Artigo: ‘A posição de Israel sobre guerra na Ucrânia‘

Artigo: ‘A posição de Israel sobre guerra na Ucrânia‘
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Artigo: ‘Posição de Israel sobre guerra na Ucrânia‘, escreve Henry Galsky

Sob o ponto de vista israelense, a guerra na Ucrânia é capaz de alterar um frágil equilíbrio em muitas frentes
Ucranianos em Londres / Foto: Ehimetalor Akhere Unuabona/Unsplash
Ucranianos protestam em Londres / Foto: Ehimetalor Akhere Unuabona/Unsplash
*Por Henry Galsky, de Israel

Durante a invasão russa à Ucrânia, Israel tem optado por certa neutralidade. No entanto, é possível que o país passe a atuar de forma mais relevante. Em conversa telefônica com Naftali Bennett, o primeiro-ministro de Israel, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, solicitou ao governo israelense que atue como mediador nas conversações entre Rússia e Ucrânia, podendo inclusive sediar, em Jerusalém, um encontro entre as partes.

A informação foi publicada pela 1ª vez pelo canal Kan, de Israel. Posteriormente, foi confirmada ao New York Times por Yevgen Korniychuk, embaixador ucraniano em Israel, e também por um oficial israelense.

Ao New York Times, Korniychuk disse que o governo ucraniano “acredita que Israel seja o único país democrático no mundo que mantenha ótimas relações com a Ucrânia e a Rússia”. O primeiro-ministro Bennett ainda não teria respondido ao pedido.

Desde o aumento das tensões e o início do conflito, Israel tem procurado se manter distante. Na conversa com o presidente Zelensky, Bennett ofereceu ajuda humanitária à Ucrânia e disse esperar que a guerra termine logo. No comunicado oficial emitido pelo gabinete do primeiro-ministro, há a preocupação de não mencionar a Rússia ou condenar as ações do país.

No entanto, o número dois do governo de Israel e ministro das Relações Exteriores, Yair Lapid, seguiu uma linha distinta ao definir a invasão como “uma grave violação da ordem internacional”. Na frágil e diversa coalizão israelense, caso o governo consiga manter a maioria mínima que o sustenta no Knesset, o parlamento israelense, Lapid assumirá o cargo de Bennett e passará a primeiro-ministro em 27 de agosto de 2023. Portanto, suas declarações têm muito peso.

Em função disso, o governo russo convocou o embaixador israelense no país, Alexander Ben Zvi, a prestar esclarecimentos. Segundo o Canal 12 de Israel e o portal Ynet, o vice-ministro das Relações Exteriores, Mikhail Bogdanov, teria perguntado a Ben Zvi por que razões os israelenses estavam “expressando apoio aos ‘nazistas’ na Ucrânia”. A narrativa em torno da “desnazificação” do país vizinho tem sido usada com frequência por Moscou. Ao mesmo tempo, como escrevi por aqui no texto anterior, a comparação entre Putin e Hitler foi feita de forma oficial pelo governo ucraniano logo na sequência da invasão russa. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, é judeu.

A posição de neutralidade em relação ao atual conflito na Ucrânia está relacionada também às questões do Oriente Médio. Desde 2015, as forças armadas russas passaram a atuar na Guerra Civil Síria de forma a manter o presidente sírio Bashar al-Assad no poder. E Israel realiza constantes ataques aéros sobre bases iranianas e depósitos de armamentos do Irã e de aliados ao regime iraniano em território sírio.

Apesar do apoio de Moscou a Assad, Israel tem conseguido realizar esses ataques com a anuência russa. Portanto, para os interesses israelenses no Oriente Médio -especialmente o foco principal de Israel, ou seja, evitar o estabelecimento iraniano ao longo da fronteira norte do Estado judeu-, é fundamental manter esta relação pragmática e o canal de comunicação com os russos.

Também como tenho escrito com frequência, a Rússia é hoje a principal potência internacional estabelecida no Oriente Médio. Putin é o único líder global que mantém diálogo aberto com todas as partes envolvidas na região: inclusive, mas não apenas, israelenses, sírios, libaneses, palestinos e iranianos, por exemplo.

Sob o ponto de vista israelense, a guerra na Ucrânia é um problema grande porque é capaz de alterar um frágil equilíbrio em muitas frentes: a das ações que realiza na Síria, a frágil coalizão governamental estabelecida no Knesset, as relações com os norte-americanos e até a sociedade civil israelense. Esses últimos dois aspectos serão abordados no próximo texto.

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