📉 Entenda o que é deflação e quais os seus efeitos

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Entenda o que é deflação e quais os seus efeitos

Assim como em julho de 2022, IPCA de junho de 2023 mostrou queda geral dos preços (ou seja, deflação)
Foto: engin akyurt/Unsplash
Transportes puxou inflação de julho de 2022 para baixo, com queda geral de preços de 4,51% / ? engin akyurt/Unsplash
*Assobio: Este é mais um conteúdo de contexto do Correio Sabiá para que você realmente entenda o noticiário. A publicação original ocorreu no dia 10 de agosto de 2022, às 14h08. No entanto, fizemos atualizações para te manter bem informada/o.

inflação oficial de junho de 2023 foi, na verdade, uma deflação: -0,08%, como apontou o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), medido pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Ou seja, ao invés de haver aumento geral dos preços, houve redução geral dos preços em junho de 2023. 

  • Contexto. Neste caso, a deflação fez aumentar a pressão por uma redução no patamar de 13,75% ao ano da taxa básica de juros (Selic) na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária). ??

Mesma situação deflacionária ocorreu, por exemplo, em julho de 2022, quando houve variação negativa nos valores praticados no Brasil: -0,68%. Por isso, neste artigo, vamos explicar tudo o que você precisa saber sobre deflação para que realmente entenda o noticiário.

O que é deflação

Enquanto a inflação é a alta dos preços (quando aumentam de valor), a deflação é a queda dos preços (quando diminuem de valor).

Portanto, a deflação é como se fosse uma inflação ao contrário. Trata-se da redução de valores de produtos e serviços durante um período de tempo. 

O que causa a deflação

Como a deflação é a queda geral dos preços, para entender o que causa deflação, é necessário entender o que faz os preços diminuírem. Vamos lá:

Enquanto o mercado está aquecido e há consumidores comprando determinado produto ou serviço, os valores desses itens tendem a subir.

No entanto, se não há pessoas suficientes comprando esses produtos e serviços, os valores tendem a cair até que o preço chegue a um ponto em que os itens voltem a ser consumidos.

Por isso, um dos fatores que podem levar a um cenário de deflação é uma crise econômica. Com menos poder aquisitivo, a população para ou reduz seu consumo. Assim, força os preços a serem também reduzidos.

A redução dos preços, nesse contexto, é uma forma dos comerciantes e prestadores de serviços tentarem restabelecer as vendas.

A deflação também pode ser causada de maneira mais “artificial”. Exemplo: se estiver insatisfeito com o valor de um determinado produto ou serviço, o governo pode oferecer subsídios para segurar os preços ou até forçar sua redução.

Medidas estruturais na economia, por meio de legislações ou modificações no recolhimento de tributos, também podem causar a redução dos preços e criar um cenário deflacionário, ou seja, de deflação.

Foto: Tim Mossholder/Unsplash
IPCA de julho refletiu sucessivas reduções no valor da gasolina

IPCA: deflação de 0,68% em julho de 2022 

Nos meses que antecederam este resultado, os governos federal e estaduais, junto com o Congresso Nacional e com a Petrobras, promoveram uma série de medidas voltadas aos valores dos combustíveis no país.

O Congresso aprovou redução da alíquota do ICMS dos combustíveis, com compensação financeira dos eventuais prejuízos de arrecadação pela União.

Em julho, a Petrobras promoveu duas reduções em 10 dias no valor da gasolina nas distribuidoras. Somando as duas (R$ 0,35), a queda do valor de venda nas refinarias foi de R$ 4,06 para R$ 3,71.

Os estados, ao longo de meses, promoveram congelamento da alíquota do ICMS, vedando eventuais aumentos.

Todas essas medidas fizeram o valor médio da gasolina no país, por exemplo, cair de R$ 7,13 no fim de junho para R$ 5,84 no início de agosto.

Não à toa, o grupo de Transportes teve deflação de 4,51% no IPCA de julho. Ou seja, a variação foi negativa: -4,51%. Este grupo foi o maior responsável pela queda geral dos preços no país em julho. 

De um total de 9 grupos aferidos no IPCA, apenas 2 tiveram reduções gerais de valor. Um deles, Transportes. O outro, Habitação (-1,05%).

Trata-se de um caso em que o conjunto de medidas econômicas adotadas criou um cenário deflacionário.

Foto: Lemon Pepper Pictures/Unsplash
Pontualmente, a deflação pode ser desejável. No entanto, um cenário permanentemente deflacionário mostra uma economia em recessão, com perda do poder de compra da sua população

É bom ter deflação?

A resposta para essa pergunta é: depende. Pontualmente, a deflação pode ser bem-vinda para a economia, como no caso atual do Brasil. 

No período de 12 meses acumulados até junho, a inflação no Brasil era de 11,89%. Portanto, uma inflação elevada. 

Considerando-se apenas os 6 meses de 2022 até junho, a inflação brasileira já era de 5,45%, acima do limite máximo definido como aceitável pelo Banco Central para o ano todo, de 5%. 

Dessa forma, uma redução geral dos preços era desejável para manter o poder de compra da população.

Ainda é necessário considerar que, para conter o cenário inflacionário, o Banco Central aumentou por 12 vezes seguidas a taxa básica de juros, a Selic, definida em 13,75% ao ano na primeira semana de agosto. 

O aumento da taxa básica de juros tem um objetivo: estimular as pessoas a não gastarem dinheiro, criando um ambiente favorável ao rendimento dos investimentos. 

A retirada de dinheiro de circulação > faz as pessoas pouparem mais e gastarem menos > faz produtos e serviços terem reduções de preços, com objetivo de recuperar as vendas > em busca de um novo preço (inferior) que faça as pessoas voltarem a achar vantajoso consumir.

Em tese, é assim que funciona.

Por isso, diante de um cenário de inflação elevada e taxa de juros igualmente elevada, uma deflação também tem potencial de abrir caminho para uma redução dessa taxa de juros, o que também é desejável.

Por que deflação pode ser ruim?

Por outro lado, um cenário persistente de deflação mostra uma economia em recessão e pode criar um ciclo vicioso de diminuição de renda e desemprego. 

Imagine a seguinte situação (inversa daquela que explicamos sobre aumento da taxa de juros): numa tentativa de estimular as pessoas a consumir, o Banco Central reduz a taxa de juros > mesmo assim, persiste um cenário deflacionário, com redução dos preços > o Banco Central torna a reduzir a taxa e, novamente, não tem sucesso.

É possível que, assim, chegue-se a um ponto em que não haja mais margem de manobra na taxa de juros (0%) para controlar a atividade econômica. O Banco Central fica sem instrumentos para fazer política monetária, em outras palavras.

A persistência desse quadro deflacionário dificulta, primeiro, que empregadores abram novas vagas de emprego; depois, que mantenham as vagas existentes.

A deflação, portanto, pode levar ao empobrecimento da população, ao desemprego e à diminuição da renda, de forma geral. A quantidade de empresas diminui sem consumidores que consigam comprar seus produtos e serviços.

Por isso, da mesma maneira, é possível dizer que um cenário controlado de inflação é desejável para a população de um país, porque mostra que ela está com crescimento de emprego e renda; com dinheiro para consumir, gerando mais riquezas para as pessoas sem que os preços fiquem exorbitantes.


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