Artigo: ‘Olhar inicial sobre a invasão à Ucrânia‘

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, determinou invasão da Ucrânia / Foto: Valery Tenevoy/Unsplash
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Artigo: ‘Um olhar inicial sobre a invasão à Ucrânia‘, escreve Henry Galsky

Mudança de regime é um dos objetivos da Rússia, que conta com o distanciamento da Otan in loco
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, determinou invasão da Ucrânia / Foto: Valery Tenevoy/Unsplash
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, determinou invasão da Ucrânia / Foto: Valery Tenevoy/Unsplash
*Por Henry Galsky, de Israel

Se a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) de fato quiser conter militarmente a invasão russa à Ucrânia, é possível obter um caminho legal para justificar e mobilizar as forças da aliança: o artigo 4º da carta da Otan estabelece que “as partes vão se reunir sempre que, na opinião de um deles, a integralidade territorial, independência política e segurança dos países-membros estiver ameaçada”.

Estados que hoje integram a Otan como Polônia, Estônia, Letônia e Lituânia levantaram essa possibilidade. Não por acaso, diga-se de passagem, 3 ex-membros da ex-União Soviética (a Polônia era parte da esfera soviética, mas não parte da União Soviética) foram os primeiros a interpretar a situação a partir do próprio passado. A invasão à Ucrânia acende o alerta por razões óbvias.

E, vale lembrar, esses países aderiram à aliança militar ocidental em boa medida como contraponto à Rússia e à visão de Moscou sobre o antigo bloco soviético. Este é um jogo mais amplo que tem a ver com “retroalimentação” -o fortalecimento da Otan é interpretado como ameaça e provocação pelos russos que, por sua vez, ainda consideram a chamada “esfera de influência” sobre os antigos membros do bloco soviético. Que, por sua vez, temem as ambições imperiais russas e, muito em função disso, aderiram à Otan. E assim sucessivamente, como a situação atual deixa evidente.

No entanto, neste momento, não há sinais de que, para além da Ucrânia, os russos planejam a invasão de outros territórios. Mas, como disse, nada é garantido. A conta oficial do governo da Ucrânia no Twitter publicou inclusive uma charge mostrando um Hitler sorridente acariciando um pequeno Putin, como se estivesse orgulhoso de seu “pupilo”.

A ideia aqui é lembrar a estratégia adotada pelas potências da Europa ocidental antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial, quando Hitler anexou sucessivos territórios (a Áustria, e a região dos Sudetos, na então Tchecoslováquia) e, ainda assim, assinou acordos com França e Grã-Bretanha –a estratégia de apaziguamento à Alemanha nazista que, como se sabe, se mostrou infrutífera. A Ucrânia neste momento apela por ajuda internacional. E um dos argumentos que tem para conseguir algo além de sanções sobre a Rússia é buscar o exemplo histórico. Não se sabe se será suficiente para convencer a Otan.

Nesta guerra de narrativas, a Rússia também anunciou suas próprias razões para levar adiante a invasão à Ucrânia. Vladimir Putin disse que a operação militar tinha como objetivo “desmilitarizar” o país vizinho. Além disso, afirmou que a Otan estava ameaçando a própria existência da Rússia. O discurso do presidente russo não permite a compreensão quanto a suas intenções mais amplas. Ou seja, neste caso, se pretende ocupar (e por quanto tempo) a Ucrânia, qual a duração da ofensiva ou mesmo se toda a Ucrânia terá o destino da Crimeia, parte do território do país anexado pelos russos em 2014.

No entanto, já é possível imaginar com alguma clareza que a operação russa terá como um dos desfechos (não se sabe quando) a chamada “mudança de regime”. E neste ponto já se pode dizer que o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, corre risco. E não apenas de perder o cargo –porque se a ofensiva russa prosseguir isso irá acontecer.

A guerra atual é também uma demonstração de força de Putin com objetivos distintos: o 1º deles, obter as garantias de que a Otan não continuará a se expandir sobre o que considera sua “área de influência”. O 2º é uma aposta; a de que a Otan não irá interferir no conflito. Mas aqui reside o aspecto fundamental de todo este quadro; sem o envolvimento da aliança ocidental, Putin não deve ter muitas dificuldades para controlar o território ucraniano. O que não se sabe, no entanto, é o que ele pretende fazer caso a Otan se envolva no conflito. Porque aí, nesta situação, a Rússia se envolveria numa guerra regional mais ampla cujo desfecho ela não tem como controlar.

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