CPI: VTCLog fez aditivos milionários com a Saúde
CPI: Sócio da VTCLog confirma aditivos milionários em contratos com a Saúde
Por outro lado, Raimundo Nonato declarou que não houve pagamento de propina ao ex-diretor da pasta, Roberto Dias
Sócio da empresa de logística VTCLog, Raimundo Nonato Brasil confirmou em depoimento à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Pandemia no Senado nesta 3ª feira (05.out.2021) que contratos entre a empresa e o Ministério da Saúde sofreram aditivos milionários.
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A VTCLog presta serviços de armazenamento e distribuição de medicamentos, insumos e vacinas para o ministério desde 2018, quando o ministro à frente da Saúde era o atual líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR). A CPI investiga o fechamento desses contratos sem processo de licitação, em valores muito acima do recomendado por técnicos da pasta.
Vice-presidente da CPI, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) disse que os contratos fechados em valor acima da média coincidem com a gestão de Barros. À época, o atual líder do governo na Câmara extinguiu um órgão interno da Saúde responsável pelo serviço de logística, o Cenadi (Central Nacional de Armazenamento e Distribuição de Imunobiológicos), e contratou a VTCLog em seu lugar.
Em julho deste ano, uma reportagem exibida pelo Jornal Nacional, da Rede Globo, revelou que Roberto Dias, na época diretor de Logística do Ministério da Saúde, ignorou orientação da Consultoria Jurídica da pasta e pagou à VTCLog um valor 18 vezes acima do recomendado, durante a pandemia.
Perguntado pelos senadores, Nonato afirmou que esses aditivos existiram e que foram necessários devido às demandas provocadas pela pandemia, como a compra de ultrafreezers para acondicionamento das vacinas.
Nonato nega pagamento de propina a ex-diretor do Ministério da Saúde
‘Roberto Dias em nenhum momento recebeu dinheiro da VTCLog para o pagamento de suas contas’, disse Andréia Lima
Nonato negou ter pago qualquer tipo de vantagem ilícita a Roberto Dias, ex-diretor da Saúde, exonerado do cargo após ser acusado de cobrar propina para a aquisição de imunizantes.
Integrantes da CPI suspeitam que a empresa de logística tenha favorecido Roberto Dias para que ele facilitasse o fechamento dos contratos entre a VTCLog e o governo.
Relator da CPI, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) afirmou que a comissão tem provas de que a empresa pagou boletos em nome de Dias, favorecendo-o. A versão apresentada por Nonato é que Dias era cliente da empresa VoeTur, dos mesmos proprietários da VTCLog, e que ele havia dívidas em aberto. Calheiros contestou esse argumento:
“Se ele era cliente e comprou passagens, deveria ser o contrário: Roberto Dias deveria pagar, e não receber.”
Mais tarde, também em depoimento à CPI, a diretora-executiva da empresa, Andréia Lima, deu informações no mesmo sentido daquelas prestadas por Nonato.
“Roberto Dias em nenhum momento recebeu dinheiro da VTCLog para o pagamento de suas contas. Ele é cliente da VoeTur Turismo e realizou alguns depósitos para pagar alguns bilhetes de passagens aéreas. Outros ele pagou em dinheiro ao nosso financeiro. Quando o boy foi para o banco, nosso financeiro pegou o dinheiro para que quitasse aquele boleto da VoeTur Turismo. Para entrar no nosso banco, tem que pagar para que eu possa dar baixa no boleto contabilmente”, disse Andréia.
Motoboy sacou quase R$ 400 mil
Em setembro, a CPI ouviu Ivanildo Gonçalves Dias, motoboy da VTCLog. Ele foi convocado depois que o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) encontrou movimentações suspeitas no valor de R$ 117 milhões nas contas da empresa nos últimos 2 anos.
Vídeos obtidos pela comissão mostram que o motoboy pagou boletos em nome de Roberto Dias numa agência bancária de Brasília. Sacou quase R$ 400 mil em dinheiro vivo. Ivanildo também afirmou que ia “constantemente” ao Ministério da Saúde.
Renan Calheiros questionou Nonato sobre o motivo das operações financeiras em dinheiro vivo em Brasília, tendo em vista que em outros estados elas são feitas via transferência eletrônica. Nonato não detalhou os motivos.
“A nossa empresa é uma empresa familiar. A gente faz um cheque e vai ao banco para pagar. Nossa tesouraria não ficava guardando dinheiro. Isso aí foi para pagar as despesas da empresa, retiradas dos sócios. Acho que não tem nada de ilegal nisso”, declarou o sócio da VTCLog.
Calheiros: ‘Bolsonaro será indiciado’
Antes da sessão, o senador Renan Calheiros disse a jornalistas numa coletiva de imprensa que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) “certamente será indiciado” ao fim dos trabalhos da CPI. Declarou ainda que a comissão não irá “falar grosso na investigação e miar no relatório”.
O relator também afirmou que os relatórios serão entregues separadamente à PGR (Procuradoria-Geral da República), ao TCU (Tribunal de Contas da União) e aos Ministérios Públicos do Distrito Federal e dos estados.
Perguntado, Renan Calheiros confirmou que esta será a última semana de depoimentos na CPI e que o relatório final deve ficar pronto na 2ª quinzena de outubro.
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