Cessar-fogo entre Israel e Hamas, explicado
Acordo não significa que guerra vá acabar e ainda precisa ser aprovado pelo governo israelense
Negociadores anunciaram na última quarta-feira (15.jan.2025) o fechamento de um acordo de cessar-fogo entre Israel 🇮🇱 e Hamas, que interromperia os bombardeios na Faixa de Gaza e potencialmente encerraria uma guerra que já dura 15 meses (desde 8 de outubro de 2023) e que intensificou outros conflitos no Oriente Médio. No entanto, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu anunciou nesta quinta-feira (16.jan) o adiamento da discussão que bateria o martelo sobre essa questão.
A palavra de um contra a do outro
Netanyahu disse que o Hamas, de última hora, mudou alguns termos que haviam sido acordados. Ele não especificou quais pontos seriam. Já os membros do Hamas negaram ter feito mudanças e afirmaram às agências de notícias Reuters e Associated Press que estão respeitando os termos anunciados pelos mediadores.
🍬 Foi como dar um doce e tirar da mão da pessoa presenteada.
Quando autoridades mundiais, como o presidente dos Estados Unidos 🇺🇸, Joe Biden, e o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, confirmaram o acordo, milhares de palestinos fizeram festa nas ruas de Gaza.
Um repórter palestino que atua desde o início na cobertura dos bombardeios israelenses fez uma transmissão ao vivo na qual tirava o colete à prova de balas enquanto anunciava a trégua definida pelas partes.
Ao redor do jornalista, dezenas de palestinos. Parecia uma cena daquelas em que o repórter vai à entrada de um estádio de futebol e é cercado por torcedores felizes, ávidos por aparecer na TV e ter seus 5 segundos de fama.
Nessa ocasião, era semelhante. Algumas pessoas vibravam, outras estavam aos prantos, emocionadas que as bombas iam parar de cair.
Não foi o que aconteceu.
Como "o jogo só acaba quando termina", o acordo não foi assinado, e os bombardeios continuaram no mesmo dia em que as pessoas festejavam nas ruas pela esperança de um período mais tranquilo. Ao menos 80 palestinos morreram.
Cessar-fogo é diferente de paz
Dificilmente o acordo de cessar-fogo será rejeitado. Existe muita pressão para que os termos sejam aceitos. Mas isso não quer dizer que haverá paz permanente na região.
Um cessar-fogo tem data de validade e prevê apenas o fim temporário dos bombardeios. O Exército de Israel 🇮🇱 terá que se retirar de algumas áreas, mas seguirá presente em outras tantas. A qualquer momento, tudo pode mudar.
Quais os termos principais do acordo de cessar-fogo?
O acordo de cessar-fogo entre Israel e Hamas inclui os seguintes termos principais:
1ª fase (6 semanas)
- Pausa nos bombardeios por 42 dias.
- Libertação de reféns israelenses (mulheres, crianças e homens acima de 50 anos).
- Israel libertará centenas de prisioneiros palestinos em troca.
- Retirada parcial das tropas israelenses de áreas povoadas de Gaza.
- Permissão para palestinos retornarem ao norte de Gaza.
2ª fase
- Libertação dos reféns israelenses restantes, incluindo soldados homens.
- Retirada adicional das forças israelenses de Gaza.
- Libertação de mais prisioneiros palestinos por Israel.
3ª fase
- Devolução dos corpos dos reféns falecidos.
- Início de um plano de reconstrução de Gaza supervisionado internacionalmente.
Outros pontos importantes:
- O acordo entrará em vigor no domingo, 19 de janeiro de 2025, se aprovado pelo gabinete israelense.
- Israel manterá presença militar na fronteira de Gaza com o Egito 🇪🇬, inicialmente.
☞ O acordo ainda precisa ser aprovado pelo gabinete israelense antes de entrar em vigor. É só o que falta.
Corrida para capitalizar politicamente nos EUA
Parte relevante da pressão para que o acordo de cessar-fogo entre Israel 🇮🇱 e Hamas seja firmado vem dos Estados Unidos 🇺🇸 neste momento, o mesmo país que anteriormente impediu que resoluções de cessar-fogo fossem aprovadas no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas).
O fato novo: o presidente eleito Donald Trump está próximo de tomar posse, evento marcado para segunda-feira (20.jan). No entanto, ainda estamos sob o governo do presidente Joe Biden. Os 2 correram para capitalizar em cima do anúncio de cessar-fogo, tentando colher os louros da vitória pela ocasião.
Como Gaza está agora?
Gaza não tem mais absolutamente nada. Não tem mais sistema de esgoto. Já era precário antigamente. Agora, não há. As casas são ruínas. Estima-se que até 60 mil pessoas tenham morrido, sendo a maioria mulheres e crianças. Tudo destruído: estradas, escolas, hospitais, infraestrutura.
O que vai mudar é que as pessoas vão parar de morrer pela guerra e a ajuda humanitária, que foi impedida de atuar em diversas ocasiões pelo governo de Israel, vai poder entrar no território com mais facilidade.
Gaza é uma das regiões mais populosas do planeta, mas as pessoas não têm onde morar, as crianças não têm onde estudar, os idosos não têm onde se tratar.
Às vezes, nos falta estômago
Enquanto escrevíamos esta edição do Correio Sabiá na noite de quinta-feira (16), um comentarista de uma grande emissora ganhou vários minutos no ar, tempo usado para passar pano para o etnocídio de mais de 50 mil palestinos, sendo a maioria mulheres e crianças. Em momento algum, mencionou essas vidas perdidas.
Numa ocasião, disseminou fake news. Segundo ele, a fronteira de Gaza com o Egito 🇪🇬 sempre esteve aberta, e o suprimento humanitário podia passar por lá. O problema, de acordo com esse mesmo comentarista, é que a distribuição dos alimentos estava sendo mal-feita.
Como essa pessoa nem sequer foi contestada, decidimos fazer o fact-checking: as informações prestadas por esse cidadão são falsas. ❌ O Exército de Israel 🇮🇱 impediu por diversas vezes a entrada de suprimentos, como foi amplamente reportado por todo tipo de organização internacional.
Sobre a distribuição "mal-feita", nós devolvemos com uma pergunta: como ele queria que fosse feita a entrega de comida num território em que as pessoas estão famintas em meio às bombas, muitas vezes mutiladas e sem seus parentes? Gaza está em ruínas. Por acaso esse cidadão queria que fosse feita uma fila organizada? A situação é tão dramática que dezenas de palestinos morreram pisoteados ao tentar acessar alimentos quando foram entregues.
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