Conselho de Segurança da ONU aprova resolução que endossa plano de Trump para Gaza
Entenda a relevância da iniciativa e alguns dos principais desafios para implementação da paz na região
O fato principal
O Conselho de Segurança da ONU aprovou uma resolução redigida pelos Estados Unidos que endossa o plano do presidente norte-americano Donald Trump para a paz na Faixa de Gaza. A proposta foi apoiada por 13 países. Rússia e China se abstiveram (ou seja, não votaram a favor nem contra).
Entre os principais pontos, a resolução:
- Autoriza a criação de uma ISF (Força Internacional de Estabilização) para atuar na Faixa de Gaza, com mandato inicial de 2 anos.
- Prevê a criação de um “Conselho de Paz” (“Board of Peace”), que funcionará como autoridade transitória para a governança de Gaza. O próprio Donald Trump presidiria esse conselho nos primeiros anos (*o período ainda não está suficientemente claro). A ideia é que esse órgão supervisione a reconstrução, a governança e a reconstrução institucional de Gaza.
- Abre uma possibilidade de “caminho para o Estado palestino”. Embora o texto mencione “autodeterminação” e “soberania”, esse caminho está condicionado a reformas na ANP (Autoridade Nacional Palestina) e progressos concretos em governança e reconstrução. Portanto, não há garantias neste momento de que um Estado palestino será efetivamente criado. A inclusão dessa linguagem pró-Estado da Palestina teria sido um “preço” que os Estados Unidos pagaram para conseguir o apoio de países árabes e muçulmanos.
Força Internacional de Estabilização
Entre as principais atribuições da ISF (Força Internacional de Estabilização) estariam: assegurar fronteiras, proteger civis, facilitar ajuda humanitária e supervisionar a desmilitarização de Gaza (incluindo o desarmamento de grupos armados como o Hamas).
Outros tópicos relativos à ISF:
- A ISF trabalharia “em conjunto com Israel e Egito”, segundo o plano de Trump.
- A ISF teria mandato legal via ONU para atuar em Gaza sob os termos da resolução.
- Relatórios semestrais de progresso (benchmark) devem ser apresentados ao Conselho de Segurança para avaliar se a desmilitarização e outras medidas são implementadas.
- A proposta também sugere que as forças israelenses se retirem de Gaza conforme a ISF assuma controle operacional.
Financiamento e reconstrução de Gaza
A reconstrução de Gaza, que foi completamente devastada após mais de 2 anos de bombardeios de Israel, dependeria de um fundo de reconstrução, que seria apoiado pelo Banco Mundial, segundo a resolução. O dinheiro seria usado para recuperar a infraestrutura local, promover ajuda humanitária e implementar a reconstrução econômica e social.
Repercussão
China e Rússia, que ocupam assentos permanentes no Conselho de Segurança da ONU, não se pronunciaram sobre a proposta. Foram os 2 únicos países a se abster na votação.
Outros 13 países do Conselho de Segurança –entre integrantes permanentes e temporários– aprovaram a resolução dos Estados Unidos, comemorada pelo presidente Donald Trump.
O Hamas rejeita o plano por considerar que a proposta impõe um “mecanismo de tutela internacional” sobre Gaza, especialmente por causa da desmilitarização. O grupo político-religioso diz que a ISF vai favorecer a ocupação do território palestino.
A ONU disse que a resolução é “um passo importante” para consolidar o cessar-fogo e dar uma base jurídica para a transição na Faixa de Gaza.
Ainda não está 100% claro quais países vão contribuir com tropas para a ISF nem como será a governança local ou se o plano de desarmamento completo do Hamas será de fato aceito.
Histórico
No dia 10 de outubro de 2025, quase 2 anos depois do início dos bombardeios israelenses, entrou em vigor um cessar-fogo instável na Faixa de Gaza.
A aprovação da resolução que endossa a proposta de Trump para Gaza levou semanas de negociações intensas no Conselho de Segurança.
Países árabes e muçulmanos pressionaram para que o texto incluísse referências mais fortes à autodeterminação palestina, o que forçou os EUA a fazer concessões para garantir o apoio necessário.
Por outro lado, Israel tem resistido a trechos da proposta, especialmente à ideia de um futuro Estado palestino.
O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, no dia seguinte a uma reunião presencial com Donald Trump na Casa Branca, sede do Poder Executivo dos Estados Unidos, declarou que, no que dependesse dele, o Estado Palestino jamais seria criado.
Após aquela reunião, Trump anunciou sua proposta de paz para a Faixa de Gaza ao lado de Netanyahu, pública e oficialmente. O premiê israelense parecia ter aceitado. A reação contrária no dia seguinte, portanto, levantou dúvidas sobre a credibilidade de suas promessas e o efetivo cumprimento da proposta de Trump.
Detalhes relevantes
O Conselho de Segurança da ONU raramente aprova resoluções tão diretamente alinhadas com planos específicos de presidentes dos Estados Unidos ou de grandes potências, como Rússia e China.
Isso porque os 5 países com assentos permanentes têm poder de veto. Ou seja, quando discordam de alguma proposta, podem vetá-la. Portanto, fazem uma disputa política de poder e influência global.
A abstenção de Rússia e China é significativa. Ambos poderiam vetar, mas escolheram não obstruir a resolução, o que pode indicar que, nesse momento, preferem permitir uma estrutura internacional de estabilização.
A adoção do plano de Trump a partir de uma resolução do Conselho da ONU dá legitimidade internacional maior à proposta.
A possível participação de países árabes na ISF também é um ponto importante de diplomacia: se vários países islâmicos se envolverem, incrementa-se um caráter regional do plano –em detrimento de uma iniciativa exclusiva dos Estados Unidos.
Autor
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