue a um ponto em que os itens voltem a ser consumidos.
Por isso, um dos fatores que podem levar a um cenÔrio de deflação é uma crise econÓmica. Com menos poder aquisitivo, a população para ou reduz seu consumo. Assim, força os preços a serem também reduzidos.
A redução dos preços, nesse contexto, é uma forma dos comerciantes e prestadores de serviços tentarem restabelecer as vendas.
A deflação tambĆ©m pode ser causada de maneira mais āartificialā. Exemplo: se estiver insatisfeito com o valor de um determinado produto ou serviƧo, o governo pode oferecer subsĆdios para segurar os preƧos ou atĆ© forƧar sua redução.
Medidas estruturais na economia, por meio de legislações ou modificações no recolhimento de tributos, também podem causar a redução dos preços e criar um cenÔrio deflacionÔrio, ou seja, de deflação.
- Clique aqui para receber nossa curadoria de notĆcias no seu WhatsApp
- Clique aqui para se INSCREVER em nosso podcast diƔrio no Spotify.
- Financie o nosso jornalismo independente. Precisamos de vocĆŖ para continuar produzindo um material de qualidade. Seja um apoiador do nosso trabalho.

IPCA: deflação de 0,68% em julho de 2022
Nos meses que antecederam este resultado, os governos federal e estaduais, junto com o Congresso Nacional e com a Petrobras, promoveram uma sĆ©rie de medidas voltadas aos valores dos combustĆveis no paĆs.
O Congresso aprovou redução da alĆquota do ICMS dos combustĆveis, com compensação financeira dos eventuais prejuĆzos de arrecadação pela UniĆ£o.
Em julho, a Petrobras promoveu duas reduƧƵes em 10 dias no valor da gasolina nas distribuidoras. Somando as duas (R$ 0,35), a queda do valor de venda nas refinarias foi de R$ 4,06 para R$ 3,71.
Os estados, ao longo de meses, promoveram congelamento da alĆquota do ICMS, vedando eventuais aumentos.
Todas essas medidas fizeram o valor mĆ©dio da gasolina no paĆs, por exemplo, cair de R$ 7,13 no fim de junho para R$ 5,84 no inĆcio de agosto.
NĆ£o Ć toa, o grupo de Transportes teve deflação de 4,51% no IPCA de julho. Ou seja, a variação foi negativa: -4,51%. Este grupo foi o maior responsĆ”vel pela queda geral dos preƧos no paĆs em julho.Ā
De um total de 9 grupos aferidos no IPCA, apenas 2 tiveram reduções gerais de valor. Um deles, Transportes. O outro, Habitação (-1,05%).
Trata-se de um caso em que o conjunto de medidas econƓmicas adotadas criou um cenƔrio deflacionƔrio.

à bom ter deflação?
A resposta para essa pergunta é: depende. Pontualmente, a deflação pode ser bem-vinda para a economia, como no caso atual do Brasil.
No perĆodo de 12 meses acumulados atĆ© junho, a inflação no Brasil era de 11,89%. Portanto, uma inflação elevada.
Considerando-se apenas os 6 meses de 2022 até junho, a inflação brasileira jÔ era de 5,45%, acima do limite mÔximo definido como aceitÔvel pelo Banco Central para o ano todo, de 5%.
Dessa forma, uma redução geral dos preços era desejÔvel para manter o poder de compra da população.
Ainda Ʃ necessƔrio considerar que, para conter o cenƔrio inflacionƔrio, o Banco Central aumentou por 12 vezes seguidas a taxa bƔsica de juros, a Selic, definida em 13,75% ao ano na primeira semana de agosto.
O aumento da taxa bÔsica de juros tem um objetivo: estimular as pessoas a não gastarem dinheiro, criando um ambiente favorÔvel ao rendimento dos investimentos.
A retirada de dinheiro de circulação > faz as pessoas pouparem mais e gastarem menos > faz produtos e serviços terem reduções de preços, com objetivo de recuperar as vendas > em busca de um novo preço (inferior) que faça as pessoas voltarem a achar vantajoso consumir.
Em tese, Ć© assim que funciona.
Por isso, diante de um cenÔrio de inflação elevada e taxa de juros igualmente elevada, uma deflação também tem potencial de abrir caminho para uma redução dessa taxa de juros, o que também é desejÔvel.
Por que deflação pode ser ruim?
Por outro lado, um cenÔrio persistente de deflação mostra uma economia em recessão e pode criar um ciclo vicioso de diminuição de renda e desemprego.
Imagine a seguinte situação (inversa daquela que explicamos sobre aumento da taxa de juros): numa tentativa de estimular as pessoas a consumir, o Banco Central reduz a taxa de juros > mesmo assim, persiste um cenÔrio deflacionÔrio, com redução dos preços > o Banco Central torna a reduzir a taxa e, novamente, não tem sucesso.
Ć possĆvel que, assim, chegue-se a um ponto em que nĆ£o haja mais margem de manobra na taxa de juros (0%) para controlar a atividade econĆ“mica. O Banco Central fica sem instrumentos para fazer polĆtica monetĆ”ria, em outras palavras.
A persistência desse quadro deflacionÔrio dificulta, primeiro, que empregadores abram novas vagas de emprego; depois, que mantenham as vagas existentes.
A deflação, portanto, pode levar ao empobrecimento da população, ao desemprego e à diminuição da renda, de forma geral. A quantidade de empresas diminui sem consumidores que consigam comprar seus produtos e serviços.
Por isso, da mesma maneira, Ć© possĆvel dizer que um cenĆ”rio controlado de inflação Ć© desejĆ”vel para a população de um paĆs, porque mostra que ela estĆ” com crescimento de emprego e renda; com dinheiro para consumir, gerando mais riquezas para as pessoas sem que os preƧos fiquem exorbitantes.
Author

Jornalista e empreendedor. Criador/CEO do Correio SabiĆ”. Emerging Media Leader (2020) pelo ICFJ. Cobriu a PresidĆŖncia da RepĆŗblica.
Sign up for Correio SabiĆ” newsletters.
Stay up to date with curated collection of our top stories.