Artigo: 'Conflito entre Jihad Islâmica e Israel difere daqueles com o Hamas'
Artigo: ‘Conflito entre Jihad Islâmica e Israel é diferente daqueles com o Hamas’, escreve Henry Galsky
Jihad Islâmica Palestina atua sob diretrizes do Irã, enquanto o Hamas está baseado na Faixa de Gaza
*Por Henry Galsky, de Israel
A rodada de enfrentamento que começou na semana passada e se encerrou há pouco entre Israel e a Jihad Islâmica Palestina (PIJ) guarda semelhança com os outros confrontos entre Israel e o Hamas ocorridos entre o exército e de Israel e o grupo estabelecido na Faixa de Gaza. No entanto, há também diferenças relevantes: ao contrário dos demais conflitos de (relativa) curta duração com o Hamas, este foi um enfrentamento entre Israel e a Jihad Islâmica Palestina (PIJ), grupo menor que o Hamas e cuja liderança não está na Faixa de Gaza: o comandante do grupo, Ziad Nakhaleh, está em Teerã (capital do Irã).
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Esse é um ponto importante desta análise, porque, de forma mais ou menos direta, é possível dizer que se tratou de um “enfrentamento por procuração” entre Israel e o Irã, lembrando sempre que este é um momento de impasse em torno das negociações sobre o programa nuclear iraniano e sua tentativa de conseguir obter arsenal nuclear –objetivo negado pelas autoridades iranianas ao longo deste século, mas cuja retórica tem mudado recentemente. O Irã já não faz muita questão de esconder seus objetivos com o programa nuclear.
O confronto entre Israel e a Jihad Islâmica Palestina pode ser entendido como resultado de uma escalada dos acontecimentos militares no conflito israelense-palestino após a prisão de Bassem Saadi, um dos líderes do grupo na Cisjordânia. De acordo com o serviço de segurança interno de Israel, Shin Bet, Bassem Saadi buscava estabelecer uma força militar significativa da PIJ na Cisjordânia.
Depois da prisão de Saadi, as autoridades israelenses diziam ter obtido informações de que a PIJ estava prestes a realizar atos de vingança relevantes, o que levou ao governo de Israel a uma espécie de autofechamento da região sul, chegando a impor bloqueios nas estradas e interrupção total da circulação dos trens. Isto irritou a população israelense que vive nessa parte do país.
Lembrando: os palestinos vivem em 2 territórios distintos:
- a Faixa de Gaza sob comando do Hamas; e
- a Cisjordânia, sob governo da Autoridade Palestina (AP), entidade reconhecida pela comunidade internacional como o governo oficial palestino.
A Jihad Islâmica Palestina, neste caso, é uma nova entidade no jogo geopolítico, o que também é algo relevante 1) no cenário regional, de forma mais ampla e 2) no conflito entre israelenses e palestinos, em particular.
Desde que tomou a Faixa de Gaza e expulsou a Autoridade Palestina do território em 2007, o Hamas mantém a retórica terrorista que prega a destruição de Israel, mas (e este “mas” é muito importante) assumiu o papel prático de governo em Gaza.
Portanto, além de seu braço armado, o Hamas funciona também como uma entidade que lida com decisões burocráticas e de Estado em todas as suas complexidades.
Já a Jihad Islâmica é apenas um grupo armado com igual retórica e prática terroristas, mas que não pretende assumir (ao menos por enquanto) qualquer papel burocrático ou institucional, além da luta armada contra Israel.
Essa diferença fundamental estabelece também as dúvidas sobre o conflito de curta duração que acaba de (aparentemente) se encerrar e também sobre os próximos que provavelmente virão.
O Hamas controla a Faixa de Gaza, mas tem dificuldades de manter a Jihad Islâmica (PIJ) sob suas determinações. De fato, a PIJ é um grupo rival ao Hamas. O Hamas, desta vez, se manteve distante do enfrentamento, dando voz apenas à retórica contra Israel. Assim, há duas grandes questões que se apresentam:
- Como e quando estará pronto para um próximo confronto, uma vez que ainda se recupera dos danos estruturais sofridos em maio do ano passado?
- E quais serão as consequências internas na Faixa de Gaza sob o ponto de vista de liderança a partir do momento em que a PIJ se apresenta individualmente para um confronto com Israel?
Pode não parecer, mas esta rodada de curta duração pode ter grande importância nos destinos não apenas do conflito israelense-palestino, mas também na configuração regional. Passou despercebido em muitas análises, mas é evidente que as forças israelenses têm mapeado a ascensão da Jihad Islâmica na Cisjordânia por uma razão simples: é uma força militar que segue diretrizes a partir do Irã e recebe recursos da mesma origem.
Já em Gaza, o cenário é bastante conhecido. Mesmo sob o governo do Hamas, Israel conseguiu estabelecer uma dinâmica de atuação frente ao grupo e de relativa manutenção do status quo. (Aliás, isso prejudica com frequência a população do sul do país –é importante dizer.) No entanto, o mesmo não se aplicaria para uma eventual configuração em que a Jihad Islâmica, sob as diretrizes do Irã, estaria baseada na Cisjordânia.
A Cisjordânia faz fronteira com a parte central e norte de Israel. A região central abriga a maior parte da população e é justamente aí que estão as duas maiores cidades do país: Jerusalém e Tel Aviv. A 3ª maior cidade é Haifa, ao norte, que também estaria sob a mira da Jihad Islâmica.
Esse é o problema da vez de Israel e, provavelmente por isso, o alerta das autoridades chegou ao ponto mais alto. Impedir que a Jihad Islâmica (sob as diretrizes do Irã) se estabeleça na Cisjordânia é certamente a prioridade do governo israelense.
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